Por que houve ampliação da produção da energia eólica no Brasil

De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), a capacidade instalada no país chegou à marca de 16 GW no primeiro semestre de 2020. 

A energia eólica já é a segunda maior fonte da matriz energética brasileira. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), a capacidade instalada no país chegou à marca de 16 GW no primeiro semestre de 2020.  São 637 parques eólicos e 7.738 aerogeradores.

Em 2019, a indústria eólica investiu R$ 13,6 bilhões no Brasil, dados da Bloomberg New Energy Finance (BNEF). A infraestrutura gerou 55,9 TWh de energia, 15% a mais em relação a 2018.

Na média mensal, é o suficiente para abastecer 28,8 milhões de residências por mês em 12 estados. Isso equivale a uma população de 86,3 milhões de pessoas, considerando três habitantes por casa.

O que é a energia eólica

A energia eólica é produzida a partir das massas de ar em movimento, ou seja, o vento. É aproveitada por meio da conversão da energia cinética de translação em energia cinética de rotação.

Vantagens da energia eólica

Os benefícios socioeconômicos e ambientais da energia eólica vêm do fato dela ser renovável e causar baixo impacto nos locais da sua instalação e operação.

Como parques eólicos não emitem CO2, somente em 2019, foram evitadas as emissões de 22,85 milhões de toneladas de gás carbônico. Segundo a ABEEólica, o montante equivale à emissão anual de cerca de 21,7 milhões de automóveis.

Além disso, gera renda e melhoria de vida para proprietários de terra com o pagamento de arrendamentos, que são tributados, para colocação das mais de 7 mil torres em operação.

A produção coexiste com outras atividades e permite que o proprietário da terra siga com plantações ou criação de animais. Desta forma, também auxilia na permanência no campo e na capacitação de mão de obra local.

Setor em expansão no Brasil

A matriz elétrica brasileira é formada por hidrelétrica (59,6%), eólica (9,3%), biomassa (8,7%), gás natural (8,6%), petróleo (5,2%), PCH e CGH (3,5%), carvão (2,1%), fotovoltaica (1,7%) e nuclear (1,2%).

Este balanço reúne dados da ABEEólica e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de junho de 2020.

O desenvolvimento da indústria eólica no Brasil pode ser explicado pela qualidade dos ventos brasileiros. São estáveis, com a intensidade certa e sem mudanças bruscas de velocidade ou de direção. 

Possuem fator de capacidade - dado que mede a produtividade dos ventos - acima da média mundial. Em 2019, o fator de capacidade médio mundial foi de 34%; no Brasil foi de 42,7%. Durante a “safra dos ventos”, período de junho até o final do ano, houve mês com média de 59%.

Com cada vez mais parques eólicos operando, em 2020, o Brasil chegou à 7ª posição no Ranking Mundial do Global Wind Energy Council (GWEC). A estimativa do setor é de que o país terá cerca de 24,2 GW de capacidade instalada até 2024, considerando leilões já realizados e contratos firmados no mercado livre.

Em entrevista ao site oficial da Associação, a presidente Executiva da ABEEólica, Elbia Gannoum, analisou como a pandemia da Covid-19 afetou o setor.

“É claro que haverá um impacto, porque a queda de demanda foi grande e isso deve impactar os próximos leilões do mercado regulado, mas ainda acho cedo para falar em números deste impacto, porque o mercado livre se movimenta rápido e tem crescido muito”. 

Conforme o Boletim Anual de Geração Eólica de 2019, considerando representatividade e abastecimento, a geração por fonte eólica foi responsável por 9,71% - atingindo 14,17% no pico da safra dos ventos, em agosto - na média de toda a geração injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN).

Na tabela abaixo, estão os estados que mais se destacam nesta geração.

Estados com maior geração em 2019Estados com maior fator de capacidade médio em 2019Bahia (16,83 TWh)Maranhão (49,7%)Rio Grande do Norte (14,09 TWh)Bahia (49,1%)Piauí (6,34 TWh)Pernambuco (47,1%)Ceará (6,02 TWh)Piauí (44%)Rio Grande do Sul (5,26 TWh)Rio Grande do Norte (39,6%)

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo médio residencial no Brasil, no ano de 2019, foi de 162 kWh por mês. Representou crescimento de 12,6% em relação ao ano anterior, quando a energia eólica abasteceu 76,7 milhões de pessoas.

Em 2015, o WWF-Brasil (World Wide Fund for Nature) publicou o estudo “Desafios e Oportunidades para a Energia Eólica no Brasil”. O documento aponta que a energia eólica é a fonte que mais tem crescido no País. E as condições naturais adequadas – com ventos constantes, intensos e estáveis quanto à direção, que aumentam a eficiência e a capacidade de geração – e o fato de grande parte da cadeia produtiva já ser nacionalizada sugerem um futuro ainda mais promissor para a geração eólica.

Mas somente condições favoráveis não bastam para o crescimento do uso deste tipo de energia. Há ainda uma série de desafios a serem vencidos para a melhoria de itens que vão desde a infraestrutura de acesso aos parques até o aperfeiçoamento de diversos aspectos regulatórios.

A seguir, os principais desafios identificados pelo estudo:

1 – Cadeia de suprimentos
A cadeia de suprimentos ainda se ressente da falta de regularidade nas contratações. Hoje há gaps significativos nas “novas contratações” em alguns anos (como 2012, em que houve um volume baixo de novas contratações), seguidos de forte concentração de novos contratos em outros anos (como em 2013), o que tem prejudicado o planejamento. Não tem havido escalonamento nas datas de entrada em operação de usinas leiloadas num mesmo ano com excesso de unidades que precisam entrar em operação nos meses de janeiro de cada ano. Com isso, os pedidos chegam ao mesmo tempo aos elos anteriores da cadeia de suprimento, prejudicando a capacidade de atendimento da demanda. Ou geram períodos de ociosidade em que não há pedidos suficientes nas fábricas de boa parte dos fornecedores de insumos ou equipamentos.

2 – Gargalos específicos
Há também gargalos em alguns segmentos da cadeia de suprimentos, como em chapas especiais de aço, fibras de vidro e resina epóxi para pás e materiais forjados de aço para rolamentos e outros componentes da nacele, que abriga o equipamento de geração. Pressões de preço ao longo do período de construção ou indisponibilidade de alguns materiais vêm dificultando o plano de trabalho e de entrega de alguns fabricantes, que têm seus preços fixados junto aos empreendedores. É preciso identificar esses casos e buscar arbitrar alguns procedimentos para dar fluidez à cadeia produtiva.

3 – Geração e transmissão de energia
Casos de atraso no licenciamento e na construção de linhas de transmissão têm ilhado alguns parques, que não conseguem despachar sua energia na rede. Além disso, o risco de transmissão foi transferido para o empreendedor eólico, que passou a não contar mais com a cláusula dos contratos que antes o eximia desse problema. Neste caso, é preciso assegurar que as linhas de transmissão sejam feitas com a antecedência necessária, e não transferir a responsabilidade para os empreendedores eólicos, que não possuem gerência sobre a instalação das linhas de transmissão e que tendem a perceber este risco como demasiadamente elevado.

Por que houve ampliação da produção da energia eólica no Brasil

4 – Logística complexa
Outro fator crítico diz respeito a problemas de logística ao longo do trajeto entre a fábrica de equipamentos e insumos e os parques eólicos. As condições são precárias em diversos trechos, incluindo estradas federais de grande porte e, principalmente, trechos vicinais no interior das áreas de construção dos parques. Esses fatores dificultam o transporte de peças e equipamentos por se tratarem de cargas especiais de grande proporção e com formas não convencionais, haja vista o tamanho das torres e pás dos aerogeradores. Também há excesso de regras envolvendo o deslocamento desses veículos. É necessário ter escolta pública, mas falta contingente da polícia federal para isso. E diferentes agentes e instituições, federais e estaduais, precisam interagir para autorizar e gerenciar essa modalidade de transporte. A ausência de áreas de descanso e manobra para esses veículos também prejudica a fluidez e eleva seu custo final. A excessiva dependência de rodovias para o transporte dessas cargas encarece o frete.

5 – Incentivos fiscais
Descontinuidades e mudanças em alguns programas de incentivos fiscais voltados para o setor (a exemplo do Convênio ICMS 101, que isenta do ICMS os equipamentos utilizados na geração de energia eólica e solar e que solicitou prorrogação recentemente; ou do REIDI, que excluiu diversos itens da regra de isenção do PISCofins e há pouco voltou a incluir apenas parte do conjunto de equipamentos antes desonerados) criam desequilíbrios e incertezas desnecessárias, que tendem a afugentar investidores. O setor trabalha com horizontes de investimento de longo prazo, e para ele é importante que haja um sinal inequívoco de que há intenção de incentivar essa indústria de forma sustentável e de longo prazo. Isso ajudaria a atrair mais participantes e aumentar seu envolvimento com a cadeia produtiva.