Que estratégias podem ser mobilizadas como superar os desafios

Que estratégias podem ser mobilizadas como superar os desafios

Autor: Sarah Fernandes e edição Rosi Rico

Que estratégias podem ser mobilizadas como superar os desafios
BNCC demanda a incorporação de mudanças nos vários âmbitos da escola. Ilustração: Rira Mayumi/Nova Escola

As dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são um conjunto de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que buscam promover o desenvolvimento dos estudantes em todas as suas dimensões: intelectual, física, social, emocional e cultural. Mas, para o aluno ser capaz de exercer plenamente todas elas, não bastam práticas em sala de aula. Elas demandam a incorporação de mudanças nos vários âmbitos da escola.

Gestão, formação de professores, processos de avaliação e o próprio projeto político-pedagógico (PPP) são pontos que deverão ser repensados para que tudo esteja alinhado com os princípios da BNCC. A autonomia, por exemplo, é uma capacidade em destaque no documento, então, necessita ser vivenciada também no cotidiano escolar. “Estudos internacionais mostram que o estudante que desenvolve criatividade, cooperação, autoconhecimento e resiliência está mais preparado para construir relacionamentos, continuar estudando, ter renda estável e cuidar da sua saúde,” afirma Simone André, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna. 

Confira 11 dicas para professores e gestores incorporar as mudanças ao seu dia a dia.

1. Olhe para si mesmo e reflita sobre suas próprias práticas

Para trabalhar com as competências gerais, o professor terá que desenvolvê-las em si mesmo, além de rever posturas, atitudes e comportamentos para que possa ensinar pelo exemplo. Também necessita refletir sobre quais aspectos de sua disciplina contribuem para o desenvolvimento dessas dez competências e incluí-los, com intencionalidade, no planejamento das aulas. Isso não deve ser feito de maneira isolada.

2. Elabore um plano de capacitação de professores

A parceria com a coordenação pedagógica e com os demais docentes é fundamental para que possa trabalhar de forma complementar e reavaliar conjuntamente suas práticas pedagógicas. É importante que escolas e redes de ensino elaborem um plano de capacitação com formatos diversificados. “A formação fora da escola, com especialistas, é um modelo importante, mas ele precisa ser completado por outro horizontal, onde os professores troquem conhecimento entre si”, diz Simone.

3.Troque experiências entre seus pares

Uma sugestão é o docente assistir a aula do colega e dar a ele um parecer. Outra opção é ter nas escolas um professor-coordenador por área de conhecimento que sirva de apoio aos demais. Os dois tipos demandam maturidade e abertura para receber e fazer críticas e sugestões, o que acaba sendo um exercício coerente para quem precisará estimular o mesmo entre crianças e jovens.

“O professor é mentor, mediador e facilitador dos estudantes no desenvolvimento das competências. Ele entra no lugar de parceiro do aluno e para isso tem que ser suportado por formação e materiais de apoio. Como vai seguir as competências que valorizam cooperação, criatividade, orientação de projetos de vida se não praticar isso na escola?”, questiona Simone.

4. Na gestão escolar, dê espaço para a democracia

Na gestão escolar, diretores e coordenadores pedagógicos necessitam analisar e debater o que, dentro da instituição, já colabora para desenvolver as competências gerais e o que terá de ser modificado – tanto em termos de infraestrutura quanto de cultura, práticas e projetos.

Uma das competências prevê, por exemplo, a utilização de tecnologia em todos os componentes curriculares. A escola está preparada? Se não estiver, cabe ao diretor verificar os caminhos para tornar isso possível. “Os banheiros estão limpos e os brinquedos e espaços bem cuidados? Isso também é importante quando falamos de respeito”, diz Tereza Perez, diretora-presidente da Comunidade Educativa Cedac, mencionando outro valor exigido.

5. Assuma seu papel de liderança pedagógica 

O gestor que está mais voltado para questões administrativas terá de assumir com ênfase seu papel de liderança pedagógica, afinal a Base propõe um modelo de ensino no qual o estudante tem grande protagonismo e o clima escolar e as relações humanas merecem atenção especial. 

6. Aposte nos espaços de convivência

Nessa perspectiva, espaços de convivência ganham relevância, o que não combina com salas de leitura, bibliotecas e laboratórios fechados. “Muitas vezes, colocar isso em funcionamento não exige grandes investimentos em infraestrutura, mas sim ajustes em limpeza e manutenção”, diz Simone. Será necessário criar espaços de diálogo e debate de ideias, construir um ambiente acolhedor – como a instituição de ensino trabalha para combater preconceitos e evitar a violência? – e estabelecer mediação de conflitos.

7. Convide os alunos para parcipar das decisões

Há várias maneiras de envolver os estudantes. Convide-os a participar da elaboração de regras de convivência e mesmo na tomada de decisões para resolver questões da escola. Essa autonomia pode ser gradual, de acordo com a faixa etária.

8. Coloque a avaliação a serviço da aprendizagem

Para Anna Penido, diretora-executiva do Instituto Inspirare, ainda é cedo para oferecer sugestões prontas de avaliação tendo em perspectiva as competências gerais. Mas uma coisa é certa: serão necessárias mudanças para avaliar questões que têm mais relação com desenvolvimento do que com absorção de conteúdo.

Quaisquer que sejam as propostas, elas devem estar mais alinhadas com a avaliação formativa ou contínua, em que a aprendizagem é examinada constantemente, por meio das atividades realizadas em aula, como autoavaliação, observação, produções, comentários, criações e trabalhos em grupos. Essas abordagens permitem acompanhar o desenvolvimento das competências, identificar dificuldades e planejar práticas específicas para permitir que todos avancem. Ao colocar a avaliação a serviço da aprendizagem, e não como mecanismo de punição ou recompensa, a escola alinha sua prática com o princípio de equidade, central na BNCC.

A Base trata também de como o conhecimento adquirido pelo estudante será utilizado. “Se a avaliação for apenas para mensurar o quanto eu aprendi de matemática, esse processo comunica que o importante é a nota. Na proposta das competências, o que deve ser considerado é como eu vou usar a matemática para meu projeto de vida, para resolver problemas ou para meu autoconhecimento”, exemplifica Simone.

10. Faça com que o PPP refletita os princípios da BNCC

É neste documento que a escola registra seus objetivos e os meios que pretende utilizar para alcançá-los. Ele abrange currículo – que deverá conter as aprendizagens essenciais previstas na BNCC –, a definição das metodologias de ensino da instituição e os recursos disponíveis. Em sua construção também precisam ser considerados o contexto local e a relação entre todos os atores da comunidade escolar.

O PPP é um instrumento fundamental para planejar e compartilhar com professores, pais e estudantes como a escola vai incorporar os princípios propostos pela BNCC no seu dia a dia. “Se ele prevê que a aula de português seja apenas para a fixação de regras de gramática isso não será suficiente para formar alunos na perspectiva integral da Base. Agora, se a disciplina se voltar para a construção de sentido pela linguagem ela poderá trabalhar e desenvolver uma série de competências”, defende Simone. “Os professores precisarão ter pautas conjuntas de trabalho”, defende Amábile Mansutti, coordenadora técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

11. Convide a comunidade para fazer parte da construção do PPP

Uma estratégia para que a equipe escolar se aproprie da BNCC é convidar todos a participar ativamente da readaptação do currículo e do PPP.

Eu quero saber mais sobre

Escolas de todo o Brasil já estão se preparando para o novo ano letivo. Depois de dois anos desafiadores para a educação, a expectativa é que 2022 traga melhorias – e também novos desafios. Agora, é preciso estar atento ao que deve ser feito para superar os desafios da educação em 2022.


Existem desafios comuns à toda comunidade educadora. A adaptação ao ensino remoto, engajamento de alunos, comunicação escolar, lacunas de aprendizagem, entre tantos outros.


Mas para saber quais desafios devem ser superados, a primeira pergunta a ser respondida é: quais desafios da educação minha escola enfrenta HOJE?


Cada escola tem seu perfil. Os desafios são particulares à realidade de cada instituição de ensino. Por exemplo: em uma escola que já inseria a tecnologia em suas práticas pedagógicas, pode não ter tido a mesma dificuldade que uma escola que seguia um método mais tradicional.


Uma dificuldade pode ser comum, mas em níveis diferentes.


Ao identificar qual a maior dificuldade enfrentada pela escola, alunos e famílias, é possível direcionar as ações para superar este desafio.  


Separamos alguns desafios mais comuns e dicas para que você consiga superá-los.


Quais desafios da educação devemos esperar em 2022?


1. Lacunas de aprendizagem


Escolas com diferentes perfis e realidades terão que conviver com este desafio em 2022.


A aprendizagem dos alunos sofreu grandes impactos durante o ensino remoto. A dificuldade de adaptação, de absorção de conteúdo e até a falta de recursos (como internet e computador), prejudicou alunos no mundo inteiro.


Esse é um problema grave e que merece a atenção de toda comunidade educadora. As lacunas de aprendizagem, quando não trabalhadas, se acumulam e podem se transformar numa defasagem que prejudica o aluno.


Por meio de uma avaliação diagnóstica, os educadores conseguem identificar com assertividade os principais pontos que precisam ser desenvolvidos no aluno.


Existem diferentes formas de se aplicar uma avaliação diagnóstica. Esse método pode ser escolhido de acordo com a turma e o que se pretende avaliar dela.


Avaliação diagnóstica em 2022: como recuperar lacunas de aprendizagem


Para superar este grande desafio da educação, após ter os dados sobre as lacunas de cada aluno, é traçar um plano pedagógico que se volte para a recuperação daquilo que não foi aprendido.


É uma ação que requer paciência, mas que fará toda a diferença na jornada pedagógica do estudante.


2. Engajamento de alunos


Engajar alunos já era desafiador antes mesmo do ensino remoto. Essa dificuldade se intensificou quando a interação pessoal ficou limitada às telas digitais.


A retomada das aulas presenciais pode ser vista como uma ótima oportunidade de incentivar a participação ativa da turma no processo de aprendizagem.


Afinal, o engajamento dos alunos está diretamente relacionado ao seu desempenho e à facilidade em aprender.


É isso que torna este um dos maiores desafios da educação para 2022.


“E por onde começar?” De um jeito simples: identifique o que sua escola pode fazer a mais pelos seus alunos.


Para além do plano pedagógico e das obrigatoriedades curriculares, a sua escola precisa dar ao aluno a sensação de pertencimento e apoio.


Isso não é feito em um momento específico, mas uma prática que deve ser recorrente. O seu aluno precisa saber quais os diferenciais da escola.


E para que sejam criadas oportunidades para isso, é essencial desenvolver um bom relacionamento. Crie canais de comunicações próprios, pratique a escuta ativa e estimule o diálogo.


O bom relacionamento com alunos os coloca como peças-chave de todo o processo educacional.


Alunos protagonistas do próprio aprendizado tem sido uma tendência da educação. É um aspecto que a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) coloca como pilar.


A prática de estimular e desenvolver o protagonismo do aluno é também conhecida como metodologias ativas.


As metodologias ativas tem como objetivo focar no aluno buscar o conhecimento e ter o professor como um guia para isso.


Para aplicar as metodologias ativas, é importante capacitar toda a equipe pedagógica com formações e grupos.


Metodologias ativas de aprendizagem: quais são os benefícios?


3. Retenção escolar


Retenção de alunos é algo que impacta diretamente o caixa da escola. E, por isso, se torna um dos principais desafios da educação para 2022.


A evasão escolar virou realidade em muitas escolas brasileiras durante a pandemia. Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que houve uma crescente de 5% para alunos do Ensino Fundamental e 10% no Ensino Médio.


É o equivalente a cerca de cinco milhões de estudantes.


O cenário é preocupante para a própria educação brasileira, que fica fragilizada, e também para as escolas, que foram impactadas por isso.


Nenhuma escola quer perder seus alunos. E, além da evasão, gestores precisaram lidar com alunos que mudaram de escolas – seja por opção própria ou dos pais.


Neste caso, é preciso refletir sobre o que está causando a saída dos alunos. Uma das motivações mais comuns nos últimos anos se deu por conta do pouco contato que as escolas tiveram com as famílias durante o ensino remoto.


Um problema de comunicação resultou na perda de alunos. É algo que não deve ser ignorado e deve ser uma prioridade no planejamento escolar.


5 estratégias que vão aumentar a retenção de alunos e fidelizar ainda mais


Uma boa comunicação resulta em um bom relacionamento. E sabemos que o bom relacionamento é o pilar principal para a fidelização.


Por isso, uma das maneiras de garantir a retenção de alunos em sua escola é ao otimizar os processos de comunicação. Saiba quais canais e formatos melhor se adequam ao perfil dos alunos e das famílias, evite utilizar aplicativos de mensagens de uso pessoal e encontre maneiras de tornar a sua escola acessível para contato.


Sendo este mais um dos mais delicados desafios da educação, é preciso dar uma maior atenção.


E lembre-se: reter alunos acontece por meio de ações realizadas durante todo o ano, e não apenas no período de rematrículas.


4. Novo Ensino Médio


Dos desafios da educação em 2022, Novo Ensino Médio é o que tem deixado muitos educadores preocupados.


Isso porque a sua implementação deve ser iniciada ainda neste ano e, de forma gradual, finalizar nos próximos dois anos.


Itinerários formativos e Novo Ensino Médio: como implementar?


Mudanças em geral não são fáceis. Para o Novo Ensino Médio, a adaptação será para todos: educadores, alunos, gestores e famílias.


Para uma transição bem-sucedida, o primeiro a ser feito é se aprofundar sobre o novo currículo e toda a sua proposta pedagógica.


A escola deve estimular a formação continuada da sua equipe pedagógica e garantir que todos estejam alinhados sobre os principais tópicos. Os gestores podem auxiliar seus professores na busca por capacitação, por meio de cursos ou com parcerias com plataformas de ensino voltadas para formação de professores.


Como os gestores podem incentivar a formação dos professores e porque isso é tão importante


Após preparar sua escola internamente, com formação, planejamento e alinhamento à BNCC, é importante apresentar a nova proposta do Ensino Médio para alunos e família. Aqui, mais uma vez, a comunicação deve ser uma aliada.


Deve-se esperar muitas dúvidas por parte dos alunos e das famílias. O próprio assunto pode gerar uma ansiedade. É momento para acalmar a sua comunidade e transmitir confiança. A sua escola deve servir como apoio e se mostrar ao lado dos alunos e das famílias nesta fase.


A prática ao longo do ano pode contribuir com a compreensão do que, de fato, é o Novo Ensino Médio.


É no Ensino Médio que todos os demais desafios da educação que citamos acima são realçados. Isso porque, além de ser uma fase naturalmente difícil para os jovens, é também um período no qual se cria muita expectativa e anseio em relação ao futuro.


Mais do que qualquer planejamento ou ação prática, a escola precisa ser um espaço de acolhimento e apoio.


LIVE: Especialista em educação fala sobre estratégias superar desafios da educação no novo ano letivo


O Conversa Paralela Ao Vivo surgiu para ajudar gestores escolares com os desafios da educação.


Live Estratégias e possibilidades para um novo ano letivo – 27/01, às 19h


Na live de estreia, Emilio Munaro, Vice-Presidente da Associação Nacional de Ensino Básico Híbrido (ANEBHI) vai compartilhar dicas essenciais sobre Estratégias e possibilidades para um novo ano letivo.


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