O que Voltaire defendia no Iluminismo

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Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet (Paris, 21 de Novembro de 1694 - 30 de Maio de 1778), foi um poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e historiador iluminista francês. Ele defendia a liberdade de ser e pensar diferente.

Segundo ele, os primeiros fundamentos de toda história são os relatos dos pais aos filhos, transmitidos em seguida de geração em geração, o que faz com que vão perdendo a credibilidade aos poucos e, por fim, a fábula toma a frente dos fatos e derruba a verdade. Assim, os relatos dos povos antigos estão repletos de exageros.

Um desses exageros está na história de Roma, na qual Rômulo, seu fundador, era filho do deus Marte, que foi amamentado por uma loba e que marchou com mil homens até a aldeia dos sabinos e combatido seus vinte e cinco mil soldados.

Voltaire dizia que, às vezes, as coisas prodigiosas e improváveis devem ser relatadas, mas apenas como provas da credulidade humana, no campo das opiniões e tolices. Para ele, se quisermos conhecer um pouco da história antiga, devemos verificar a existência de monumentos incontestes.

Um desses monumentos citados por Voltaire é a coletânea de observações astronômicas feitas na Babilônia durante 1900 anos seguidos e que foram enviadas à Grécia por Alexandre, o que prova, segundo ele, a existência dos babilônicos vários séculos antes, pois a artes nada mais são do que a obra do tempo.

A utilidade da história, segundo Voltaire, reside no fato de que podemos nos utilizar dos fatos pretéritos, para antever e prevenir eventos futuros. Histórias de tiranos nos alertam para não confiar todo o poder de uma nação à apenas uma pessoa. Eventos com exércitos que foram destruídos pela fome em regiões inóspitas, dizem aos generais para não ir para uma batalha sem suprimentos.

A história moderna mostra claramente, ainda segundo Voltaire, que quando uma nação se acha demasiadamente preponderante, as demais se insurgem contra ela, na tentativa de manter um certo equilíbrio. Esse equilíbrio era desconhecido pelos povos antigos, o que fez com que Roma tivesse o domínio que teve.

Se a história fugir aos olhos das nações, há o perigo de flagelos passados voltarem a atingir a humanidade, pois não haveria nenhuma precaução contra seu ressurgimento. Pestes, guerras, revoluções tornariam a abalar o equilíbrio do mundo.

Voltaire acreditava que, se aniquilassem o estudo da história, a humanidade veria novamente os massacres que tanta dor causou a muitos. Conhecer a história é conhecer o mundo e evitar que atos desumanos voltem a acontecer.

Fonte: VOLTAIRE, A filosofia da história / Voltaire; tradução Eduardo Brandão. – São Paulo : Martins Fontes, 2007. – (Voltaire vive).

Voltaire foi um destacado filósofo, historiador e pensador do Iluminismo francês, além de ter desenvolvido trabalhos como dramaturgo, poeta e ensaísta.

Biografia

François Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire, nasceu em Paris, no dia 21 de novembro de 1694. Descendente de família aristocrática, Voltaire recebeu uma boa educação, sendo um aluno muito aplicado. Estudou línguas (latim e grego), dialética e teologia, no colégio jesuíta "Collège Louis-le-Grand", em Paris.

Junto à Rousseau (1712-1778) e Montesquieu (1689-1755), Voltaire foi um dos mais importantes pensadores do Iluminismo Francês, movimento cultural e intelectual da elite europeia do século XVIII que se pautava na razão.

Voltaire era defensor da ciência, do progresso, ao mesmo tempo que tolerava a diferença e defendia, sobretudo, a liberdade de expressão.

Chegou a combater o absolutismo e criticar a aristocracia e o poder da Igreja Católica. Segundo ele “A primeira lei da natureza é a tolerância; já que temos todos uma porção de erros e fraquezas.”

Diante disso, o filósofo foi um agitador cultural e divulgador de suas ideias e, ao publicar versos gozadores sobre os governantes, foi preso na Bastilha (1717-1718). É nesse momento que adota o pseudônimo Voltaire.

Sempre com um espírito polêmico, foi novamente preso e mais tarde teve que se exilar durante os anos 1726-1728, na Inglaterra.

Teve muitos romances, dentre os quais se destacam: Olympe Runoyer, Susanne de Livry Emile de Bretiul (marquesa de Chatelet). Falece na sua cidade Natal, dia 30 de maio de 1778, mesmo ano que foi iniciado maçom.

Conheça mais filósofos iluministas: Montesquieu, Rousseau e Adam Smith.

Obras

Voltaire foi um escritor prolífico, autor de aproximadamente 70 obras, da qual faz parte diversos ensaios, romances, poemas, peças de teatro e obras teóricas:

  • Édipo (1718)
  • Poema da Liga (1723)
  • A Henríada (1728)
  • História de Charles XII (1730)
  • Brutus (1730)
  • Epístola a Urânio (1733)
  • Cartas filosóficas (1734)
  • Tratado de Metafísica (1736)
  • O infante pródigo (1736)
  • Elementos da Filosofia de Newton (1738)
  • Zulime (1740)
  • Tancredo (1760)
  • Tratado sobre a tolerância (1763)
  • Dicionário filosófico (1764)
  • Pequena Digressão (1766)
  • O ingênuo (1767)
  • A princesa da Babilônia (1768)
  • Irene (1778)
  • Agathocle (1779)

Frases

  • “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”
  • “Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males.”
  • “Se o homem nasceu livre, deve governar-se; se ele tem tiranos, deve destroná-los.”
  • “Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas.”
  • “A poesia é a música da alma, e, sobretudo, de almas grandes e sentimentais.”
  • “Os homens erram, os grandes homens confessam que erraram.”
  • “O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidade.”
  • “Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo.”

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O Iluminismo foi uma época revolucionária na Filosofia, embora famosa por conta das revoluções francesa e norte americana, que só foram possíveis graças a nomes como o ilustre Voltaire, que desafiou a opressão absolutista.

Quem foi Voltaire?

Durante o século XVIII, uma figura ganhou bastante destaque, chamavam-no de Voltaire. Embora tenha sido uma fugira polêmica, sem dúvida foi o filósofo mais famoso do Iluminismo. Voltaire defendia com vigor as liberdades individuais, bem como a liberdade de expressão e tolerância.

Juntamente com outros iluministas, as ideias de Voltaire serviram de inspiração para a Revolução Francesa, chegando a cruzar o Atlântico e inspirar a Revolução Norte Americana. Ele foi um talentosíssimo escritor, responsável por mais de setenta obras.

O que Voltaire defendia no Iluminismo
Figura 1. Retrato de François Marie Arouet, que ficou conhecido pelo pseudônimo Voltaire.

Embora tenha escrito bastante, Voltaire não deixou como legado um sistema filosófico formal, como aqueles que a gente vê em obras como a de Montesquieu, “O Espirito das Leis”.

Voltaire a a personificação do Iluminismo

Durante o Iluminismo, movimento revolucionário que aconteceu no século XVIII, a popularidade das Monarquias Absolutistas despencou. Isso porque os ideais do Iluministas se pautavam na Razão e nas Ciências, coisas que poucas monarquias aceitavam. Voltaire, como bom “fanfarrão” que era, polemizava as questões que envolviam o Estado e a Igreja.

O que Voltaire defendia no Iluminismo
Figura 2. Tirinha com Voltaire se confrontando com Hitler e sendo morto por defender suas ideias até o fim. * A Famosa frase atribuída a Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” Foi na verdade escrita por Evelyn Beatrice Hall, que a escreveu para ilustrar as crenças de Voltaire, na sua biografia sobre o autor “Amigos de Voltaire”.

As atitudes de Voltaire, assim como seu discurso, que era por vezes inflamado, mas ainda assim satírico, tinham como alvos principais a Igreja Católica e a Monarquia francesa.

A prisão

Voltaire foi um militante de respeito, disseminava os ideais iluministas enquanto divulgava suas ideias, ao passo que, fazia escarnio de seus desafetos. Essa atitude acabou fazendo com que tivesse a prisão decretada, sendo mandado para Bastilha em 1717. Inclusive, foi nesse momento de cárcere que ele adota o pseudônimo Voltaire.

Vale ressaltar que até meados do século XVII a Europa ainda aceitava, meio a contra gosto, as explicações da igreja. Foi somente com a Revolução Científica, possibilitada por figuras como Galileu, Newton, Giordano Bruno e uma série de outros gênios, que a religião perdeu força e passou a dar espaço as ciências.

O que Voltaire defendia no Iluminismo
Figura 3. Capa da Enciclopédia criada durante o século XVIII * Voltaire foi um dos pioneiros na criação da Enciclopédia. O projeto iluminista visava reunir conhecimentos de diversas áreas. No total a obra continha 36 volumes e contava com verbetes de Voltaire, Montesquieu, Rousseau e outros autores.

O absurdo de ter certeza

Inspirado pela ideia racional, herdada da Filosofia Renascentista, Voltaire elaborou uma teoria para refutar as tradições, visto que, elas são preciosas tanto para a religião quanto para a nobreza. Com isso, surgiu o argumento da certeza ser absurda.

Demonstrando – a partir de uma análise racional – que ao longo da nossa história, quase tudo já foi revisto e reinterpretado. O que se dava como fato em determinado período passou a ser absurdo em outro.

Por exemplo: algo que estava super em alta naquela época foi a constatação de que a Terra não é o centro do universo. Isso antes era um fato, hoje é absurdo pensar – ou ao menos deveria – que alguém acredita nisso.

O que Voltaire defendia no Iluminismo
Figura 4. Tirinha retratando uma conversa entre Voltaire e Deus.

Ora, salvo algumas verdades que permanecem até então imutáveis, como é o caso da matemática, os fatos não passam de meras interpretações. Voltaire se utiliza inclusive de algumas ideias de John Locke, como aquela concepção das ideias inatas.

Isso é, segundo John Locke não existem ideias inatas, tudo que entendemos do mundo vem da nossa experiência.

A importância da filosofia de Voltaire

Esse ceticismo de Voltaire tornou-se ainda mais válido quando ele argumenta que determinadas coisas que são tidas como verdades absolutas, variam de acordo com a região que você se encontra. É como se uma pessoa que segue o cristianismo no Brasil só o faz porque nasceu nessa região e nessa época específica. Haja visto que não existiam nativos cristãos antes da invasão portuguesa.

Imagine que você nasceu na Birmânia, a chance de você ser budista é muito maior que a chance de você ter alguma religião. Isso pode valer para diversos outros exemplos além da religião, como seu time de futebol. Um palmeirense dificilmente torceria para esse time se morasse no Rio de Janeiro, por exemplo.

Daí a importância da Filosofia. Voltaire acreditava que ela seria a responsável por desenvolver uma metodologia capaz de se aproximar mais do que poderia a ser uma verdade, pois acreditava que a verdade até poderia existir, entretanto não temos os meios para alcançá-la.

O que Voltaire defendia no Iluminismo
Figura 5. Tirinha retratando uma conversa entre Voltaire e Deus.

Filosofia e Revolução

O discurso de Voltaire sempre vinha acompanhado dessa história de não termos certezas sobre as coisas e de que não existem verdades absolutas. Dentre outras coisas, esse discurso tinha como propósito desafiar a Monarquia francesa e a Igreja Católica, visto que o discurso religioso se pauta em dogmas. Ou seja, é fundamentado em verdades absolutas e irrefutáveis.

Isso também vale para a Monarquia Absolutista francesa. Lembra-se do rei Luís XIV? Ele reinou de 1643 até 1715, foi batizado como Louis-Dieudonné, algo como “Luís, o presente de Deus”. Nota-se aí que a Monarquia e a Igreja estavam fortemente ligadas, e compartilhavam de uma estrutura narrativa bem semelhante. O que deve ter facilitado a vida de Voltaire na hora de criticá-los.

As sátiras

Deixando o rei Sol de lado por um instante, quando Voltaire afirmava que a certeza é algo mais agradável ao ser humano do que a dúvida, ele provoca seus interlocutores a questionar as declarações do Estado.

Pois, em suas sátiras, ele argumentava a favor de pensarmos por nós mesmos. Esse talvez seja o princípio mais importante do Iluminismo, sendo reproduzido de diversas maneiras e por diversos autores, como por exemplo Immanuel Kant em sua famosa máxima: Sapere Aude!

O que Voltaire defendia no Iluminismo
Figura 6. Retrato de Immanuel Kant * Sapere Aude é uma máxima que vem do latim e em uma tradução livre é algo como “Ouse Saber”, o filosofo Immanuel Kant sem seu famoso opúsculo “Resposta à Pergunta o que é Esclarecimento” escreveu essa máxima ao propagar suas ideias e defender o Iluminismo.

Por fim, Voltaire tinha um viés político bastante libertário, assim como, era característico da época, pregava a necessidade de se duvidar das coisas, dizia que a dúvida não é condição agradável, mas a certeza é absurda.

Com isso, fazia sua militância e embasando um movimento de resistência contra a opressão do absolutismo e da igreja que culminou na Revolução Francesa, deflagrada 11 anos após sua morte.

Resumo sobre Voltaire

Para finalizar a sua revisão e estudar um pouquinho mais sobre Voltaire, veja essa videoaula do canal Parabólica:

Questões sobre Voltaire

1) (UFF 2010)

O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importância de manter acesa a chama da razão:

“Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças da hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento com medo de sermos envenenados”.

Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire.

(A) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um risco desnecessário.

(B) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os seres humanos.

(C) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem para enfrentar o obscurantismo e o fanatismo.

(D) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não precisa mais estar alerta.

(E) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo.

2) (UFPR 2010)

A respeito do iluminismo, movimento filosófico que se difundiu pela Europa ao longo do século XVIII, considere as seguintes afirmativas:

Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, Voltaire e Diderot, foram leitores, admiradores e divulgadores da filosofia política produzida pelos ingleses, como John Locke com sua crítica ao absolutismo.

Quanto à organização do Estado, os filósofos iluministas não eram contra a monarquia, mas contra as ideias de que o poder monárquico fora constituído pelo direito divino e de que ele não poderia ser submetido a nenhum freio.

A descoberta da perspectiva e a valorização de temas religiosos marcaram as expressões artísticas durante o iluminismo.

Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu grande impulso das descobertas marítimas.

Assinale a alternativa correta.

(A) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.

(B) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

(C) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

(D) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

(E) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

3) “É proibido matar e, portanto, todos os assassinos são punidos, a não ser que o façam em larga escala e ao som das trombetas.”

“Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la.”

As frases acima são exemplos de um dos filósofos iluministas mais conhecidos, caracterizado por frases sarcásticas e irreverentes. Quem é o autor das frases?

(A) Montesquieu.

(B) John Locke.

(C) Voltaire.

(D) Descartes.

(E) Rousseau.

Gabarito

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