O que é cringe giria

No últimos dias, qualquer usuário das redes sociais deve ter se perguntado o que é cringe. A expressão se tornou muito popular na internet de uma hora para outra, mas muita gente não entendeu e nem percebeu o motivo de todo mundo estar usando a palavra agora.

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Até a Turma da Mônica ficou sem saber muito o que estava acontecendo nas redes em que só se falava sobre o que é cringe. "É série?", questionou o perfil oficial do Twitter do universo em quadrinhos produzido por Maurício de Sousa.

Mas cringe não é uma série e nem alguma produção de entretenimento para o cinema ou para os quadrinhos. É um verbo da língua inglesa que até dá nome a um tipo de gênero da comédia, mas agora é usada como gíria pela geração Z como adjetivo que pode ser traduzido como "vergonha alheia", ou, no jeito cringe de dizer, "cafona".

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Por que só se fala sobre cringe nas redes sociais?

Todo esse movimento começou com um tuíte de Carol Rocha (@tchulim), estudante de psicologia e criadora de conteúdo para internet. Na rede social, ela instigou um embate entre gerações ao pedir para pessoas da "gen Z" (nascidos entre o final da década de 1990 e os anos 2010) dizerem quais são os "micos" que a geração anterior, os millenials (nascidos de 1980 a 1996), passam.

O post teve mais de 3 mil comentários e circulou por todas as redes. Nessas respostas, desde tomar café da manhã, pagar boletos, tomar cerveja "litrão" e café, usar calça skinny e gostar de séries e filmes como Friends e Harry Potter. Todas essas "manias" dos millenials são consideradas vergonha alheia, brega, cafona ou, simplesmente, cringe pela geração Z.

Mas o que é cringe, afinal?

Antes de virar uma gíria da geração Z, cringe era simplesmente um verbo da língua inglesa. De acordo com o dicionário de Cambridge, da Inglaterra, há duas formas de usar o verbo cringe no inglês:

  • Sentir-se muito constrangido e envergonhado por algo;
  • Se afastar repentinamente de alguém ou algo porque está com medo.

Já o dicionário Collins, também britânico, dá diferentes significados para o inglês usado no Reino Unido e para o idioma falado nos Estados Unidos. No jeito informal britânico, cringe pode ter esses significados:

  • Se retrair de vergonha ou desgosto;
  • Experimentar uma sensação repentina de constrangimento ou desgosto.

Para os norte-americanos, o significado fica mais relacionado com a sensação de medo:

  • Recuar, se curvar, agachar, quando se está com medo; recuar de algo perigoso ou doloroso;
  • Agir de maneira tímida e servil; bajular.
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Além disso, há um gênero da comédia chamado de "Cringe Comedy", que é o humor que provoca desconforto e vergonha alheia em quem está assistindo. Alguns exemplos de produções que usam a comédia cringe para fazer as pessoas rirem se sentindo constrangidas com o que está acontecendo são "The Office", "Parks and Recreation", "Fleabag" e os mocumentário "Borat!".

Foto: Reprodução/Instagram

O que é cringe giria

A foto do Didi foi utilizada por Carol Rocha para dizer como ela está se sentindo com as respostas ao tuíte

Como cringe virou uma gíria da geração Z?

Há alguns anos, os jovens da geração Z passaram a usar a expressão para dar adjetivo a alguma coisa feita por millenials que os deixa constrangidos. "This is so cringe" é a forma como essa expressão é usada quando alguém que quer dizer que está com vergonha alheia de algo feito pelos mais velhos.

De acordo com o Google, o termo cringe teve um aumento de buscas de mais de 500% nos últimos dias no Brasil, e termos relacionados, como "geração Z" e "geração Y", também tiveram crescimentos de pesquisas na ferramenta.

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Com essa popularização da expressão, é difícil que cringe não comece a ser cada vez mais usado pelo jovens brasileiros para se referir aos costumes das gerações mais velhas que fogem dos hábitos mais "modernos" dos brasileiros.

Agora você já sabe o que é cringe, pode estar querendo conhecer ainda mais as diferentes expressões da língua inglesa. Estudar inglês não é nada cringe, e o novo idioma pode abrir portas para a sua vida pessoal e profissional.

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E então, você se acha meio cringe? Conta para a gente quais manias que você tem que a geração Z acharia que são "vergonha alheia"!

 

Também existem situações "autocringe", como quando você responde um "você também" a um "boa noite", mas ele é usado, principalmente, para falar do outro. É algo como assistir a um cantor desafinado, mas que acha que está abalando no "The Voice". Ou ver um cara descamisado exibir o tanquinho e fazer caras e bocas num vídeo no TikTok.

"É muito difícil rastrear a origem de um meme", explica João Miguel Silva, do coletivo Melted Videos —que produz, principalmente, memes. "Tenho a impressão de que o cringe começou a ser usado mais aqui no Brasil antes da pandemia. Mas é uma palavra que aparece desde a época do Snapchat e que tem seu oposto, que é o 'based', que seria o cara 'fodão'", explica. Basta rolar a timeline do perfil do grupo no Instagram para ver como as menções ao termo foram aumentando nos últimos meses.

Num vídeo publicado em maio de 2020, a youtuber Contrapoints aponta que a palavra "cringe" começou a ganhar a internet em 2016 -justamente no auge do aplicativo de compartilhamento rápido de imagens e vídeos por aqui. Desde então, sua popularidade só cresceu.

E não foi por um motivo exatamente legal ou engraçadinho, como o que fez o termo chegar à superfície da internet na última semana. "Cringe" virou um gênero de vídeos de reação no YouTube e de fóruns como 4chan e o Reddit, onde os supostos esquisitos —de otakus a feministas— eram constantemente avacalhados.

Apesar de o submundo da internet não ter espaço para compaixão e empatia, com o passar do tempo o "cringe" ganhou novos públicos e, com isso, novos significados. Virou sinônimo para algo como aceitar a própria esquisitice. "Ninguém é perfeito, mas todos podemos 'cringe'", diz um meme publicado pela Melted Videos em maio. Na legenda, o recado "só seja você mesmo".

Samuel Delgado Pinheiro, especializado em língua inglesa pela Universidade de São Paulo, a USP, aponta que "cringe" tem uma origem germânica, e que aparece em variações em outras línguas. No alemão, por exemplo, "krank" é, sim, um adjetivo -e remete a algo como doente.

Num dicionário etimológico de 1874, por exemplo, ele conta que "cringe" carrega a ideia de se submeter e servir a alguém. "O sentido dela foi mudando com o tempo. Imagino que a ideia de 'se submeter’ que a palavra carrega tem a ver também com a ideia de que se submeter a alguém é algo vergonhoso", afirma, sobre o caminho que os significados podem ter percorrido.

Apesar de vários termos em inglês serem usados desnecessariamente em português, como "staff" com a existência de "equipe", ele afirma que "cringe" não é uma palavra que encontra uma correspondência clara na língua portuguesa.

"'Cringe' tem aparecido em muitos livros jovens. E é uma coisa muito difícil de traduzir. Eu pensava 'vergonha alheia?', mas não é exatamente isso", afirma Guilherme Miranda, tradutor de "Vermelho, Branco e Sangue Azul", de Casey McQuiston, da Editora Seguinte.

No final, ele explica que preferiu não adotar a palavra no trabalho. "É uma gíria da moda, que a gente não sabe se vai pegar. Esses livros [juvenis], por mais que não sejam uma alta literatura clássica, são objetos que vão durar muito tempo. A próxima geração vai ler 'cringe' e vai achar esquisito."

Os choques geracionais vistos nos últimos dias também não ficam só nos memes e na discussão das redes sociais, claro. As diferenças, semelhanças e os contextos de cada geração são objeto de diversas análises psicológicas, sociológicas, culturais e comerciais. E é por isso que a complexidade do assunto não cabe nos 280 caracteres do Twitter -mesmo que ele se desdobre em um fio.

Estudos demográficos sobre as diferentes gerações consideram o período de 15 anos como o ciclo do surgimento de um novo zeitgeist, que dá luz a um novo grupo e rótulo.

Enquanto os millennials são considerados a "geração-terapia", viram a ascensão do digital e são sobrecarregados de trabalho, por exemplo, a geração Z tem autodidatas, pessoas com identidades fluidas e muitos nativos digitais.

Em meio a esses nomes, no entanto, há uma série de outros rótulos inseridos. São espécies de microgerações intermediárias que se intensificam diante da crescente aceleração tecnológica, que causa mudanças cada vez mais rápidas e impactantes mundialmente.

É comum que pessoas nascidas em períodos de transição geracional contemplem mais de um espírito do tempo e, assim, tenham suas próprias especificidades, como os xennials e os zennials.

Também conhecidos como "geriatric millennials", os xennials são aqueles nascidos entre as gerações X e Y, mais conhecida como millennial. Foram as primeiras crianças a terem contato com o universo analógico e quando adultos se adaptaram ao digital.

Já os zennials pertencem ao grupo dos nascidos entre as gerações Y e Z, no final da década de 1990 e começo da de 2000. São hipersensíveis, nostálgicos e o foco atual de muitas marcas comerciais, que vêm investindo em acessórios com ares old school, já que é um público com certa independência financeira.

"Os zennials são marcados por várias questões globais traumáticas, o que os tornam muito emotivos", afirma Liliah Angelini, especialista da WGSN, maior birô de tendências do mundo, citando eventos como a crise global de 2008 e os ataques de 11 de setembro.

É possível ainda fazer mais ramificações do que simplesmente um estudo sobre transações geracionais. Há subdivisões entre aqueles que compõem um mesmo grupo, como a geração Z, que engloba tanto a Gen Me —impulsionada por exagero, status e sucesso— quanto a Gen We —público que defende veemente causas sociais e faz marcas repensarem estratégias.

Angelini explica que as características que contemplam uma geração são criadas a partir de uma série de acontecimentos econômicos, políticos e culturais e, por isso, é impossível estar alheio a essas circunstâncias. Ou seja, mesmo que alguém não pregue os valores marcantes da própria geração ou pratique seus, continuará sendo atingido pelo zeitgeist de outras maneiras.

"Somos seres humanos. Todo mundo é diferente entre si. Mas a questão aqui é o espírito do tempo coletivo." E, por enquanto, a discussão do momento é sobre isso, o "cringe". E tá tudo bem.