A organização que garante a progressão temática do texto dramático é nomeada de

Leia os fragmentos a seguir para responder à questão:

I.

De tudo, meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Soneto de fidelidade, Vinícius de Moraes

II.

"Canta, ó Musa, a ira de Aquiles, filho de Peleu,

que incontáveis males trouxe às hostes dos aqueus.

Muitas almas de heróis desceram à casa de Hades

e seus corpos foram presa dos cães e das aves de rapina,

enquanto se fazia a vontade de Zeus,

a partir do dia em que se desavieram o filho de Atreu,

rei dos homens, e Aquiles, semelhante aos deuses.”

A ilíada, de Homero

III.

DESDÊMONA - Quem está aí? Otelo?

OTELO - Sim, Desdêmona.

DESDÊMONA - Não vindes para o leito, meu senhor?

OTELO - Desdêmona, rezastes esta noite?

DESDÊMONA - Oh, decerto, senhor!

OTELO - Se vos lembrardes de alguma falta não perdoada ainda pelo céu e sua graça,

cuidai logo de tê-la redimida.

DESDÊMONA - O meu senhor! Que pretendeis dizer com isso?

OTELO - Bem; fazei o que vos disse e sede breve. Passarei nesse em meio; não desejo

trucidar-vos o espírito manchado. Não pelo céu! Não vos matarei a alma.

Otelo, William Shakespeare.

IV.

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava na fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:

- É areia.

A velhinha contrabandista, Sérgio Porto - Stanislaw Ponte Preta.

Os fragmentos acima representam, respectivamente, os seguintes gêneros:

a) épico – lírico – dramático – narrativo.

b) lírico – épico – dramático – narrativo.

c) narrativo – dramático – épico – lírico.

d) lírico – épico – narrativo – dramático.

e) dramático – narrativo – lírico – épico.

A organização que garante a progressão temática do texto dramático é nomeada de

                                                                                              Ilustração de Fernando Oliveira, Peça de Teatro, 2009


O QUE É O TEXTO DRAMÁTICO? 

O texto dramático, criado pelo dramaturgo (autor), tem como finalidade última ser representado, passando então a texto teatral. O texto dramático pode ser escrito em prosa ou em verso. A história (ação) é apresentada em discurso direto, isto é, apresentada pelas personagens, situando-se, tal como no texto narrativo, num determinado tempo e espaço.

AS CATEGORIAS OU ELEMENTOS DO TEXTO DRAMÁTICO 

   - A ação (desenrolar dos acontecimentos) da história é condensada, como que resumida, para poder ser contada em pouco tempo, de forma a não alongar o tempo de representação, que seria cansativo quer para o público, quer para os atores. A ação comporta dois tipos de estrutura: interna e externa. 

   - A estrutura interna divide-se em três momentos: exposição (apresentação das personagens e dos antecedentes da ação), conflito (a sucessão dos acontecimentos, passando por um momento máximo de tensão dramática, que é o clímax) e por fim, o desenlace ou desfecho da ação dramática, que pode ter um final feliz ou infeliz. 

   - Ao nível da estrutura externa, o texto divide-se em actos (grande divisão do texto dramático, que decorre num mesmo espaço ou cenário, delimitado pela subida e descida do pano) e cenas (subdivisões dos actos determinada pela entrada ou saída de personagens). 

   - O tempo da história também é curto, e acontece geralmente no presente, como se estivesse a decorrer no momento da própria representação. 

   - Quanto ao espaço, pode-se considerar dois tipos de espaço diferentes: o espaço representado, isto é, aquele que é indicado no texto da peça (texto dramático), e o espaço de representação (texto teatral), que é o local onde os atores estão a representar. 

   - As personagens, que são as responsáveis pelo desenrolar da ação, são reduzidas e delas depende a ação, uma vez que não há narrador. A personagem principaldesempenha o papel de maior importância. As personagens secundárias desempenham papéis de menor relevo. Os figurantes, não desempenham qualquer papel específico, embora a sua presença física seja importante para a compreensão da história (ação).

AS MODALIDADES DO TEXTO DRAMÁTICO

   O texto dramático é constituído por dois tipos de texto: o principal e o secundário.

- O texto principal corresponde ao discurso dramático que as personagens vão representar. É portanto o texto constituído pelas “falas” das personagens, que podem apresentar-se sob a forma de diálogo (conversa entre as personagens), monólogo (conversa de uma só personagem) ou apartes (comentários que uma personagem faz, voltando-se para o lado ou para o público, para dar a entender que as outras personagens não deverão ouvi-lo).

- O texto secundário corresponde às indicações cénicas, também conhecidas com o nome de didascálias. É o texto onde o autor da peça (dramaturgo), anota as informações sobre os gestos, a entoação e a movimentação das personagens, sobre os cenários, o guarda-roupa, os acessórios, a luz, o som e outros aspetos que ache relevantes para a representação da peça teatral. Estas informações (didascálias) acabam por substituir a ausência de um narrador e ajudam a passagem do texto dramático a texto teatral. Graficamente, o texto secundário costuma ser representado em itálico e, nalguns casos, entre parêntesis.

AS VARIEDADES DO TEXTO DRAMÁTICO

   O texto dramático pode apresentar-se em géneros ou formatos diferentes: a tragédia, o drama, a comédia e a farsa.

- A tragédia tem origem na Antiguidade Clássica (Grécia), onde a acção é solene e as personagens são grandes heróis, lutando e desafiando o próprio destino. Na tragédia, o desenlace é infeliz designando-se por catástrofe, onde ocorrem sempre mortes.


- O drama tem origem no século XIX e neste tipo de texto, as personagens são indivíduos comuns que lutam contra outros, contra a sociedade ou mesmo contra si próprios. Geralmente aborda assuntos sérios da vida das pessoas.

- Na comédia a ação é cómica, as personagens são por vezes ridículas e o desenlace é feliz e divertido. Para conseguir estes objetivos, o autor serve-se de diversos recursos cómicos, como a linguagem (tipo de vocabulário utilizado), o carácter (pelas atitudes ou vestuário utilizado), ou pela situação criada (maneira de agir, contexto cómico).

- A farsa deriva do francês antigo, farse, que significa uma peça sobre os costumes e a vida social das pessoas. Tem um carácter burlesco e cómico, que provoca risos ou zombaria.

(clica no link) CONSULTA O BREVE DICIONÁRIO DE TEATRO

O gênero dramático designa os textos literários feitos para serem representados no palco. Sua origem, que remonta à Grécia Antiga, liga-se às festas religiosas em homenagem ao deus Dionísio (Baco). Ao longo dos séculos, esse gênero desprendeu-se da ligação com a religiosidade e foi incorporando as marcas de seu tempo e as características dos momentos literários em que foi produzido, sendo, ainda, produzido, lido e encenado.

Leia também: Gênero épico – textos que narram, por meio de versos, aventuras heroicas

Origem do gênero dramático

Drama, que em grego significa “ação”, é um gênero literário surgido na Grécia Antiga como, originalmente, uma forma de louvação religiosa ao deus Dionísio (Baco). Compõem o gênero dramático os textos em prosa ou em verso feitos para serem encenados no palco.

A organização que garante a progressão temática do texto dramático é nomeada de
Em teatros a céu aberto como este, localizado na Grécia, eram encenados os textos dramáticos.

Características do gênero dramático

  • Texto em forma de diálogos;
  • Dividido em atos e cenas;
  • Presença das rubricas — descrições do espaço e/ou da situação antes de cada ato;
  • Sequência da ação dramática geralmente constituída de exposição, conflito, complicação, clímax, desfecho.
  • Protagonista: personagem central da ação dramática.
  • Antagonista: personagem que se opõe ao protagonista.
  • Coro: conjunto de atores que comentam a ação ao longo da peça.
  • Catarse: do grego, significa “purificação”, purgação experimentada pelo público de uma tragédia, o qual poderia apaziguar suas angústias internas por meio das emoções representadas nas cenas.
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Com o auxílio de máscaras, que representavam estados emocionais, como a alegria e a tristeza, os atores gregos encenavam comédias e tragédias.

Na Grécia Antiga, dois tipos de textos dramáticos eram produzidos: a tragédia e a comédia. Segundo Aristóteles, filósofo grego nascido em 384 a.C., a tragédia caracteriza-se por ser “a imitação de uma ação de caráter elevado que suscita o terror e a piedade e tem por efeito a purificação das emoções”; a comédia, por sua vez, seria “a imitação de homens inferiores”.

  • Tom sério, solene;
  • O protagonista enfrenta grandes dificuldades;
  • Linguagem mais formal;
  • Estrutura composta por ação inicial feliz, mas que tem um desfecho fatal;
  • Presença de personagens nobres: reis, príncipes, que sofrem o destino imposto pelos deuses do Olimpo.
  • Tom cômico, ridículo;
  • Temática ligada ao cotidiano, com foco na sátira da sociedade e dos vícios humanos;
  • Linguagem mais coloquial;
  • Estrutura composta por uma situação inicial complicada, mas que acaba em final feliz;
  • Presença de personagens estereotipados, os quais simbolizam defeitos humanos, tais como a avareza, a mesquinhez etc.

Modalidade teatral em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Significava, também, quando surgiu, a mistura de elementos da realidade e da imaginação.

Pequena peça teatral, caracterizada pelo teor ridículo e caricatural, que critica a sociedade e seus hábitos.

Veja mais: Classicismo – movimento artístico que resgatou formas e temas da Antiguidade Clássica

Exemplo de tragédia

O poeta ateniense Sófocles, nascido provavelmente entre os anos de 497 a.C. a 496 a.C., é considerado o mais importante dramaturgo grego. Das mais de 100 peças que escreveu, destacam-se como as principais: Édipo rei, Antígona e Electra.

Veja um trecho da peça Édipo rei, em que Édipo descobre que havia sido dado ainda bebê para outra família. Por meio dessa revelação, descobre também que matou seu pai biológico sem o saber, além de ter-se casado com sua mãe, também sem saber que era sua progenitora. 

O SERVIDOR - Diziam ser filho do rei…

ÉDIPO - Foi ela quem te entregou a criança?

O SERVIDOR - Foi ela, Senhor.

ÉDIPO - Com que intenção?

O SERVIDOR - Para que eu a matasse.

ÉDIPO - Uma mãe! Mulher desgraçada!

O SERVIDOR - Ela tinha medo de um oráculo dos deuses.

ÉDIPO - O que ele anunciava?

O SERVIDOR - Que essa criança um dia mataria seu pai.

ÉDIPO - Mas por que tu a entregaste a este homem?

O SERVIDOR - Tive piedade dela, mestre. Acreditei que ele a levaria ao país de onde vinha. Ele te salvou a vida, mas para os piores males! Se és realmente aquele de quem ele fala, saibas que nasceste marcado pela infelicidade.

ÉDIPO - Oh! Ai de mim! Então no final tudo seria verdade! Ah! Luz do dia, que eu te veja aqui pela última vez, já que hoje me revelo o filho de quem não devia nascer, o esposo de quem não devia ser, o assassino de quem não deveria matar!

Exemplo de comédia

O principal autor de comédias na Grécia Antiga foi Aristófanes, sendo o texto teatral Lisístrata, escrito e encenado em 411 a. C., sua principal obra. Nesse texto, as mulheres gregas, lideradas por Lisístrata, fartas da guerra entre Atenas e Esparta, trancam-se num templo e decidem, por votação, iniciar uma greve sexual para forçar uma negociação de paz. Essa estratégia, no entanto, provoca uma engraçada batalha entre homens e mulheres. 

Leia um trecho da primeira cena da comédia, em que se evidencia o início da reunião organizada por Lisístrata para que as mulheres façam greve de sexo, com a finalidade de pôr fim na Guerra do Peloponeso. 

CENA

No primeiro plano, de um lado a casa de Lisístrata, do outro a de Cleonice. Ao fundo, a Acrópole, Um caminho estreito e cheio de curvas conduz até lá. No meio dos rochedos, em segundo plano, a gruta de Pã. Lisístrata anda pra lá e pra cá, diante da casa.

LISÍSTRATA - Pois é. Se tivessem sido convidadas para uma festa de Baco isso daqui estaria intransitável de mulheres e tamborins. Mas, como eu disse que a coisa era séria, nenhuma apareceu até agora. Só pensam em bacanais. Ei, Cleonice! Bom-dia, Cleonice!

CLEONICE - Bom dia, Lisístrata. Magnífico dia para uma bacanal.

LISÍSTRATA - Cleonice, pelo amor de Zeus: Baco já deve andar cansado.

CLEONICE - Que aconteceu, boa vizinha? Tens a expressão sombria, um olhar cheio de repreensão, a testa franzida. O avesso de uma máscara de beleza.

LISÍSTRATA - Oh, Cleonice, meu coração está cheio de despeito. Me envergonho de ser mulher. Sou obrigada a dar razão aos homens, quando nos tratam como objetos, boas apenas para os prazeres do leito.

CLEONICE - E às vezes nem isso. Cibele, por exemplo...

LISÍSTRATA - (Repreensiva.) Por favor, Cleonice. (Pausa.) Não é hora para maledicências. (Pausa.) No momento em que foram convocadas para uma decisão definitiva na vida do país, preferem ficar na cama em vez de atender aos interesses da comunidade.

CLEONICE - Calma, Lisinha! Você sabe como é difícil para as donas de casa se livrarem dos compromissos domésticos. Uma tem que ir ao mercado, outra leva o filho à academia, uma terceira luta com a escrava preguiçosa que às 6 da manhã ainda não levantou. Sem falar no tempo que se perde limpando o traseiro irresponsável das crianças.

LISÍSTRATA - Mas eu avisei que deixassem tudo. A coisa aqui é muito mais urgente. Muito maior.

CLEONICE - Tão grande assim?

LISÍSTRATA - Acho que nenhuma de nós jamais encarou nada tão grande. Ou nos reunimos e enfrentamos juntas ou ela nos devora.

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Exercícios resolvidos

Questão 1 - (UFG)

CENA IV EDUARDO, CARLOTINHA. CARLOTINHA - Onde vai, mano? EDUARDO - Vou ao Catete ver um doente; volto já. CARLOTINHA - Eu queria falar-lhe. EDUARDO - Quando voltar, menina. CARLOTINHA - E por que não agora? EDUARDO - Tenho pressa, não posso esperar. Queres ir hoje ao Teatro Lírico? CARLOTINHA - Não, não estou disposta. EDUARDO - Pois representa-se uma ópera bonita. (Enche a carteira de charutos.) Canta a Charton. Há muito tempo que não vamos ao teatro.

ALENCAR, José de. O demônio familiar. 2. ed. Campinas: Pontes, 2003. p. 11.

O texto teatral, exemplificado pelo trecho anterior, apresenta semelhanças com o texto narrativo por utilizar personagens, representar ações e marcação de tempo e espaço. No texto teatral,

a) as ações das personagens são descritas por um narrador, sendo este o mediador da narrativa.

b) as falas das personagens são diluídas no texto, sendo confundidas com a voz do narrador.

c) as características das personagens são reveladas por meio de suas falas e assim a ação é conduzida por elas mesmas.

d) as vozes das personagens são importantes para a construção da narrativa, embora haja a voz de um narrador onisciente.

e) as atitudes das personagens são conduzidas por um narrador intruso, embora o conflito esteja nos diálogos.

Resolução

Alternativa C. No texto teatral, geralmente, não há a presença de narradores que conduzam as ações e falas das personagens. Elas são encenadas e ditas diretamente, revelando as características das personagens ao público.

Questão 2 - (UFPA) O texto literário, além de apresentar-se em prosa e em verso, manifesta-se, do ponto de vista do conteúdo, de maneiras variadas, em atendimento à inspiração e/ou às circunstâncias histórico-socio-culturais de cada estilo de época. Assim sendo, a alternativa que expressa corretamente uma característica relativa ou ao gênero lírico, ou ao narrativo ou ao dramático é:

a) O texto dramático tem como objeto principal a emoção subjetiva.

b) No gênero lírico o texto constrói-se a partir de diálogos.  

c) A ação é elemento essencial da narrativa.

d) As personagens de caráter humorístico são as mais comuns nas peças teatrais.

e) A construção textual em verso é a mais apropriada para o conto.

Resolução

Alternativa C. O gênero lírico tem como objeto principal a emoção subjetiva, enquanto o dramático constrói-se por meio de diálogos. As personagens de caráter humorístico são comuns tanto em peças teatrais quanto em narrativas. A construção textual em verso não é apropriada para o conto, gênero narrativo em prosa.

Por Leandro Guimarães
Professor de Literatura