O que é cultura corporal de movimento

CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO E A INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

SANTOS, Cristiano Felix; Santana Cristiano Ferreira; Trindade Karolina Rios; Silva Lucas Francisco da; Barbosa, Regiane Pereira dos Santos; Carvalho Uala Bartolomeu Antônio Rodrigues.[1]

ARRUDA, Eduardo Okuhara[2]

RESUMO

O presente estudo de revisão teórica teve como foco a Cultura Corporal do Movimento enquanto conteúdo pedagógico da Educação Física escolar na perspectiva da inclusão social. A Cultura Corporal do Movimento, especificidade da área, abre a possibilidade de uma nova configuração da Educação Física, uma vez que se orienta para a diversidade cultural e, ainda, para concepções que superam a visão esportivizada e tecnicista da Educação Física. O objetivo dessa pesquisa foi compreender como a Cultura Corporal do Movimento pode se traduzir numa possibilidade inclusiva em consonância com as atuais perspectivas pedagógicas com propostas metodológicas que respeitem as diferenças dos sujeitos. No que se refere aos aspectos metodológicos, foram pesquisadas as bases científicas de dados como Scielo, Lilacs e, ainda, referenciais teóricos que abordam o tema. A partir dos levantamentos teóricos foi possível tecer algumas considerações que indicam que a Cultura Corporal do Movimento tem como características a diversidade cultural e inclusão como princípios pedagógicos e, dessa forma, buscar uma superação de práticas excludentes, especialmente, em função de uma concepção esportivizada.

Palavras chave: Cultura Corporal, Educação Física, Inclusão.

ABSTRACT

The present study of theoretical revision focused on the Movement Body Culture as a pedagogical content of School Physical Education in the perspective of social inclusion. The Movement's Body Culture, specificity of the area, opens the possibility of a new configuration of Physical Education, since it is oriented to cultural diversity and also to conceptions that surpass the sportivized and technicist vision of Physical Education. The objective of this research was to understand how the Culture Body of the Movement can translate into an inclusive possibility in line with the current pedagogical perspectives with methodological proposals that respect the differences of the subjects. With regard to the methodological aspects, the scientific bases of data such as Scielo, Lilacs and, also, theoretical references that deal with the subject were researched. From the theoretical surveys it was possible to make some considerations that indicate that the Body Culture of the Movement has as its characteristics cultural diversity and inclusion as pedagogical principles and, in this way, seeks to overcome exclusive practices, especially in function of a sportivized conception.

Key words: Body Culture, Physical Education, Inclusion.

INTRODUÇÃO

Nessa pesquisa tem-se como discussão central abordar a Cultura Corporal do Movimento como conhecimento específico da Educação Física Escolar e verificar até que ponto ela pode se traduzir em uma práxis inclusiva por meio dos esportes, danças, jogos, ginásticas, lutas e do atletismo, que são manifestações da Cultura Corporal do Movimento e, portanto, necessárias ao desenvolvimento integral do Ser (GAYA; GAYA, 2013).

Para isso precisamos entender que uma escola inclusiva é aquela que se abre, acolhe e educa de forma integral a todos os alunos, sejam eles portadores de necessidades educacionais especiais ou não. (MANTOAN, 2003).

Abordamos aqui a Cultura Corporal do Movimento porque ela engloba tudo aquilo que “homens e mulheres acrescentaram à natureza com finalidade de expressar sentimentos, emoções e desejos, aquilo que ultrapassa os determinismos físicos e biológicos” (Gaya; Gaya, 2013, p. 44).

Como discorre Bento (2004), no universo da cultura se configuram construções de sentidos humanos da vida, com modificações da sua forma de expressão em concordância com o contexto histórico-social e na dependência da força criativa de pessoas e grupos.

Ressaltando que é importante o desenvolvimento como individual e único de ser humano para ser humano, mesmo que esteja englobado dentre uma classe ou grupo, em um mesmo cenário ou enredo, seja em escolas, academias, clubes, ou no cotidiano (BENTO, 2004).

A importância dessa inclusão é o modo de como introduzir pessoas que ainda não foram incluídas, de alguma maneira, nas atividades que envolvem a Cultura Corporal do Movimento nas Escolas, através da Educação Física, e também reintroduzir aquelas que de algum modo, em alguma(s) atividade(s) foram excluídas por não terem obtido resultados e serem “taxados” de menos habilidosos. Será necessário fazer algumas perguntas, sem as quais seria desnecessária a presente pesquisa: Por que incluir? Como incluir? Para que incluir?  Mantoan (2003, p. 23) diz que “[...] a inclusão é produto de uma educação plural...”.

“Ensinar, na perspectiva inclusiva, significa dar novo significado ao papel do professor, da escola, da educação e de práticas pedagógicas que são usuais no contexto excludente do nosso ensino, em todos os níveis.” (MANTOAN, 2003, p. 54).

É necessário compreender a participação e valorização de cada aluno, para isso, os professores devem ter uma análise particular de cada um, entender quais são as limitações, as dificuldades, bem como, as qualidades e capacidades de cada um deles nas diversas atividades aplicadas (CAVALCANTE, 2007).

Acreditar - se que ao final dessa pesquisa, possa - se obter e desenvolver uma análise construtiva na qual tenha-se como resultado uma melhor compreensão e um melhor entendimento de uma inclusão real e justa, sem ser somente na parte teórica, mas que também resulte na prática, para que, a Educação Física seja realmente trabalhada na perspectiva da Cultura Corporal do Movimento na inclusão escolar.

Por sua vez, - as temáticas recorrentes da cultura corporal - devem ser tratados na escola como conteúdos curriculares e não puramente enquanto atividades práticas sem nenhum tipo de reflexão requerendo uma metodologia motivadora e criativa ao contrário do modelo punitivo como tradicionalmente é desenvolvido quando surgem apenas como reflexo da esportivização excessiva da Educação Física. (BRACHT, 2003)

CULTURAL CORPORAL DO MOVIMENTO

Antes de tudo precisa-se entender que a maneira como o ser humano se expressa é reflexo da cultura em que cada um está inserido. A relação entre corpo e sociedade envolve a Cultura Corporal do Movimento, ao longo da vida e da história se configura como um conhecimento que vai sendo construído e reconstruído. No amplo campo da cultura é que está inserida a cultura corporal do movimento, sendo componente da cultura humana, condicionada histórica e socialmente. Dentro do contexto da cultura corporal do movimento estão atribuídas as diferentes manifestações corporais, sendo assim, os esportes, jogos, danças, ginasticas, brincadeiras, lutas e rodas exprimem sentido e significado para quem a produziu. Ao estar ligado ao mundo em que vive o corpo humano, cria movimentos e ao mover se, cria sentidos, desequilibra, inverte.

Por isso que as diferentes e variadas expressões da cultura corporal do movimento devem ser tratadas na escola como conteúdo importante, metodologicamente distribuído no tempo e adaptado às condições espaciais e materiais concretas de cada comunidade, e ainda avaliando-se se os conhecimentos referentes aos temas abordados foram realmente apreendidos em suas múltiplas possibilidades, a partir da perspectiva que contempla uma pedagogia crítica, criativa e emancipatória - que aponte os problemas, e coletivamente encontre soluções - construindo, assim, a possibilidade de um conhecimento contextualizado e transformador (BRACHT, 2003).

Em seguida Bracht (2005), realiza uma reflexão a respeito da seguinte questão: cultura corporal, cultura do movimento, ou cultura corporal de movimento? O autor afirma que qualquer um desses termos pode embasar uma nova construção do objeto da Educação Física, desde que seja colocado o peso maior sobre o conceito de cultura, necessário para a “desnaturalização” do nosso objeto, refletindo a sua contextualizaçao social e histórica e redefinido a relação entre Educação Física, natureza e conhecimento.

Escobar e Taffarel (2009), posteriormente, vão defender que o objeto de estudo específico da Educação Física é fruto, numa perspectiva marxista, do trabalho humano não-material.

O dilema “sobre versus “com” a cultura corporal de movimento não pode ser resolvido pela via fenomenolóigica, pois se trata de uma ambigüidadeinerente à Educação Física como disciplina escolar, mas que pode ser mais bem compreendida pela diferenciação entre significação existencial (que se refere aos vividos intuitivos, pré-reflexivos, nos quais, o sentido equivale à existência) e significação conceitual (que agrega outros sentidos, na medida em que é um saber intersubjetivo), pois é a esta última que se refere a abordagem culturalista da Educação Física, quando pretende a “apropriação crítica da cultura corporal do movimento (BETTI, 2005).

Bracht (2005) explicita sua preferência pela expressão “cultura corporal do movimento”, pois a palavra “corporal”, por si só, não contempla a especificidade da Educação Física, pois seria uma redundância já que toda cultura é corporal. Já a expressão “movimento”, sem uma reflexão aprofundada, poderia gerar a ideia de um objeto mecanicista e descontextualizado.

O conhecimento específico da Educação Física advém, portanto, de tal atividade: “no momento damos a essa área de conhecimento que se constrói a partir dessas atividades a denominação de ‘Cultura Corporal’ (TAFFAREL, 2009, p. 174).

APLICAÇÃO NA AULA DE EDUCAÇÃO FISICA

Diante disso os conteúdos aplicáveis na Educação Física segundo Darido (2003), se da a partir da importância de se entender e abordar o conceito de conteúdos e suas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais proposta por Coll et al. (2000) e suas influências para a Educação Física escolar. Analisando como ao longo do tempo a Educação Física apenas privilegiou um ou outro tipo de conteúdo.

Para esclarecer e entender mais dessa discussão é fundamental entender o conceito de conteúdo. Coll et al. (2000) definem conteúdo como uma seleção de formas ou saberes culturais, conceitos, explicações, raciocínios, habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses, modelos de conduta, etc, cuja assimilação é considerada essencial para que se produza um desenvolvimento e uma socialização adequada ao aluno.

            E esta classificação, baseada em Coll et al. corresponde às seguintes questões: “o que se deve saber?” (dimensão conceitual), “o que se saber fazer?” ( dimensão procedimental), “e o que se deve ser?” (dimensão atitudinal), Cuja finalidade é alcançar os objetivos educacionais propostos para cada faixa etária e/ou publico alvo.

Lembrando que na prática docente não há como dividir os conteúdos na dimensão conceitual, procedimental e atitudinal, embora existe ênfases em determinadas dimensões. Por exemplo, o professor solicita aos alunos para realizarem o aquecimento no inicio de uma aula, enquanto realizam esse aquecimento o professor pode conversar com eles sobre a importância de realizar tais movimentos. Sendo assim tanto o conceitual quanto o procedimental estão sendo trabalhados nesta atividade. Ou se o professor sugere que os alunos realizem estes exercícios em duplas, se discute a importância do respeito ao próprio limite e ao do colega. Deste modo estamos tratando a dimensão atitudinal (DARIDO, 2003).

Mas vale a pena ressaltar que mais que tratar apenas questões de Conceito, procedimento e atitude, de acordo com Coll et al. (2000) há uma reinvidicação para que seja ensinado e aprendido na escola outros conceitos considerados tão ou mais importantes do que fatos e conceitos, como por exemplo, estratégias ou habilidades para resolver problemas, saber trabalhar em equipe, mostrar-se solidário com os colegas, respeitar e valorizar o trabalho dos outros ou não discriminar as pessoas por motivos de gênero, idade ou tipo de características individuais.

Para Godoy (2000) podemos definir deficiência como a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica. É todo e qualquer comprometimento que afeta a integridade das pessoas e traz prejuízos na sua locomoção, na coordenação de movimento, na fala, na compreensão de informações, na orientação espacial ou na percepção e contato com as outras pessoas.

PAPEL DO PROFESSOR

Com isso o professor de Educação Física assume uma função especial, pela proximidade, pelo espaço e pela interação direta que tem com os alunos; ele tem a possibilidade de desenvolver um olhar diferente sobre o processo de ensino-aprendizagem, garantindo que todos os alunos participem plenamente na sociedade e que tenha igualdade de oportunidades (SANTOS, 2003).

Culturalmente, a formação pedagógica do professor de Educação Física vem sendo colocada em plano secundário, prevalecendo os conteúdos das disciplinas de cunho técnico- desportivo, corporal e biológico, em detrimento das disciplinas pedagógicas (SILVA, 1993).

Sendo assim, a formação vem privilegiando o desenvolvimento de capacidades e habilidades físicas, que tem por prioridade o desempenho físico, técnico e o corpo enquanto objeto de consumo. Com base nessa visão, a cultura desportiva e competitiva, historicamente dominante nas propostas curriculares da Educação Física, pode criar resistências à inclusão de pessoas que são encaradas como menos capazes para um bom desempenho numa competição. Muitas das proposições de atividades feitas em Educação Física, realizadas na base da cultura competitiva, podem ser observadas nas escolas (SILVA, 1993).

Cabe ao professor analisar e decidir sobre os procedimentos de ensino a serem adotados com cada aluno. Esses procedimentos educacionais devem ser flexíveis, adequados às habilidades individuais dos alunos (MIURA, 1999).

Segundo Gomes (2000), a Educação Física Adaptada e/ou Educação Física Especial tem sua prática direcionada aos portadores de deficiência e desde sua origem teve uma preocupação voltada para o aluno em sua totalidade, tendo como conceito ser a ciência que proporciona ao aluno o conhecimento de seu corpo, levando-o a usá-lo como instrumento de expressão consciente, na busca de sua independência e satisfação de suas necessidades. Ela oportuniza também a evolução do aprendizado como consequência natural da prática das atividades propostas. Quanto mais espontânea e prazerosa for esta atividade, maiores benefícios trarão para o desenvolvimento integral do aluno.

Reforça essa ideia ao afirmar que, o educador precisa conhecer o seu aluno e valorizar as habilidades que ele possui criando oportunidades para que ele possa desenvolvê-las, potencializá-las e harmonizá-las ao seu próprio projeto de vida. E isto irá influenciar muito no que e como o aluno irá aprender (DOHME, 2003).

A prática desportiva, quando usada sem os princípios da inclusão, é uma atividade que não favorece a cooperação, que não valoriza a diversidade e que pode gerar sentimentos de satisfação e de frustração. Essa cultura competitiva constitui uma fonte de exclusão e pode se consistir numa barreira à educação inclusiva. É bom salientar que, na rede de ensino, a Educação Física é a única disciplina que tem legislação específica para que certos alunos sejam dispensados de suas aulas, sendo que, determinados perfis biológicos de desempenhos motores podem ser uma das normas dessa dispensa. Como exemplo de legislação específica dessa área pode-se citar a Resolução nº 11, de 18 de janeiro de 1980, da Secretaria de Estado da Educação, do Estado de São Paulo, ainda em vigor, que dispõe sobre aulas de Educação Física nos estabelecimentos da rede estadual de ensino.

QUE É INCLUSÃO?

Contudo precisamos entender que a inclusão não é desencarnada. Requer sensibilidade no respeito às diferenças, mas não se esgota nesse aspecto sensível. Para Santos & Paulino (2004) a inclusão abrange três dimensões que interagem dinamicamente e que se influenciam reciprocamente da construção de culturas de inclusão, a dimensão do desenvolvimento de políticas de inclusão e a dimensão da orquestração das práticas de inclusão. A primeira se refere à construção de valores inclusivos que favoreçam a compreensão e o respeito às diferenças; a segunda e ao pensar sobre esses valores e planejar ações que possibilitam a participação efetiva de todos nas diferentes áreas da vida humana; a terceira se refere à orquestração das práticas de inclusão e está ligada ao fazer a inclusão. Com tudo isso citado a cima estamos levando como cenário as aulas de Educação Física na escola uma construção de valores éticos, estéticos, políticos e filosóficos.

A Educação Física começa a se preocupar com a atividade física e o esporte para pessoas com necessidades especiais apenas, aproximadamente, no final dos anos de 1950, e o enfoque inicial para a prática dessas atividades foi o médico. Os programas eram denominados ginástica médica e tinham a finalidade de prevenir doenças, utilizando para tanto exercícios corretivos e de prevenção, ou seja, eram relacionados com a reabilitação (COSTA; SOUSA, 2004).

De acordo com Oliveira (2002), o paradigma da escola inclusiva pressupõe, conceitualmente, uma educação apropriada e de qualidade dada conjuntamente para todos os alunos – considerados dentro dos padrões da normalidade com as necessidades educacionais especiais – nas classes do ensino comum, da escola regular, onde deve ser desenvolvido um trabalho pedagógico que sirva a todos os alunos, indiscriminadamente. Sendo assim, o ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos, independentemente de seu talento, deficiência (sensorial, física ou cognitiva), origem socioeconômica, étnica ou cultural.

Além disso, concordando com Ribeiro e Araújo (2004), temos que reconhecer que nem sempre há uma identificação dos futuros profissionais com a área de Educação Física Adaptada, por motivos diveresos.

Neste momento, cabe dizer que uma causa provável seja ainda a dificuldade em se trabalhar com as diferenças, com o corpo não-perfeito, ‘incapaz’ de atingir o rendimento que se está acostumado a atingir em situações de ‘normalidade’. Isso constitui, provavelmente, resquício de uma Educação Física tecnicista, ou mesmo o fato de a formação do professor de Educação Física ser realizada em cursos de graduação que, ainda, representam essa característica (RIBEIRO; ARAÚJO, 2004, p. 20).

Quando afirma que a Educação Física não está preparada para tratar o uno e o diverso simultaneamente, conforme aponta a proposta de inclusão. Seus conteúdos estão parados no tempo, o que a obriga a recorrer às adaptações (CARMO, 2002).

Para Sassaki (1997), a inclusão social vem acontecendo e se efetivando em países desenvolvidos desde a década de 80. De acordo com Aguiar (2004), no Brasil foi só a partir da Constituição da República Federativa de 1988 que aumentou o número de estudos voltados para essa área. Ainda segundo Aguiar, no campo da educação formal eles começaram a ocorrer, de forma mais sistemática, após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996.

LEIS

Para tanto hoje contamos com Leis que garantem a todos que possuem qualquer tipo de deficiência ou necessidades especiais o direito de serem inclusos em todas as atividades, desde que sejam olhadas com olhos de quem entenda suas reais capacidades de aprendizado e desenvolvimento e desde modo sejam trabalhados.

 Todas as legislações propostas, votadas e sancionadas até o presente momento visam dirimir quaisquer possibilidades de discriminação contra as diferenças humanas que fogem à normalidade.

A lei n° 11.645/08 altera a lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei n° 10. 639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. (BRASIL, 1996).

Instituiu-se a Lei 13.146/15, lei que trata especificamente da inclusão da pessoa com deficiência. É a chamada Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) (BRASIL, 2015).

Segundo Mantoan (2003) surge, dessa forma, uma política nacional de educação, ancorada na Lei nº 4.024/61 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBD propõe enquadrar os alunos excepcionais na rede regular de ensino (art. 58, parágrafo 3) consta que a substituição do ensino regular pelo ensino especial é possível.

Um ano após a aprovação da Constituição Brasileira (1988) respalda os que propõem avanços significativos pra a educação escolar de pessoas com deficiência, quando elege como fundamentos da República a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art.1, incisos II e III) e, como um dos seus objetivos fundamentais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, sexo, idade e quaisquer outras formas de discriminação à igualdade (art. 5) e trata, no artigo 205 e seguintes, do direito de todos à educação. No Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto – Artigo 205 que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de [...] atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rde regular de ensino (MANTOAN, 2003, p. 54).  

A INCLUSÃO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Historicamente a Política Nacional de Educação Especial garante o ensino regular aos estudantes com deficiências intelectuais, físicas, auditivas, visuais e com transtorno do espectro autista (TEA), desde a educação infantil até o ensino superior.

Mas é válido ressaltar que a inclusão no viés histórico não era muito favorecida, ou seja, a Educação Física nas abordagens Militar e Higienista faziam a exclusão dos mesmos, pois aqueles que não estavam nos padrões de normalidade ou que tivessem algum tipo de deficiência eram proibidos de participar das aulas. Houve também a abordagem Tecnicista, onde a exclusão era presente, pois os únicos valorizados nas aulas de Educação Física eram os mais habilidosos. Esse antagonismo tem, obviamente, enorme repercussões na forma como são encaradas as pessoas com necessidades especiais. (RODRIGUES, 2001, p. 23)

A Abordagem Desenvolvimentista fez surgir às primeiras propostas a favor da Inclusão, onde destacam também as abordagens construtivistas, critíco-superadora e sistêmica, que de alguma maneira já abordavam princípios de uma educação inclusiva. A abordagem Sistêmica surge como a primeira a discutir questões da inclusão, ou seja, a participação de todos, independentemente das diferenças. Um dos objetivos da Educação Física Escolar é contribuir para a formação geral dos desenvolvimentos das capacidades motoras, cognitivas, afetivas e sociais. A Conferência Mundial de Salamanca sobre educação para necessidades Especiais, há 23 anos, endossou a ideia da educação inclusiva. (UNESCO, 1994)

Pois a Educação Física melhora a qualidade de vida do indivíduo, além de proporcionar prazer/lazer sem desconsiderar na prática a deficiência e limites do mesmo, mas evidencia a eficiência e as possibilidades. Com o desenvolvimento de uma Educação Física Inclusiva às pessoas com deficiência e/ou excluídas da sociedade, se demonstra à mesma sociedade que todo cidadão, independentemente do posto social, com ou sem deficiência, possui seus respectivos limites, porém todos são capazes de viver com eles e melhorá-los com a pratica de alguma atividade física, sem que a sociedade destine um olhar com tom de julgamento preconceituoso ou, até mesmo, de compaixão. Assim evitando qualquer forma de exclusão. Desse modo se promove uma sociedade que respeita e valorize as diferenças individuais, onde a convivência dentro da diversidade humana seja através da compreensão e da cooperação social (CIDADE; FREITAS, 1997).

Tudo isso partindo do mestre, atuando como transformador da educação, sentido esse proposto por

Educar significa instituir a integração dos educandos como agentes em seu lugar designado num conjunto social, do qual nem eles, nem seus educadores, têm o controle. Significa assegurar ao mesmo tempo a promoção desses mesmos educandos e, portanto, de seus educadores, em atores de sua própria história individual e da história coletiva em curso. (NÓVOA, 1997, p.109)

A Educação Física na escola se forma em uma grande área de adaptação. Através dela se permite a participação de crianças e jovens em atividades físicas adequadas às suas possibilidades, proporcionando que sejam valorizados dentro dos seus respectivos potenciais individuais e através desses se integrem num mesmo mundo. A legislação determina o direito de todos à educação e a inclusão das pessoas com deficiência no processo educacional. É primordial, nesse processo, a Educação Física, pois age no desenvolver educativo como um todo, associando o corpo e a mente, aprimorando as habilidades físicas, morais e sociais de cada educando; utilizada de maneira bem aplicada é uma das melhores e mais prazerosas formas de inclusão. “Na escola, portanto, quem deve determinar o caráter de cada dinâmica coletiva é o professor, a fim de viabilizar a inclusão de todos os alunos. Esse é um dos aspectos que diferencia a prática corporal dentro e fora da escola” (PCN’S, 1997, p. 30).

Os PCN´S (1998) apresentam três princípios que podemos orientar o professor de Educação Física na construção destas culturas: o princípio da inclusão, que tem como objetivo “a inclusão do aluno na cultura corporal do movimento, por meio da participação e reflexão concretas afetivas” (PCN’s, 1998, p.19.).

Dohme (2003) ressalta que a educação considerada em sua totalidade deve possibilitar o desenvolvimento não só em conhecimentos, mas também nos aspectos: físico, intelectual, afetivo, social, artístico, espiritual e ético.

O movimento é o atributo fundamental da Educação Física. Ao mesmo tempo, o autor considera que não existe Educação Física sem o movimento do humano (OLIVEIRA, 2006).

            O professor de Educação Física sempre tem essa imagem positiva, diante dos alunos, e é essa imagem que serve para mostrar o papel fundamental do profissional em sanar a exclusão, e atuar na inclusão de alunos com necessidades especiais no âmbito escolar e consequentemente no âmbito social também.

Por isso, mais frequentemente o professor é solicitado para participar de projetos de inovação na escola, através dessa modernização é onde haverá o aperfeiçoamento do professor atendendo assim às necessidades que não se restringem somente à grade curricular e como resultado a inclusão se torna uma consequência natural de todo esforço e reestruturação no desenvolvimento do ensino básico através da cultura (MANTOAN, 1997, p. 120).

            Através de um estudo etnográfico, investigam dois casos de inserção da educação física na escola e analisam a construção de culturas de cotidiano da instituição educacional. Historicamente, reconhecem culturas construídas em torno da ginástica do asseio e vigor físico e do esporte virtuoso. Entretanto, no cotidiano da escola, identificam outras culturas construídas. Uma educação física aderente às expectativas da escola, com um olhar mais da tradição histórica oficial da área e outra não esperada, não prevista, não escriturada, apontando potencialidades de construções críticas de seu papel na escola. Podemos indagar que o objeto da educação física, cultura (corporal), como chamam os autores, está em meio a essas construções (RODRIGUES; BRACHT, 2010).

CONCLUSÃO

            O estudo específico da Cultura Corporal do Movimento na Educação Física Escolar, na perspectiva crítico-superadora, mostra alguns pontos próximos outros distintos para que se possa servir para um amplo campo na área educacional.

            A reflexão da cultura corporal incentiva o quanto se pode fazer durante as aulas de Educação Física. O papel deste trabalho, demonstrará os fundamentos, os limites, as leis e possibilidades, que o assunto aborda para os diferentes momentos e ponto de vista.

            Acreditar e defender que a cultura corporal se configura dimensão constituinte da produção cultural humana, condicionada histórica e social, concordar com permanência como uma estratégia para dar dimensão corporal humana do movimento, mostra o quanto pode favorecer as aulas de Educação Física, podendo reconhecer todos os específicos domínios no mundo, na produção do conhecimento e nas práticas pedagógicas.

            Buscar o entendimento específico para se ter o fundamental para o desenvolvimento que a área necessita, reconhecendo que os aprendizados podem alcançar e articular toda a especificidade sobre o assunto. Porque o papel da Educação Física e do professor de Educação Física é o de facilitar o acesso e a apropriação crítica da cultura corporal do movimento, relacionando o saber movimentar, saber sobre esse movimentar.

            O papel importante do professor, com o auxílio da escola, é de ajudar o indivíduo no processo de mediação de saber para a consciência, oferencendo autonomia na cultura corporal do movimento. O quanto os jogos, as brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas, o atletismo e as lutas podem proporcionar o desenvolvimento, fazendo com que o indivíduo, consiga aprimorar o “eu”, como indivíduo, que precisa transformar o próprio ser.

            A forma como integrar e educar a todos os alunos, inclusive os alunos com necessidades especiais, que precisam muito se desenvolver em diferentes aspectos.

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[1] Graduandos do curso de licenciatura em Educação Física do Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIITALO)

[2]  Docente do curso de Educação Física do Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIITALO)