O que se pode inferir a partir da visão do narrador em relação a felicidade em seu ambiente familiar

(EsPCEx - 2015)

Leia o trecho do conto “O Peru de Natal” e responda.

“O nosso primeiro Natal em família, depois da morte de meu pai, acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.

Morreu meu pai sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto da família... A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.

Foi decerto por isso que me nasceu, esta sim, espontaneamente, a ideia de fazer uma das minhas chamadas “loucuras”. Essa fora, aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa prima, aos dez anos...eu consegui no reformatório do lar e vasta parentagem, a fama conciliatória de “louco”. “É doido coitado!” (…)

Foi lembrando isso que arrebentei com uma das minhas “loucuras”:

– Bom, no Natal, quero comer peru.

Houve um desses espantos que ninguém não imagina.”

Nesse fragmento, o universo ficcional constitui

A

o ponto de vista externo do narrador, que valoriza a célula dramática das novelas românticas.

B

característica da primeira geração modernista, que repudiava o conservadorismo.

C

a temática da prosa de costumes, enaltecendo a primeira geração romântica.

D

uma temática nacionalista ao exaltar o conservadorismo.

E

a valorização do sistema patriarcal.

O que se pode inferir a partir da visão do narrador em relação a felicidade em seu ambiente familiar

mães que sempre me divinizaram a vida. Era sempre aquilo: vinha aniversário de alguém e só então faziam peru naquela casa. Peru era prato de festa: uma imundície de parentes já preparados pela tradição, invadiam a casa por causa do peru, das empadinhas e dos doces. Minhas três mães, três dias antes já não sabiam da vida senão trabalhar, trabalhar no preparo de doces e frios finíssimos de bem-feitos, a parentagem devorava tudo e inda levava embrulhinhos pros que não tinham podido vir. As minhas três mães mal podiam de exaustas. Do peru, só no enterro dos ossos, no dia seguinte, é que mamãe com titia inda provavam num naco de perna, vago, escuro, perdido no arroz alvo. E isso mesmo era mamãe quem servia, catava tudo pro velho e pros filhos. Na verdade, ninguém sabia de fato o que era peru em nossa casa, peru resto de festa. [...] Fonte: MENDES, I. Mário de Andrade Contos Novos. São Paulo: Poeteiro Editor Digital PROJETO LIVRO LIVRE, 2016. 2. A partir da leitura e das reflexões realizadas, vamos responder ao que se pede a seguir: a. Em relação ao título “Peru de Natal”, que inferências você pode ter em relação ao texto? Por ser um gênero textual, ele se encaixa como literário ou jornalístico? b. Como você classificaria o tipo de narrador neste conto de Mário de Andrade? Há na narrativa, a presença de um narrador imparcial que só observa as cenas e as personagens ou trata-se de um narrador que se envolve por meio de sentimentos e emoções como se fosse também personagem do enredo? LÍNGUA PORTUGUESA | 49 12 | LÍNGUA PORTUGUESA c. No trecho do conto “Peru de Natal”, quais personagens você identifica na narrativa? d. É possível identificar em que ambiente se passa essa história? Em caso positivo, identifique-o. e. A partir do 5º parágrafo, abre-se um diálogo entre o narrador e a “tia solteirona”. No quadro a seguir, transcreva um discurso direto que represente o desejo do narrador de comer peru e um discurso indireto da tia que deseja impedir que se convide os parentes para a ceia. DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO 3. Em relação à descrição, à ambientação, às relações subjetivas entre as personagens nas cenas, responda ao que se pede a seguir: a. O que se pode inferir a partir da visão do narrador em relação à felicidade em seu ambiente familiar, em “Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas.”? Você acredita que esse personagem narrador era realmente feliz em seu lar? LÍNGUA PORTUGUESA | 13 b. O narrador, ao descrever o seu próprio pai, caracteriza-o física ou psicologicamente? Explique. c. Observe a descrição a seguir e comente que sentimentos o narrador demonstra ter em relação ao seu próprio pai. [...] “à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.” [...] d. No segundo parágrafo, o narrador é repreendido pela mãe quando sugere para ela ir ver uma “fita no cinema”. O que você entende pela expressão “fita no cinema” e por que a mãe do personagem narrador ficou irritada com ele? e. Após a morte do pai, com a chegada do Natal, por que o narrador exigiu que na ceia houvesse um peru à mesa? 50 | LÍNGUA PORTUGUESA 12 | LÍNGUA PORTUGUESA c. No trecho do conto “Peru de Natal”, quais personagens você identifica na narrativa? d. É possível identificar em que ambiente se passa essa história? Em caso positivo, identifique-o. e. A partir do 5º parágrafo, abre-se um diálogo entre o narrador e a “tia solteirona”. No quadro a seguir, transcreva um discurso direto que represente o desejo do narrador de comer peru e um discurso indireto da tia que deseja impedir que se convide os parentes para a ceia. DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO 3. Em relação à descrição, à ambientação, às relações subjetivas entre as personagens nas cenas, responda ao que se pede a seguir: a. O que se pode inferir a partir da visão do narrador em relação à felicidade em seu ambiente familiar, em “Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas.”? Você acredita que esse personagem narrador era realmente feliz em seu lar? LÍNGUA PORTUGUESA | 13 b. O narrador, ao descrever o seu próprio pai, caracteriza-o física ou psicologicamente? Explique. c. Observe a descrição a seguir e comente que sentimentos o narrador demonstra ter em relação ao seu próprio pai. [...] “à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.” [...] d. No segundo parágrafo, o narrador é repreendido pela mãe quando sugere para ela ir ver uma “fita no cinema”. O que você entende pela expressão “fita no cinema” e por que a mãe do personagem narrador ficou irritada com ele? e. Após a morte do pai, com a chegada do Natal, por que o narrador exigiu que na ceia houvesse um peru à mesa? LÍNGUA PORTUGUESA | 51 14 | LÍNGUA PORTUGUESA AULAS 5 E 6 – ANALISANDO UM CONTO DE ARTUR AZEVEDO Objetivos das aulas: • Reconhecer diferentes elementos que estruturam o texto narrativo (personagens, marcadores de tempo e de localização, sequência lógica dos fatos) na construção de sentido do conto, apropriando-se dele no processo de elaboração do sentido; • Ler e compreender, de forma autônoma, o gênero literário conto, explorando as partes que compõem esta modalidade textual, bem como selecionar procedimentos e as estratégias de leitura adequadas ao contexto, aos objetivos, ao suporte e às características do gênero conto, de forma a expressar a avaliação do texto lido. AULA 5 – Leitura do conto na íntegra e observação das partes que estruturam o conto: 1. Didaticamente, o conto a seguir foi dividido em 5 partes para que você possa reconhecer como se organiza a narrativa desse gênero textual. Agora, vamos realizar uma leitura compartilhada para responder ao que se pede. TEXTO 1 - AS PARADAS (Artur Azevedo) PARTE 1 – APRESENTAÇÃO DA NARRATIVA: O Norberto, que a princípio aceitou com entusiasmo as paradas dos bondes de Botafogo, é hoje o maior inimigo delas. Querem saber por quê? Eu lhes conto: O pobre rapaz encontrou uma noite, na Exposição, a mulher mais bela e mais fascinante que os seus olhos ainda viram, e essa mulher — oh, felicidade!... oh, ventura!... —, essa mulher sorriu-lhe meigamente e com um doce olhar convidou-o a acompanhá-la. O Norberto não esperou a repetição do convite: acompanhou-a. PARTE 2 – DESENVOLVIMENTO DOS CONFLITOS Ela desceu a Avenida dos Pavilhões, encaminhou-se para o portão, e saiu como quem ia tomar o bonde; ele seguiu-a, mas estava tanto povo a sair, que a perdeu de vista. Desesperado, correu para os bondes, que uns seis ou sete haviam prontos a partir, e subiu a todos os estribos, procurando em vão com os olhos esbugalhados a formosa desconhecida. — Provavelmente foi de carro, pensou o Norberto, que logo se pôs a caminho de casa. Deitou-se mas não pôde conciliar o sono: a imagem daquela mulher não lhe saía da mente. Rompia a aurora quando conseguiu adormecer para sonhar com ela, e no dia seguinte não se passou um minuto sem que pensasse naquele feliz encontro. Daí por diante foi um martírio. O desditoso namorado começou a emagrecer, muito admirado de que lhe causasse tais efeitos um simples olhar e um simples sorriso. PARTE 3 – COMPLICAÇÃO (CONFLITOS QUE CONDUZEM AO

O que se pode inferir a partir da visão do narrador em relação a felicidade em seu ambiente familiar
O que se pode inferir a partir da visão do narrador em relação a felicidade em seu ambiente familiar
O que se pode inferir a partir da visão do narrador em relação a felicidade em seu ambiente familiar