Intoxicação por medicamentos o que fazer

Medicamentos, alimentos, plantas, produtos químicos, animais peçonhentos, são muitas as possibilidades de alguém se intoxicar ou envenenar. Sintomas típicos desses quadros, como alterações de consciência, equilíbrio, visão, frequência cardíaca, respiração, temperatura corporal, além de dores, náuseas, diarreia, asfixia, irritação de pele e queimação em mucosas (boca, garganta, esôfago), em geral, ocorrem por ingestão, penetração, absorção e inalação.

Quando configuram acidentes, as principais vítimas são crianças, idosos, pessoas desavisadas ou com alterações psicológicas e trabalhadores fabris. Mas ainda podem ser deliberadas, caso se aceite o risco ou deseje intencionalmente, o que é mais fácil de ocorrer nas situações em que se atenta contra a vida alheia ou de suicídio, não excluindo a possibilidade, de novo, do agir de transtornos comportamentais, incluindo a existência de alguma dependência química.

Agora, para saber a gravidade e como agir, deve-se analisar, junto à presença dos sinais e sua intensidade, se possível: a duração do tempo de exposição ao agente (quanto maior, maiores os efeitos), sua concentração (se o dano se deu por muito ou por pouco), sua toxicidade (alguns agentes são mais tóxicos que outros, mesmo em iguais concentrações), sua natureza (se é gás, líquido, vapor), e a suscetibilidade individual (algumas pessoas são mais sensíveis que outras).

Como agir num primeiro momento?

Antes de ir direto ao hospital, a primeira conduta a ser tomada (com base nos fatores do processo de intoxicação e envenenamento citados), é verificar se de fato a pessoa está em perigo. Não é porque tenha simplesmente tido contato inadequado com alguma substância, que isso ocorrerá.

Algumas não são tão nocivas e não requerem tratamento. Entretanto, todo e qualquer sintoma não deve ser desprezado, como deve ser investigado o quanto antes pelo médico.

"Em caso de dúvidas sobre a gravidade ou como agir, melhor levar ao pronto-socorro. Em casa, às vezes, também mais importante do que fazer algo, é não fazer. Por exemplo, uma prática comum é as pessoas administrarem leite à vítima de envenenamento. No entanto, isso pode causar mais malefícios do que benefícios, inclusive, aumentar a absorção do agente tóxico", informa Cíntia Maria de Melo Mendes, toxicologista e coordenadora do curso de medicina do centro universitário Uninovafapi, do grupo Afya Educacional, no Piauí.

Mas enquanto a ajuda não chega, é possível realizar uma limpeza (com água corrente e, em áreas externas, sabão) da pele ou olho que teve contato com alguma toxina, assim como, porventura, a retirada de roupas contaminadas. Se o agente tiver sido inalado (gases tóxicos, aerossóis, fumaça), é possível levar a pessoa para um local bem ventilado, para facilitar sua respiração.

Nauseada e prestes a desmaiar, deitá-la de lado para não se engasgar. Com dores no peito, afrouxar suas roupas. Quem está junto também pode realizar de urgência uma reanimação cardiopulmonar.

Induzir vômito pode ser má ideia

Imagem: Getty Images

Quase qualquer substância química engolida ou inalada em superdosagens (produtos de limpeza, higiene e industriais, tintas, solventes, remédios) acaba sendo perigosa. Algumas, fora as alterações que causam no organismo, também podem queimar, desde lábios e vias aéreas até estômago e pulmões, e são classificadas como cáusticas ou irritantes. Provocam dores intensas, dificuldade em engolir, tosse, falta de ar, enjoo e queda de pressão arterial.

"Por isso, não se deve forçar o vômito, caso se tenha ingerido um ácido ou uma base forte, o que é muito mais passível de acontecer com crianças pequenas. Se os pais induzirem isso, além delas terem se queimado na entrada, se queimarão com a saída do conteúdo gástrico", alerta Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e da Academia Americana de Pediatria, acrescentando para se tomar muito cuidado com removedores, desengordurantes, desinfetantes e deixá-los longe do alcance dos pequenos.

Em se tratando da ingestão acidental de medicamentos, provocar sua expulsão é um tanto menos pior, mas não exclui a necessidade de se procurar um médico, ainda mais havendo risco de interação medicamentosa (isso pode ser checado em bula) e se as drogas forem fortes, para dormir, febre, inflamação ou agirem diretamente na circulação, podendo colocar a pessoa em risco de sofrer uma queda abrupta de pressão arterial, insuficiência respiratória, arritmia cardíaca e ir a óbito. Nessas ocasiões, também nada deve ser dado a ela para tomar em casa.

Correndo para o pronto-socorro

Imagem: iStock

Ser atendido logo por especialistas é necessário para passar por avaliações, exames, monitoramentos (pois o indivíduo pode ter algumas complicações de risco em questão de minutos ou poucas horas), receber antídotos, medicamentos para os sintomas, ou oxigênio se estiver com a saturação baixa, além de fazer uma lavagem gástrica ou desintoxicação. Casos graves podem exigir hemodiálise, tratamento para insuficiência hepática e até transplantes.

"É preciso agir contra o tempo para prevenir efeitos colaterais permanentes ou mesmo morte, na intoxicação ou envenenamento por monóxido de carbono, agentes corrosivos, inseticidas, medicamentos como diazepam e clonazepam, da classe dos benzodiazepínicos, além dos de coração e pressão", enumera Ricardo Cantarin, infectologista do Hospital HSANP, em São Paulo.

Também por ferro, chumbo, ingestão de peixes e mariscos, picadas de aranha, abelha, vespa, escorpião e serpente e plantas e arbustos (comigo-ninguém-pode, mamona).

Na correria pela sobrevivência, muitos também esquecem de fotografar ou levar consigo para o hospital, em segurança, aquilo que provocou o mal. Por exemplo, embalagens de produtos, amostras vegetais e medicamentos que devem ser entregues ao médico ou pessoal socorrista para identificação.

É de praxe os hospitais acionarem centros específicos de atendimento a intoxicados, vinculados ao Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas).

Uma intoxicação corresponde a uma exposição indevida ou em quantidade suficiente, por ingestão, inalação, injeção, contacto da pele ou ocular, a uma substância ou produto que pode provocar alterações no organismo ou mesmo levar à morte.

Quais são as principais causas?

A intoxicação pode ser causada por:

  • medicamentos, se tomados em doses mais elevadas do que as indicadas pelo médico
  • cosméticos e produtos de higiene, geralmente de baixa toxicidade (tenha em atenção produtos como é o caso de tintas para o cabelo)
  • produtos de limpeza, especialmente lixívias, tira-gorduras e desentupidores de canos, sendo que alguns destes produtos podem causar queimaduras graves
  • pesticidas (cumpra as regras de segurança, por exemplo use vestuário de proteção, uma vez que alguns destes produtos são absorvidos através da pele)

O que devo fazer em caso de uma intoxicação?

Em caso de um acidente por intoxicação, mantenha a calma. Não se precipite, mas não perca tempo. Contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250.

Que informações devo dar aos profissionais de saúde?

Após o contacto telefónico, responda às perguntas, indicando:

  • quem – idade, sexo
  • o quê – nome do medicamento ou produto (se possível tenha a embalagem consigo), animal, planta
  • quanto – quantidade ingerida (aproximadamente) ou tempo de exposição ao produto
  • quando – há quanto tempo
  • onde – em casa, na rua, no local de trabalho
  • como – em jejum, com alimentos, com bebidas alcoólicas

Como devo agir quando um produto tóxico entra em contacto com os olhos?

Se um produto tóxico entra em contacto com os olhos:

  • lave com água corrente durante 15 minutos, mantendo as pálpebras abertas
  • não aplique quaisquer produtos
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

O que devo fazer quando um produto tóxico entra em contacto com a pele?

Quando um produto entra em contacto com a pele:

  • retire as roupas contaminadas
  • lave abundantemente com água corrente durante 15 minutos
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

Como devo proceder em caso de inalação?

Em caso de inalação de um produto:

  • retire a pessoa fora do ambiente contaminado, de preferência para o ar livre
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

Como devo agir em caso de ingestão de um produto tóxico?

Em caso de ingestão de um produto tóxico:

  • não provoque o vómito
  • dê a beber alguns golos de água ou leite
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

O que devo fazer em caso de picadas de insetos?

Em caso de uma picada de abelha, vespa, lacrau ou cobra:

  • imobilize a zona atingida
  • aplique frio/gelo
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

O que devo fazer em caso de picadas de peixe aranha?

Em caso de uma picada de peixe-aranha:

  • imobilize a zona atingida
  • aplique calor
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

Para evitar picadas de peixe-aranha use calçado apropriado, sobretudo nas praias em que souber da sua existência.

O que devo fazer em caso de contacto com alforrecas?

Poderá desenvolver uma reação alérgica no local de contacto, cuja gravidade depende da intensidade da exposição e da sensibilidade individual.
Em caso de contacto com uma alforreca:

  • lave com água do mar sem esfregar (nunca use água doce, vinagre ou álcool)
  • aplique frio/gelo
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

Pode tentar remover os tentáculos com a ajuda de um cartão de plástico (por exemplo, cartão multibanco ou carta de condução). Não utilize pinças. Não coloque ligaduras.

Nunca toque nos tentáculos. Mesmo quando mortas, as células urticantes mantêm-se ativas. Evite tomar banho em locais com alforrecas.

Como devo agir se o conteúdo de uma cápsula de detergente atinge as mãos ou a boca de uma criança?

Quando uma cápsula de detergente rebenta nas mãos ou na boca de uma criança, pode atingir os olhos, a cavidade oral e a pele, provocando lesões nestes órgãos.
As lesões resultam, consoante o órgão atingido, do contacto direto com o produto:

  • na pele: eritema (pele vermelha, irritada)
  • nos olhos: ardor, olho vermelho, edema (inchaço) nas pálpebras ou mesmo uma queimadura química
  • na boca: vómitos, alterações na orofaringe (garganta), ou alterações respiratórias por aspiração do produto

Em caso de acidente com este tipo de produto:

  • lave abundantemente com água corrente
  • no caso de contacto por via ocular (olhos) a lavagem deve ser feita, também com água corrente, durante 10 a 15 minutos, afastando as pálpebras
  • contacte a Linha do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – 800 250 250

Fonte: Centro de Informação Antivenenos (CIAV)

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