Qual e a importância dos conselhos municipais

24/02/15

Portal Pragmatismo Político

Marcelo Pires Mendonça e Milena Franceschinelli

A campanha #ocupeosconselhosmunicipais, lançada nas redes sociais, traz para o centro do debate a instância primeira, a base de sustentação da participação social, que são os conselhos de políticas públicas dos municípios. Ocupar significa aqui participar das decisões em prol do interesse popular e social, como está assegurado em nossa Constituição Federal de 1988. Exercer o parágrafo único do Art° 1, que proclama que "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição". O fortalecimento e o aperfeiçoamento destes mecanismos nas cidades, por meio de ações decorrentes da Política Nacional de Participação Social (PNPS) são condições inexoráveis para a sua consolidação. Não há Conselho Nacional que prescinda da sua base, e mesmo com grandes dificuldades, todos os conselhos desenvolvem campanhas e ações para a criação, melhor funcionamento e efetividade das suas instâncias municipais. Com caráter nacional, a campanha #ocupeosconselhosmunicipais deve ocorrer no município envolvendo os conselhos existentes, entidades da sociedade civil, e o poder público (Prefeitura, Câmara de Vereadores, Ministério Público Municipal e seus procuradores no município). Assim a sociedade civil pode se apropriar de seus direitos por meio da participação direta.

Mas, afinal, o que são os conselhos municipais? Esta é uma pergunta cuja resposta se torna essencial diante da atual controvérsia acerca da PNPS. Para responder o questionamento apresentado no título, trazemos a definição de conselhos do Portal da Transparência: "Os conselhos gestores de políticas públicas são canais efetivos de participação, que permitem estabelecer uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas um direito, mas uma realidade. A importância dos conselhos está no seu papel de fortalecimento da participação democrática da população na formulação e implementação de políticas públicas".

Infelizmente, os conselhos municipais ou conselhos gestores de políticas públicas e a participação social encontram-se invisíveis para grande parte da população, em especial da juventude, apesar do seu alcance, capilaridade e, sobretudo, pertinência na formulação e controle da execução das políticas públicas setoriais. Neste cenário (já em 1999 o Brasil contava com 26,9 mil Conselhos Municipais, segundo o IBGE), os desafios postos para a juventude são especialmente substanciais, considerando que menos de 6% dos municípios brasileiros possuem conselhos da juventude. A criação, ocupação e consolidação de tais espaços seria um encaminhamento assaz pertinente às demandas levadas às ruas pelos jovens durante as "jornadas de junho", dado o seu caráter dialógico entre poder público e sociedade civil. Dados do IBGE (2012) demonstram que conselhos municipais como os de Saúde, Assistência Social e de Direitos da Criança e Adolescente existem e estão em pleno funcionamento em 99% das cidades brasileiras. Os Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa, de Cultura e de Meio Ambiente estão presentes em mais de 50% de nossos municípios; outros como de Segurança Alimentar, de Direitos da Pessoa com Deficiência e de Direitos da Mulher são criados num ritmo crescente e já ultrapassa 30% de municípios alcançados, o que evidencia a abrangência e o potencial destas instâncias de participação.

Conhecer este instrumento é fundamental para viabilizar a participação da sociedade. Assim como reconhecer que ser conselheiro é exercer o protagonismo do processo de consolidação da democracia em nosso país. É vivenciar plenamente a cidadania. É cuidar de nossas cidades para ser mais bem cuidado por elas. Um dado positivo é o de que o número de conselhos é crescente. Porém, este fato por si só não necessariamente se traduz em mais participação social. Os conselhos sofrem de uma doença crônica de invisibilidade e falta de recursos (humanos, orçamentários, de infraestrutura). Também são afetados pelos vícios e equívocos da democracia representativa, além de existirem casos de interferência política de administrações municipais que cooptam e instrumentalizam tais espaços, prejudicando a sua efetividade e comprometendo a sua autonomia. Falta publicizar informações sobre o tema, então falta participação. Por isso o desafio de evidenciar os conselhos municipais, esfera mais próxima do/a cidadão/ã, é fundamental para o amadurecimento da participação social e popular.

Os conselhos municipais são espaços poderosos, estão relacionados a todas as esferas de poder e a uma diversidade de temáticas. O legislativo, as Câmaras Municipais, acompanham e influenciam diretamente suas dinâmicas e ações. O poder judiciário, principalmente na figura do Ministério Público e seus agentes municipais é parceiro em diversas ações visando à garantia dos direitos de toda população. Por fim, o executivo é sempre integrante dos conselhos municipais, pois a função essencial desta instância é exercer o controle social das atividades da Prefeitura. "É preciso dar vida aos conselhos, colocar neles os melhores quadros políticos e as mais fortes entidades sociais, estabelecer uma agenda de diálogo permanente com a população, abrir todos os dados e informações governamentais, e, principalmente, permitir-se ao aprendizado, à mudança, ao convencimento democrático". Ressalta a ex-secretária de Participação Social de Caruaru-PE, Louise Caroline. Quando a sociedade civil ocupa os conselhos, descobre que se a merenda escolar não está boa é possível recorrer ao Conselho de Alimentação Escolar (CAE). Percebe que se existe uma violação do meio ambiente, é possível recorrer ao Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA). Que se existe interesse em contribuir com as políticas culturais, temos o Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC). E ainda existem o Conselho de Saúde, Educação, Segurança Alimentar e Nutricional, Economia Solidária, dentre inúmeros outros. Espaços institucionalizados da construção, debate e monitoramento de políticas públicas setoriais, todos esperando por nossa participação, nossos sonhos, nossas ideias.

O aperfeiçoamento dos conselhos passa pela garantia de sua autonomia administrativa e financeira, pela efetiva participação da sociedade civil em sua gestão, e por sua ocupação sistemática por parte da população a fim de assegurar a sua descentralização, o amplo conhecimento de suas funções e objetivos, além de sua intervenção eficaz. "Disputar não apenas a qualidade dos serviços públicos no dia a dia da população, mas o exercício democrático por direitos e cidadania. Disputar a legitimidade dos sujeitos representados e a diversidade de direitos seja do campo ou da cidade. Desconstruir o senso comum que prevalece nos setores conservadores, que em períodos de crise financeira sugerem cortar políticas sociais, por concebê-las como gastos e não investimento. Políticas sociais geram empregos, dinamizam a economia local, interiorizam o desenvolvimento por meio das ações do Estado", afirma Maria do Socorro, Presidente do Conselho Nacional de Saúde. Desta forma, o desafio para a sociedade civil é o de fortalecer a sua participação para fortalecer os conselhos.

Qual e a importância dos conselhos municipais
Isis Paloma Carneiro explica sobre a importância dos conselhos municipais (Foto: Arquivo pessoal)

Em fevereiro, durante sessão ordinária, a Câmara de Vereadores aprovou por 8×4 a revogação da lei que criou o Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Comsea). Thiago Gonçales (PL), um dos parlamentares que votou favorável à extinção do conselho, explicou que na prática o Comsea não existia, tendo ocorrido “apenas uma reunião”.


Também tendo votado favorável, Célia Rocha (PL) comentou durante a sessão que “o conselho tem que acompanhar a evolução e este estava obsoleto”. Dos parlamentares que foram contrários, Dr. José Galvão (União Brasil) destacou que “somente com a participação popular, dos movimentos organizados é que você consegue dar uma maior legitimidade para o governo. E dar legitimidade para o governo.”

Qual e a importância dos conselhos municipais
2 – Vereadora Maria do Carmo Piunti defende os conselhos municipais para a democracia (Foto: Divulgação/Câmara)


Ao Periscópio, Maria do Carmo Piunti (PSC) destacou a importância dos conselhos municipais. “Itu foi pioneira na década de 1980, entre 1983 e 1988, na criação dos conselhos, que são a participação popular nas decisões da vida do município. E são importantes, pois são opiniões, são cidadãos representando segmentos da sociedade que trazem sua contribuição para a administração”.


Por meio de nota, o prefeito Guilherme Gazzola (PL) também falou. “A existência dos conselhos é uma importante ferramenta de manutenção democrática, que possibilita o intercâmbio de anseios, demandas e sugestões de membros da sociedade civil entre representantes do poder constituído.”

“As atuações dos conselhos, dentro da lisura e imparcialidade, fomentam práticas governamentais co-participativas, auxiliando no equilíbrio de soluções e na identificação dos pontos de melhorias na multifacetada jornada da gestão pública”, acrescentou o chefe do executivo.

A reportagem questionou a Prefeitura sobre o número de conselhos ativos existentes na cidade. Ao todo Itu, conta com 23 conselhos municipais, entre eles, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDA), presidido pela advogada Isis Paloma Carneiro desde 2018.


“Os conselhos gestores de políticas públicas são canais efetivos de participação, que permitem estabelecer uma sociedade na qual a cidadania deixe de ser apenas um direito, mas uma realidade. A importância dos conselhos está no seu papel de fortalecimento da participação democrática da população na formulação e implementação de políticas públicas”, explica Paloma.

“Esses conselhos geralmente são paritários, compostos por membros do poder público e da sociedade civil, e podem ser consultivos meramente, ou consultivos e deliberativos, e vinculados a fundos públicos.

Os conselhos de direitos são importantes ferramentas de controle social, porém, boa parte da população desconhece sua existência e função”, prossegue a presidente.

“Esses conselhos são muito importantes pois fiscalizam, discutem, propõem e indicam políticas públicas, visitam entidades, avaliam prestações de contas, projetos, repassam dinheiro público”, destaca Paloma.Uma das funções do CMDA, é fiscalizar

o conselho tutelar e é através do trabalho dos conselheiros que ocorre a eleição do Conselho Tutelar e o repasse de dinheiro público para entidades certificadas.

“Infelizmente, os conselhos municipais ou conselhos gestores de políticas públicas e a participação social encontram-se invisíveis para grande parte da população, em especial da juventude, apesar do seu alcance, capilaridade e, sobretudo, pertinência na formulação e controle da execução das políticas públicas setoriais”, reclama Paloma.

O CMDCA abriu inscrições para a nova gestão biênio-2022-2024 de 7 a 11 de março e a as eleições deverão ocorrer no dia 23 deste mês. “Eu estou à frente do CMDCA como presidente desde 2018, foi necessário reabrir as inscrições pois não houve inscrições suficientes”, relata.

“A participação social é imprescindível para o exercício da cidadania, vez que o contato dos cidadãos com a esfera pública, em todos os seus âmbitos, aproxima-os de processos, ações e políticas públicas que dizem respeito às suas vidas e impactarão no seu dia a dia”, reforça.


Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher Ituana, Alzira Aparecida de Almeida Guimarães de Paula falou ao JP sobre a atuação. “Composto por doze membros titulares e doze suplentes, sendo cinco do Poder Público, um da Delegacia da Mulher e seis da sociedade civil, o CMDMI tem como objetivo formular e promover políticas públicas, identificar problemas, receber encaminhamentos e sugestões, desenvolver estudos e diagnósticos, receber e emitir parecer sobre denúncias que sejam encaminhadas”.

Além disso, o CMDMI tem o objetivo de apoiar projetos voltados à defesa e garantia dos direitos da mulher e conta com o apoio e suporte da Secretaria Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social. A gestão dos conselheiros é de três anos, prorrogáveis por igual prazo apenas uma vez.

“Atualmente, a cidade de Itu possui diversos locais de atendimento às mulheres vítimas de violência e, pensando em uma assistência mais qualificada e uma escuta e acolhida dignas, o CMDMI idealizou e elaborou uma Cartilha voltada aos profissionais dos diferentes equipamentos da rede socioassistencial a fim de garantir um atendimento que esteja interligado”, explica Alzira.


“Através dos equipamentos da Assistência Social, são realizadas rodas de conversa, campanhas de sensibilização e orientação com o objetivo de minimizar as situações de violências e sua naturalização que ainda persistem em nossa sociedade, para construir uma cultura voltada ao respeito e dignidade aos direitos humanos da mulher”, complementa.


Confira a relação de Conselhos Municipais de Itu

Promoção e Desenvolvimento Social
Conselho Municipal De Assistência Social; Conselho Municipal Do Idoso; Conselho Dos Direitos Da Mulher Ituana; Conselho Municipal Dos Direitos Da Pessoa Com Deficiência; Conselho Municipal Dos Direitos Da Criança e Do Adolescente; Conselho Tutelar; Conselho De Políticas Públicas Sobre Drogas

Habitação
Conselho Municipal de Habitação Popular; Conselho Gestor Do Fundo Municipal de Habitação; Conselho Municipal de Saúde

Educação
Conselho Municipal de Educação; Conselho Fundeb; Conselho de Alimentação Escolar

Meio Ambiente
Conselho Municipal de Defesa Do Meio Ambiente; Conselho Gestor da Apa Pedregulho

Cultura/Turismo
Conselho Municipal de Política Cultural; Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural;Conselho Municipal de Turismo

Emprego
Conselho Municipal do Trabalho, Emprego e Renda

Rural
Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável

Defesa Civil
Conselho Municipal de Defesa Civil

Saneamento
Conselho de Regulação e Controle Social de Saneamento Básico

Fundo Social
Conselho Deliberativo do Fundo Social de Solidariedade