Por que a inovação e tão difícil

por Ana Burcharth

Qual é a relevância deste tema ​​nos dias atuais?

Desenvolver uma cultura de inovação está no topo da lista de desafios mais extraordinários dos líderes na atualidade. Em tempos de revolução tecnológica alavancada pelas tecnologias digitais, nunca foi tão importante fomentar um ambiente organizacional onde haja colaboração, tolerância ao erro, espaço para a experimentação, segurança psicológica e autonomia. Em um contexto de mudanças profundas do ponto de vista não​​​ apenas da tecnologia (ex. digitalização), mas também de padrões de produção (ex. economia circular), consumo (ex. economia compartilhada), modelos de negócios (ex. “uberização”) e modelos de gestão (ex. holocracia), a necessidade de adaptação é sem dúvida ainda mais preeminente.

Superar a aversão ao risco é talvez a característica mais importante. Segundo a pesquisa do MIT Sloan Management Review (em parceria com a Deloitte) realizada com 3500 executivos de 117 países em 2017, 71% das organizações maduras digitalmente promovem intencionalmente uma cultura de inovação marcada pelo apetite ao risco, colaboração, agilidade e aprendizado contínuo. Em comparação, apenas 29% das organizações em estágio inicial de digitalização o fazem.

O desafio

Ainda que os elementos culturais tipicamente associados à inovação sejam tidos como altamente desejados e até compreendidos pela maioria dos líderes, fato é que são elementos complicados de serem cultivados e mantidos. Isso é curioso. Por que elementos aparentemente tão universalmente desejados – e até divertidos – são tão difíceis de desenvolver?

Para o professor Gary Pisano da Harvard Business School, a razão é que culturas de inovação são ainda pouco compreendidas. Os comportamentos desejados, tal como tolerância ao erro e colaboração, recebem muita atenção no discurso da academia e da prática. Contudo, eles constituem apenas um lado da moeda e devem ser contrabalançados por alguns elementos culturais mais difíceis de se desenvolver e, sem dúvida, menos divertidos, tal como intolerância à incompetência e responsabilização (accountability) individual.

Quais são os paradoxos de uma cultura de inovação?

A realidade é que uma cultura de inovação exige simultaneamente elementos comportamentais que promovam a criatividade e a disciplina. Culturas de inovação são, portanto, intrinsecamente paradoxais. Isto gera tensões que devem ser cuidadosamente gerenciadas.

A figura 1 descreve seis paradoxos inerentes à cultura de inovação:​

Figura 1. Os paradoxos inerentes a uma cultura de inovação; Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Pisano (2019)

E daí?

Todas as mudanças culturais são difíceis. Culturas organizacionais são como contratos sociais que especificam as regras de associação e convivência. Quando os líderes decidem mudar a cultura de uma organização, eles estão, de certo modo, quebrando um contrato social. Não deveria nos surpreender, portanto, o elevado grau de resistência tipicamente encontrado para qualquer mudança cultural.

Identificar os paradoxos inerentes pode ajudar os líderes a reconhecer a difícil jornada de construção e sustentação de uma cultura de inovação. Esta jornada é particularmente difícil e desafiadora por três razões. Primeiro, porque culturas inovadoras exigem uma combinação de comportamentos aparentemente contraditórios, os quais podem gerar confusão entre as pessoas. Segundo, porque alguns comportamentos necessários para a cultura de inovação são relativamente fáceis de serem cultivados, enquanto outros são menos palatáveis. Por exemplo, quem pensa em inovação como uma atividade sem nenhuma disciplina ou restrição à criatividade pode se frustrar. Terceiro, porque culturas de inovação são sistemas de comportamentos interdependentes, os quais não podem ser fomentados de forma fragmentada. Por exemplo, pessoas muito competentes ficam mais à vontade com a tomada de decisão e a responsabilidade, e suas falhas provavelmente tendem a gerar mais aprendizado.

Em conclusão, o caráter paradoxal de uma cultura de inovação torna-a instável. Como as tensões entre os elementos comportamentais contraditórios podem facilmente sair fora de controle, líderes devem estar atentos a sinais de excesso e intervir para restaurar o equilíbrio quando necessário.

Artigo originalmente publicado no blog da Fundação Dom Cabral.

Marília Cardoso, sócia-fundadora da Palas, consultoria pioneira na implementação da ISO 56.002, de gestão da inovação.

Inovação já está virando assunto de boteco. As rápidas e impressionantes transformações sociais e dos negócios estão preocupando tanta gente que o tema já não é mais algo exclusivo das reuniões corporativas ou bancos acadêmicos. Duas pessoas reunidas onde quer que seja, já são suficientes para que o papo – e todas as dificuldades e mitos que o cercam — entre em pauta.

Mais que uma modinha passageira, a inovação se tornou um conceito impossível de passar despercebido. Por mais que alguns ainda teimem em manter-se deitados eternamente em berços esplêndidos, mais dia, menos dia, a água vai bater no nariz, obrigando a gente a fazer alguma coisa para não morrer afogado.  

Inevitavelmente, seremos obrigados a rasgar nossas cartilhas, aquelas recheadas de certezas e verdades absolutas que já não servem mais para quase nada. E fazer isso dói. Dói muito! É como se nos perdêssemos dentro de nossa própria identidade, questionando o até então inquestionável. Entramos num ciclo de desaprender para reaprender, sendo obrigados a jogar velhas crenças na lata do lixo.

Por mais que o homem inove desde sempre – caso contrário não teríamos chegado até aqui — o Século 20 trouxe tantas facilidades que acabamos criando falsas zonas de conforto, acreditando que tudo o que precisamos é de um diploma na parede, um bom emprego, contas pagas e um corpo sarado. Não! A vida não se resume em pagar boletos e tentar emagrecer. É preciso ir além.

Para isso, precisamos nos render ao que o psicólogo Hermann Ebbinghaus definiu em 1885 como curva de aprendizagem. Segundo ele, há uma certa negação no início, uma tendência a acharmos que já sabemos o suficiente. Até que chega um momento inevitável, como já está acontecendo com diversas empresas e segmentos profissionais. A partir desse momento, inicia-se a fase de preparação, onde o indivíduo se prepara para aprender coisas novas.

Logo vem a fase chamada de adoção, que é seguida da curva de aprendizado, que muito se assemelha a um vale sombrio e perigoso, já que desperta a sensação de que tudo o que você sabia então não serve para mais nada. É a hora do desespero, da decepção, da derrota. 

Só quando o aprendizado começa a fazer sentido, por meio do chamado aprendizado experiencial, é que a retomada acontece, seguindo uma curva ascendente. Aí, o indivíduo é capaz de encontrar benefícios reais e torna-se melhor do que era antes.

Não por acaso, essa curva é muito semelhante à do luto, definida pela psicóloga Elisabeth Kubler-Ross. No começo, há sempre a negação, a raiva e a barganha. Até que, convencido que a morte é imutável, caímos no vale da depressão. Com o tempo e força de vontade, saímos do limbo para entrarmos na fase de consciência, aceitação e atitude.

Talvez, essa comparação seja a melhor explicação para o fato de inovar ser algo tão difícil e desafiador para a grande maioria dos reles mortais. O processo de aceitar que o que se sabe não é mais suficiente dói tanto quanto a perda de uma pessoa querida. Só que no caso, o que perdemos é um pedaço de nós mesmos. Uma parte que lapidamos com a relevante ajuda dos nossos pais, professores e amigos.

Em suma, quem realmente quiser inovar em sua carreira, sua empresa ou sua vida, precisará encarar de frente a dura realidade de que nada mais será como antes. Será necessário encarar a descida da “desaprendizagem” para que a subida seja, de fato, transformadora. Dói, mas compensa. É melhor chegar ao fundo do poço e subir do que passar a vida inteira fingindo que não tem nada acontecendo. 

Se joga! Erre rápido para aprender mais rápido ainda.

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* Por Marília Cardoso

Inovação já está virando assunto de boteco. As rápidas e impressionantes transformações sociais e dos negócios estão preocupando tanta gente que o tema já não é mais algo exclusivo das reuniões corporativas ou bancos acadêmicos. Duas pessoas reunidas onde quer que seja, já são suficientes para que o papo – e todas as dificuldades e mitos que o cercam – entre em pauta.

Mais que uma modinha passageira, a inovação se tornou um conceito impossível de passar despercebido. Por mais que alguns ainda teimem em manterem-se deitados eternamente em berços esplêndidos, mais dia, menos dia, a água vai bater no nariz, obrigando a gente a fazer alguma coisa para não morrer afogado.

Inevitavelmente, seremos obrigados a rasgar nossas cartilhas, aquelas recheadas de certezas e verdades absolutas que já não servem mais para quase nada. E fazer isso dói. Dói muito! É como se nos perdêssemos dentro de nossa própria identidade, questionando o até então inquestionável. Entramos num ciclo de desaprender para reaprender, sendo obrigados a jogar velhas crenças na lata do lixo.

Por mais que o homem inove desde sempre – caso contrário não teríamos chegado até aqui – o século XX trouxe tantas facilidades que acabamos criando falsas zonas de conforto, acreditando que tudo o que precisamos é de um diploma na parede, um bom emprego, contas pagas e um corpo sarado. Não! A vida não se resume a pagar boletos e tentar emagrecer. É preciso ir além.

Para isso, precisamos nos render ao que o psicólogo Hermann Ebbinghaus definiu em 1885 como curva de aprendizagem. Segundo ele, há uma certa negação no início, uma tendência a acharmos que já sabemos o suficiente. Até que chega um momento inevitável, como já está acontecendo com diversas empresas e segmentos profissionais. A partir desse momento, inicia-se a fase de preparação, onde o indivíduo se prepara para aprender coisas novas.

Logo vem a fase chamada de adoção, que é seguida da curva de aprendizado, que muito se assemelha a um vale sombrio e perigoso, já que desperta a sensação de que tudo o que você sabia então, não serve para mais nada. É a hora do desespero, da decepção, da derrota. É só quando o aprendizado começa a fazer sentido, por meio do chamado aprendizado experiencial, é que a retomada acontece, seguindo uma curva ascendente. Aí, o indivíduo é capaz de encontrar benefícios reais e torna-se melhor do que era antes.

Não por acaso, essa curva é muito semelhante à do luto, definida pela psicóloga Elisabeth Kubler-Ross. No começo, há sempre a negação, a raiva e a barganha. Até que, convencido que a morte é imutável, caímos no vale da depressão. Com o tempo e força de vontade, saímos do limbo para entrarmos na fase de consciência, aceitação e atitude.

Talvez, essa comparação seja a melhor explicação para o fato de inovar ser algo tão difícil e desafiador para a grande maioria dos reles mortais. O processo de aceitar que o que se sabe não é mais suficiente dói tanto quanto a perda de uma pessoa querida. Só que no caso, o que perdemos é um pedaço de nós mesmos. Uma parte que lapidamos com a relevante ajuda dos nossos pais, professores e amigos.

Em suma, quem realmente quiser inovar em sua carreira, sua empresa ou sua vida, precisará encarar de frente a dura realidade de que nada mais será como antes. Será necessário encarar a descida da “desaprendizagem” para que a subida seja, de fato, transformadora. Dói, mas compensa. É melhor chegar ao fundo do poço e subir do que passar a vida inteira fingindo que não tem nada acontecendo. Se joga! Erre rápido para aprender mais rápido ainda.

* Marília Cardoso é sócia-fundadora da PALAS, consultoria pioneira na implementação da ISO 56.002, de gestão da inovação.

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