O setor de farmácias de manipulação é um importante segmento brasileiro e tem se tornado um grande aliado no dia a dia de médicos, profissionais de saúde de diferentes especialidades e pacientes. Mas o que é o medicamento manipulado? Também conhecido por profissionais do setor como medicamento magistral, trata-se de uma opção personalizada feita sob demanda e preparada por farmácias magistrais, ou de manipulação. Enquanto as indústrias farmacêuticas produzem em grande escala, as farmácias de manipulação desenvolvem para os pacientes medicamentos sob medida a partir de formulações prescritas pelo médico ou por outro profissional de saúde.
Os medicamentos magistrais são muito interessantes em situações especiais. Entre elas, podemos citar:
- quando o paciente apresenta alergias, intolerância ou restrições a algumas substâncias (lactose, glúten ou açúcar, por exemplo) da composição-padrão
- quando o paciente tem dificuldade de consumir o formato-padrão e precisa de uma versão personalizada (dificuldade de engolir um comprimido, por exemplo);
- quando não há no mercado a dosagem exata que o paciente precisa;
- quando há a necessidade de associar substâncias em um mesmo medicamento para facilitar o uso pelo paciente.
A maior parte dos medicamentos disponíveis no mercado pode ser manipulada em farmácias magistrais. Mesmo sem se enquadrar em condições especiais, o paciente pode conversar com o médico para que o especialista avalie receitar uma medicação individualizada.
É importante destacar que essas formulações só podem ser preparadas em farmácias de manipulação. Apenas estabelecimentos dessa natureza estão regulamentados e autorizados pela Vigilância Sanitária, e pelos Conselhos Regionais de Farmácia e pelos demais órgãos de fiscalização para desenvolverem formulações personalizadas.
Credibilidade e crescimento
A relação entre Farmacotécnica e demais Ciências Farmacêuticas é histórica, mas, na década de 1950, com o boom da indústria farmacêutica e do surgimento dos grandes laboratórios, a produção personalizada de medicamentos ficou em segundo plano. A retomada do setor magistral teve início, ainda de forma tímida, na década de 1980, com foco na dermatologia e na homeopatia. Progressivamente, o setor voltou a ser demandado pelas diversas especialidades médicas. Com a entrada dos genéricos na final da década de 1990, as farmácias magistrais passaram a manipular cada vez mais produtos e medicamentos focados na terapia individualizada.
Além de medicamentos, as farmácias de manipulação preparam suplementos, cosméticos e demais produtos para a saúde. Atualmente, esses estabelecimentos estão regulamentados para atender às prescrições (receitas) dos seguintes profissionais:
- médicos;
- cirurgiões dentistas;
- nutricionistas;
- farmacêuticos;
- biomédicos;
- enfermeiros;
- fisioterapeutas;
- terapeutas ocupacionais;
- médicos veterinários.
Hoje, o mercado encontra-se em expansão e os estabelecimentos bem distribuídos no país. Segundo o Panorama Setorial Anfarmag 2020, divulgado pela Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag) em parceria com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), há mais de 8 mil farmácias de manipulação em todo o Brasil – um crescimento de 6% em relação aos dois anos anteriores.
Principais benefícios do medicamento magistral
Ajustar a dosagem de acordo com a necessidade de cada paciente é um dos principais benefícios da medicação magistral. Utilizando como referência o levantamento bibliográfico Farmácia Magistral: sua importância e seu perfil de qualidade, realizado por pesquisadores do Departamento de Fármacos e Medicamentos da Unesp, pontuamos alguns dos principais benefícios desse tipo de produto:
- Eficácia terapêutica e na relação médico-paciente
A farmácia de manipulação realiza uma seleção criteriosa de princípios ativos e da dose exata para obter a eficácia terapêutica desejada, permitindo um equilíbrio da fórmula para o paciente que nem sempre se adapta a formulações já estabelecidas. Sendo assim, a fórmula manipulada valoriza o especialista que a prescreve e melhora a relação médico-paciente, criando ali uma sintonia e um sentimento de confiança.
- Uso racional de medicações
Existe no Brasil a Política Nacional de Medicamentos (PNM), que visa a garantir a segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, além da promoção de seu uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais. No contexto da farmácia de manipulação, o uso racional pode ser compreendido no processo que vai da prescrição personalizada e apropriada de acordo com a demanda de cada paciente até a atenção e orientação farmacêutica prestada pelos profissionais presentes no estabelecimento.
Em algumas situações específicas, o segmento da farmácia magistral apresenta melhor viabilidade financeira para o paciente quando comparado aos medicamentos industrializados. Isso porque há eliminações de sobras e redução de desperdícios no processo de produção, já que o consumidor paga apenas pela quantidade exata para o período do tratamento.
- Reforça a importância dos papéis do farmacêutico e das farmácias
No setor de farmácias de manipulação, o farmacêutico ganha o protagonismo. Isso porque, neste cenário, ele pode exercer sua profissão de forma ampla e próxima ao paciente. Confira algumas atividades que estão sob a responsabilidade do farmacêutico na farmácia magistral:
- manipular e dispensar (entregar ao paciente) fórmulas alopáticas e homeopáticas;
- dispensar e fracionar plantas de aplicações terapêuticas e medicamentos fitoterápicos;
- dispensar insumos farmacêuticos, correlatos e alimentos para fins especiais.
Além disso, a farmácia de manipulação se fortalece como importante agente de saúde pública no Brasil. O reforço da importância dos papéis do profissional farmacêutico e das farmácias como estabelecimentos essenciais de saúde beneficia toda a sociedade.
Também é um ponto de destaque a organização política por meio do fortalecimento de entidades, como a própria Anfarmag, cuja missão é representar e autorregularizar o segmento magistral no Brasil. Conheça mais sobre a associação, que atua pela sustentabilidade técnica, econômica, política e social do setor.
Que os genéricos são uma alternativa eficaz e econômica de tratamento, é um consenso entre especialistas. Entretanto, muitos consumidores ainda têm dúvidas e precisam dos farmacêuticos para aumentar a adesão
Os genéricos são, definitivamente, uma excelente alternativa para o bolso enxuto dos consumidores e para a própria farmácia. Entretanto, ainda assim, representam apenas 30% dos medicamentos comercializados no Brasil, um grande contraste se comparado ao mercado americano, onde sua representatividade pode ser superior a 80%.
“Em 19 anos de história no mercado, a população ainda tem dúvidas sobre o que são medicamentos genéricos, sua qualidade e diferenças com os produtos de prescrição. O balcão da farmácia acaba sendo o local onde os pacientes tiram as dúvidas sobre essas distinções”, afirma o gerente de marketing da Geolab, José Ribeiro Suso Junior.
Portanto, é possível aumentar grandemente a participação dos genéricos no Brasil com preparação dos profissionais que dispensam esses produtos. E uma das formas de atingir esses objetivos é por meio da assistência farmacêutica, que já é uma realidade no País, especialmente pelo trabalho desenvolvido pelas grandes redes.
“A assistência farmacêutica é uma realidade no Brasil. Hoje, o farmacêutico pode realizar consultas farmacêuticas, solicitar exames laboratoriais, prescrever Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), tudo de acordo com a Resolução 585/13, do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que dispõe sobre a Atribuição Clínica do Farmacêutico; e a Resolução 586/13, do CFF, que dispõe sobre a Atribuição de Prescrição Farmacêutica”, mostra o diretor do Instituto Pedro Dias, Pedro Dias, acrescentando que, dessa forma, esses profissionais poderão contribuir para o tratamento das doenças crônicas e também para adesão ao tratamento, realizando um acolhimento adequado, entendendo as necessidades, orientando e acompanhando os pacientes durante toda sua jornada.
O valor mais baixo dos genéricos significa que eles perderam a qualidade?1 Não. O preço do medicamento genérico é menor, pois os fabricantes não necessitam realizar todas as pesquisas necessárias quando se desenvolve um medicamento inovador, visto que suas características são as mesmas do medicamento de referência, com o qual é comparado.
Quais as diferenças entre os medicamentos de referência, similares e genéricos?1
Os medicamentos de referência são inovadores e fabricados de forma exclusiva por um determinado tempo; têm marca comercial conhecida. Quando o prazo de exclusividade acaba, a concorrência é aberta. Já os medicamentos similares possuem nomes e marcas diferentes dos originais. Assim, costumam ser mais baratos e têm o mesmo princípio ativo e as mesmas indicações e modos de uso. Por fim, os genéricos não têm nome comercial. Possuem o mesmo princípio ativo do medicamento de referência e são administrados da mesma forma. Na embalagem, possuem a inscrição “medicamento genérico” em uma tarja amarela.O genérico faz o mesmo efeito que o medicamento original (referência)?2
Sim. O genérico possui a mesma eficácia terapêutica que o medicamento de marca, já que foi submetido ao teste de bioequivalência.
Fontes: 1. Coordenadora técnica farmacêutica da Pague Menos, Cristiane Feijó; 2. Portal Medicamento Genérico
Aliás, entre doentes crônicos, que precisam de tratamento ao longo de toda a vida, o papel do farmacêutico torna-se ainda mais importante. “Com uma conversa franca e acompanhada de uma revisão de todos os medicamentos que o paciente costuma tomar, o usuário deve ser estimulado a participar como sujeito de seu tratamento e cuidado com a saúde. Iniciar o tratamento é muito mais difícil que dar continuidade. A otimização da farmacoterapia e parceria com os demais profissionais da saúde por meio do farmacêutico da farmácia, que está sempre mais próximo e presente, proporcionam segurança e melhor entendimento, consequentemente melhor adesão”, opina a coordenadora técnica farmacêutica da Pague Menos, Cristiane Feijó.
Para ter respaldo e tirar todas as dúvidas do consumidor sobre os genéricos, segundo Dias, o melhor caminho é ficar por dentro do que diz a Lei 9.787, de 1999, conhecida como a Lei dos Medicamentos Genéricos. Nela, é possível esclarecer dúvidas recorrentes do consumidor sobre o preço baixo dos genéricos, por exemplo.
“O farmacêutico deve assegurar a confiança no medicamento, com informações técnicas pertinentes e esclarecimento sobre diferença visual das embalagens, e manter um canal aberto para orientação, se necessário. Também é papel desse profissional identificar e entender os diferentes tipos e as regras que os regem, conforme legislação vigente, bem como o valor investido no tratamento escolhido”, finaliza Cristiane.
Foto: Shutterstock
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