O que é cultura popular antonio augusto arantes

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Brochura / em bom estado de conservação/ borda, corte e miolo em boas condições

Carnaval? Vatapá? Seresta? Folheto de Cordel? Broa de Milho? Afinal, o que é cultura popular? Embora nos ensinem a ter um modo de vida refinado, civilizado e eficiente - 'culto'- , não conseguimos evitar que práticas 'populares' pontilhem nosso cotidiano. Qual a influência dessas práticas sobre nosso procedimento e cultura? Quais as condições para se transformar cultura 'pura' em cultura 'popular'? ... Ler mais Fechar

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Marília

Um aglomerado indigesto de fragmentos?

Cultura popular está longe de ser um conceito bem definido pelas ciências humanas e especialmente pela Antropologia Social, disciplina que tem dedicado particular atenção ao estudo da cultura. São muitos os seus significados e bastante heterogêneos e variáveis os eventos que essa expressão recobre.

Ela remete, na verdade, a um amplo espectro de concepções e pontos de vista que vão desde a negação (implícita ou explícita) de que os fatos por ela identificados contenham alguma forma de saber, até o extremo de atribuir-lhes o papel de resistência contra a dominação de classe.

Essas diferentes concepções orientam a observação do pesquisador para fatos bastante diversos entre si. Tomemos, por exemplo, esses dois pontos de vista extremos. O primeiro refere-se, em geral, a aspectos da tecnologia (técnicas de trabalho, procedimentos de cura, etc.) e de conhecimento do universo, enquanto o segundo enfatiza as formas artísticas de expressão (literatura oral, música, teatro, etc.); um tende a pensar os eventos no passado, como algo que foi ou que logo será superado; e outro os pensa no futuro, vislumbrando neles indícios de uma nova ordem social.

Examinaremos, neste capítulo, dois pontos desse espectro: por um lado, a cultura popular concebida por contraste ao termo genérico cultura em seu uso corrente e, por outro, como suporte de uma idealização romântica da tradição, que é uma perspectiva frequentemente encontrada nas teorias de muitos folcloristas, além de ser amplamente difundida entre diversos setores da sociedade. Mais adiante, retomarei a questão de se concebê-la como um modo de resistência.

Embora este trabalho tenha por objetivo introduzir o tema a um público de não especialistas, acredito ser conveniente não escamotear o mal-estar que, em geral, esse assunto provoca em muitos intelectuais. Muita gente torce o nariz, levanta as sobrancelhas ou movimenta-se com impaciência quando ouve o enunciado cultura popular. Isto se deve a, pelo menos, dois motivos. Em primeiro lugar, ao fato dessa noção ter servido a interesses políticos populistas e paternalistas, tanto de direita quanto de esquerda; em segundo, ao fato de que nada de claramente discernível e demarcável no concreto parece corresponder aos múltiplos significados que ela tem assumido até agora.

Já é tempo de nos indagarmos sobre o sentido mais profundo dessa expressão e sobre a conveniência de a continuarmos usando como rótulo identificador de não se sabe muito bem o quê.

Esta postura requer do leitor, entretanto, atenção dupla pois, a um só tempo, estaremos dando os primeiros passos e buscando novos caminhos.

Registra A. Buarque de Hollanda, em seu conhecidíssimo Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, que a palavra cultura, em seu uso corrente, significa saber, estudo, elegância, esmero; ela evoca os domínios da filosofia, das ciências e das belas-artes.

Nas sociedades estratificadas em classes, essas esferas da cultura são, na verdade, atividades especializadas que têm como objetivo a produção de um conhecimento e de um gosto que, partindo das universidades e das academias, são difundidos entre as diversas camadas sociais como os mais belos, os mais corretos, os mais adequados, os mais plausíveis, etc. Nesse sentido, ser culto é uma condição que engloba vários atributos: ter razão, ter bom gosto ou, numa palavra, como diz o nosso dicionário, saber, ter conhecimento, estar informado.

Se olhamos à nossa volta, logo nos damos conta de que são muitos e variados os valores e concepções de mundo vigentes numa sociedade complexa e diferenciada. Numa cidade como São Paulo, por exemplo, onde grande parte da população descende de estrangeiros e de migrantes rurais, diversos modos de vida são recriados. É imediatamente visível a presença da cultura japonesa no bairro da Liberdade; da judia no Bom Retiro; da italiana no Bexiga e na Mooca. A inspiração rural está presente nos indefectíveis tomateiros e pés de chuchu plantados nos quintais de pequenas dimensões: nos canteiros de temperos e chás de ervas construídos em centímetros quadrados, furtados aos chãos de cimento avassalador... É marcante a presença da cultura nordestina em bairros da zona leste e da zona sul da cidade. São várias as religiões, múltiplas as formas de se lidar com as doenças e aflições, variados os modos de relacionamento dentro e fora da família, para não mencionar as estratégias de sobrevivência e as concepções sobre o sentido do trabalho.

Refletindo com cautela,entretanto,logo perceberemos que por

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O QUE É CULTURA POPULAR?


ARANTES, Antônio Augusto. O que é Cultura Popular. 14 ª Edição. São Paulo. Editora Brasiliense, 1998.

Cultura Popular recobre um complexo de padrões de comportamento e crenças de um povo. No entanto, para Antônio Augusto Arantes cultura popular é um aglomerado de fragmentos que apresenta significados bastante heterogêneos e variáveis.

Muito se tem falado e escrito sobre cultura popular mas ainda não é suficiente porque a pesar de todo estudo ainda se deturpa muito o sentido dessa palavra, já é hora de pararmos e refletirmos sobre a profundidade que essa expressão abrange.

Sabemos perfeitamente que Aurélio Buarque de Holanda, define com autoridade, em seu bem conceituado dicionário de língua portuguesa, cultura em seu uso corrente como significando “saber, estudo, elegância, esmero, conhecimento, informação”, ela evoca os domínios da filosofia, das ciências e das belas artes.

Porém quando acrescentamos o termo “popular” entramos num paradoxo entre “cultura” e ” povo”, como se tudo que vem do “povo” fosse desprovido de saber. Basta olharmos em nossa volta para percebermos que são bastantes diversificados os valores e conceitos vigentes na nossa complexa sociedade.

A massa homogênea, que é o povo brasileiro, é formada de várias raças e origens diferentes e cada um com sua cultura, costumes e religião. Embora nos eduquem o tempo todo a termos um modo de vida civilizado – culto, não podemos prescindir dos objetos e práticas que qualificamos como “populares”, pois o nosso cotidiano é mesclado com esses costumes: samba, seresta, bumba-meu-boi, reisado, carnaval.

A escola, a igreja e a família são instituições formadoras do ser e juntamente com os meios de comunicação de massa têm a função de produzir e divulgar idéias como se fossem ou devessem ser ou se tornar os modos ideais de agir e de pensar de todos.

Repudiamos tudo aquilo que está relacionado com o “povo” qualificando como ingênuo, de mau gosto, indigesto, errado, pitoresco, ineficaz, mas quando traçamos nossas teorias temos a tendência de inserir essas coisas contraditórias em relação à cultura popular em nossos planos individuais. Por que essa ambivalência em relação ao que é “diferente”, e especialmente, ao que é identificado como “povo”?

Pela mesma razão por que reagimos no aspecto cultural do etnocentrismo, o qual tende a julgar o “outro” em relação às normas e comportamentos do grupo social a que se pertence. Corresponde a uma percepção da vida e da sociedade do observador onde o seu próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através de valores, modelos e definições do que é a existência.

Esse termo “popular” representa um obstáculo pelo qual as outras sociedades são observadas em função da nossa, em geral, portador de preconceitos que são manifestações de uma visão unilateral e deturpada da realidade social.

Assim, pressupomos que a “cultura popular” surge como uma outra cultura contrária ao saber culto dominante. Podemos observar dois modelos de relação a partir da identidade entre grupos de “membros” com culturas diferentes: em uma a identidade é vista exclusivamente pelo sistema de normas de sua própria cultura, onde o “diferente” é desvalorizado como incivilizado, incultos ou errado e a outra onde a cultura “diferente” atua como grupo de comparação crítica com relação às deficiências práticas do grupo central.

Atentamos especialmente para confronto das diferenças entre a “elite/culta” e “povo/popular” sobre a perspectiva antropológica. O grupo da “elite” julgando-se detentor do saber sempre se exclui do grupo destacado como “povo”. Mas quem é a “elite” e quem é o “povo” do qual se refere o autor, deste livro? A forma sutil como agimos frente a outros grupos, tentando rotulá-los, discriminá-los, demonstramos diariamente exemplos etnocêntricos.

Etnograficamente o grupo do “eu”, em contraposição ao grupo do “outro” – diferente – é aquele que é visto como o primitivo, o não civilizado e que se opõe ao desenvolvimento da civilização; por sua vez, o “povo”, em contraposição à elite – saber – é a massa homogeneizada composta por várias camadas, o não saber. È necessário que haja um ponto de equilíbrio para unir esses dois extremos. Precisamos aprender com as diferenças do “outro”, assim, a antropologia tem como objetivo pensar sobre a diferenças culturais entre os povos, não radicalizando-a e sim, relativizando-a.

Sobre essa diferença gira a problemática desta obra: Como unir os opostos, “elite’ e o “povo”? Acredito que este problema só poderá ser solucionado se pensarmos a cultura no plural e no presente e que se parta de uma concepção não normativa e dinâmica. Devemos transformar a diferença em uma relação capaz enriquecer a cultura do “eu” com aquilo que o “outro” tem de diferente, melhor dizendo, é conhecer a diferença, experimentando a própria “cultura popular” como diferente, em vez de ignorá-la devemos absorvê-la ou aprender com ela. Pois assim podemos manter uma relação harmoniosa de contribuição mútua com começo, meio e fim.

Concluímos, então, que no diz respeita à cultura popular a antrolopologia surge para intermediar a questão da “diferença” através do processo harmonioso de reciprocidade como forma de entendimento, de diálogo entre os povos, assim como a cultura popular busca dialogar com a cultura erudita. O ponto de partida usual do trabalho do antropólogo é a observação direta de indivíduos se comportando face a outros indivíduos e em relação à natureza.

Acredito na união dos opostos, porque aprendemos com as diferenças, pois se somos todos iguais e se temos o mesmo pensamento, que conhecimento o “outro” pode nos acrescentar?.

O fato de sermos diferentes é que o ponto de partida para a civilização e o progresso do indivíduo, só podemos deixar de ser um povo heterogêneo para sermos homogêneos.

  • Instituição: Faculdades Planalto
  • Autor: Izaurina Rodrigues

Espero de coração que você tenha gostado deste texto. E caso você realmente tenha gostado, pode nos ajudar a divulgar para o resto do mundo?

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O QUE É CULTURA POPULAR?. Pedagogia ao Pé da Letra, 2013. Disponível em: <//pedagogiaaopedaletra.com/o-que-e-cultura-popular/>. Acesso em: 08 de Sep de 2022.


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