O que aconteceu com a economia açucareira do Brasil logo que os holandeses foram expulsos

Ao firmar as atividades coloniais no Brasil a partir de 1530, os portugueses logo tomaram ações em prol do desenvolvimento da indústria açucareira. Tal opção se dava primordialmente pelo clima e o solo tropical, ideais para o plantio extensivo de cana-de-açúcar. Além disso, devemos assinalar que os portugueses já acumulavam larga experiência nesse tipo de empreendimento agrícola, pois o mesmo já era experimentado nas ilhas atlânticas de Madeira e Cabo Verde. Somada às condições naturais favoráveis e ao conhecimento técnico, também devemos frisar que a produção de açúcar foi escolhida pela alta demanda que o produto tinha no mercado europeu. Dessa forma, observamos que a indústria açucareira representava perfeitamente a lógica do colonialismo, onde a metrópole se dispunha das terras dominadas para buscar lucro e explorar as mesmas, em função das necessidades do mercado externo. Não tendo condições de arcar com os altos investimentos exigidos pela fabricação de açúcar, os portugueses realizaram uma sólida parceria com os comerciantes holandeses. Em suma, os mercadores da região flamenca recolhiam o açúcar que chegava à cidade de Lisboa e realizava a distribuição do produto em várias regiões da Europa, como França, Inglaterra e no Báltico. Em outros casos, os holandeses participavam da produção açucareira oferecendo empréstimos para a construção de engenhos no Brasil. Na medida em que ofereceu um significativo retorno financeiro, a Coroa Portuguesa estabelecia isenções de tributos e outros privilégios que buscavam facilitar a produção dos senhores de engenho. Em pouco tempo, podemos ver que o produto conquistou o mercado europeu e ocupou novos espaços no ambiente colonial brasileiro. Na década de 1570, estima-se que já havia cerca de 60 engenhos construídos ao longo do território. Já em 1627, novos dados indicavam praticamente o quádruplo dessas instalações. Alcançando a segunda metade do século XVII, vemos que o triunfo alcançado pelo açúcar já não era mais o mesmo. Nessa época, os holandeses foram expulsos da região Nordeste – principal polo de fabricação do açúcar brasileiro – para empreender o cultivo de cana-de-açúcar nas Antilhas. Nesse contexto, Portugal não conseguiu fazer frente ao preço e à qualidade mais competitiva do açúcar antilhano. De tal modo, a produção açucareira entrara em crise. Essa não seria a primeira e nem a última vez que a produção de açúcar brasileira viria a entrar em crise. A falta de condições para investimento e as várias oscilações experimentadas no mercado externo acabavam por deflagrar esses tempos de crise da economia açucareira. Apesar disso, não podemos nos esquecer que tal atividade econômica sempre figurou entre as mais importantes de nossa economia colonial. E, por isso, nunca chegou a entrar em uma crise definitiva que viesse a encerrar o negócio. Por Rainer Sousa Graduado em História

Equipe Brasil Escola

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Chegado o ano de 1640, a presença dos holandeses em território brasileiro esteve ameaçada pelo fim da União Ibérica. Nessa época, o envolvimento dos espanhóis em diversas guerras na Europa ameaçava seriamente a hegemonia do espaço colonial formado pelos portugueses. Afinal de contas, o fomento de tantas rivalidades poderia resultar na invasão de outras nações aos domínios, que um dia foram controladas diretamente pela Coroa Portuguesa.

Mediante tal insatisfação, membros da nobreza lusitana mobilizaram-se em um conflito denominado Restauração. Nessa guerra, os portugueses deram fim à União Ibérica e empossaram o duque de Bragança, agora dom João IV, como o novo rei de Portugal. Nesse momento, a necessidade de se recuperar do desgaste econômico gerado pela dominação espanhola colocava como urgente a recuperação do território colonial brasileiro, então dominado pela Holanda.

Ao mesmo tempo em que tal mudança acontecia, a relação entre os holandeses e os colonizadores brasileiros também apontava para novos rumos. Se anteriormente, a presença dos holandeses se colocava como oportunidade no desenvolvimento da economia açucareira, agora, os senhores de engenhos se mostravam claramente insatisfeitos com a exigência holandesa em pagar os empréstimos contraídos e ampliar a produção das lavouras imediatamente.

Nesse clima de forte tensão, eclode em 1645, a chamada Insurreição Pernambucana. Tal conflito marcou a mobilização dos grandes proprietários de terra em favor da expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro. Nos anos de 1648 e 1649, a vitória nas batalhas ocorridas no Monte dos Guararapes determinou um grande avanço da população local contra os holandeses. Tempos mais tarde, a chegada de reforços militares portugueses acelerou ainda mais o processo de expulsão.

No mesmo tempo em que as armas eram utilizadas, devemos também salientar que Portugal negociava diplomaticamente a saída definitiva dos holandeses do Brasil. Segundo o trabalho recente de especialistas no assunto, Portugal teria pago à Holanda uma pesada indenização de quatro milhões de cruzados (algo em torno de 63 toneladas de ouro) para que os holandeses abandonassem o Nordeste. Assim, os holandeses finalmente deixaram nossas terras no ano de 1654.

Durante as primeiras décadas do período colonial, os portugueses decidiram viabilizar a exploração do espaço colonial com o desenvolvimento da exploração açucareira. A escolha por esse produto se deu, inicialmente, em função da possibilidade de comercialização com o amplo mercado consumidor europeu e as condições climáticas que favoreciam seu plantio no Brasil. Além disso, o domínio português sobre algumas eficientes técnicas de plantio também influíram nesta mesma decisão. Contudo, apesar de tantas vantagens apresentadas pelo desenvolvimento dessa atividade, a produção açucareira exigia uma complexa infraestrutura que envolvia o uso de grandes propriedades, a farta disponibilidade de mão de obra, manutenção de pastos para animais de tração, extração de madeira e a construção de instalações apropriadas para o beneficiamento da cana-de-açúcar. De fato, a empresa colonial exigia um alto investimento. Não tendo todo o capital exigido para o negócio, Portugal contou com o auxílio de banqueiros europeus que financiavam uma considerável parte deste empreendimento. Dentre esses financiadores se destacavam os banqueiros holandeses, que, com o passar do tempo, passaram também a intermediar a negociação do produto em diferentes pontos da Europa. Assumindo o papel de atravessadores, acabavam abocanhando uma considerável parcela dos lucros. O expressivo papel desempenhado pelos holandeses na consolidação da empresa açucareira foi de grande importância para a expansão da classe mercantil daquele país. Além disso, o ritmo de exploração e desenvolvimento dos centros de produção no Brasil provavelmente não teria alcançado o mesmo ritmo sem essa mesma participação do capital holandês. Apesar do bom relacionamento comercial que se desenvolvia entre Portugal e Holanda, essa parceria tomou outros rumos no final do século XVI. Nesse período, os reinos ibéricos passaram por diversas transformações. Em 1578, o trono português ficou vago mediante a existência de um herdeiro que pudesse assumir o cargo. Com isso, o rei espanhol Filipe II, neto do rei português Dom Manuel I, reivindicou o governo de Portugal, provocando a unificação das coroas portuguesa e espanhola. Mas afinal, de que maneira essa nova configuração política afetou a participação holandesa na exploração do açúcar? Historicamente, o processo de formação do Estado holandês se desenvolveu entre diversos confrontos contra o domínio político dos espanhóis naquela região. De fato, em 1579 – um ano antes da unificação dos reinos ibéricos – os holandeses proclamaram a sua independência em relação ao trono espanhol. No ano seguinte, quando a Espanha assumiu o governo de Portugal, a Holanda perdeu automaticamente todos os direitos de participação na exploração da economia açucareira.

Dessa maneira, buscando reverter os prejuízos que a retaliação dos espanhóis causava à economia do país, os holandeses decidiram organizar expedições para promover a invasão das terras brasileiras. Tentando inicialmente ocupar a Bahia e depois se fixando na região de Pernambuco, a Holanda passou a controlar diretamente a empresa açucareira no Brasil entre os séculos XVI e XVII.

Por Rainer Sousa
Mestre em História