Ministro que morreu por causa do ar condicionado

Barbara George 16th jun 2017 Qualidade do Ar

Por Danielle Denny e Ivani Lúcia Leme |

A poluição do ar é preocupante, principalmente nas grandes cidades, mas não temos ideia de que o perigo também está dentro dos edifícios, comerciais principalmente, onde a circulação de pessoas é maior. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, passamos 80 a 90% de nossas vidas em ambientes fechados, respirando em torno de 10 mil litros de ar por dia.

O primeiro caso de Doença Relacionada a Edifício – DRE foi reportado em julho de 1976, em pleno verão americano, no centenário Belevue Stratford Hotel, onde ocorria a convenção anual da Legião Americana de Veteranos da Guerra da Coréia. Os participantes – idosos e, portanto, mais susceptíveis a doenças respiratórias, começaram a passar mal durante o evento, inicialmente com insuficiência respiratória, num total de 182 pessoas.

A bactéria causadora da doença era um organismo de difícil diagnóstico laboratorial nas condições da época. Hoje se sabe que sobrevive na água dos dutos do ar condicionado e dissemina-se pelo ar que é inalado no ambiente – a bactéria foi chamada de Legionella pneumophila – “doença pulmonar dos legionários”.

A legionelose é uma infecção mortal se não for tratada precocemente, também em pessoas jovens e sadias. O microrganismo estava presente no sistema de ar condicionado do hotel de luxo, que estava sem a devida manutenção das tubulações de água e de ar. Foram 29 casos fatais em poucos dias, mas pode ter sido mais – 34, visto que muitos dos legionários voltaram para suas casas e morreram dias depois.

Ministro que morreu por causa do ar condicionado

Foto: Givaldo Barbosa

No Brasil em 1998, o ex-Ministro da Comunicação Sergio Motta, internado por problemas cardiológicos, no Hospital Albert Einstein em São Paulo, morreu de insuficiência respiratória por legionelose, o que levou o Ministério da Saúde a regulamentar ambientes climatizados.

Em edifícios novos, depois de alguns meses da conclusão das obras, a tendência é a melhora do ambiente. Porém, há situações onde a SDE será de cunho permanente devido a erros de projeto, falta de manutenção do sistema de climatização ou uso de filtros inadequados. O biofilme que se desenvolve nos dutos de ar condicionado é formado pela colonização e contaminação microbiana (bactérias, fungos, vírus, protozoários) e presença de insetos e animais. O biofilme contribui para doenças diversas e até morte de pessoas mais sensíveis.

Em 25% dos casos de SDE permanente as causas são devidas aos fungos e produtos do metabolismo bacteriano, como as endotoxinas. Em 15%, poeiras, em 12%, bactérias e nos demais casos baixa ou alta umidade relativa ar, existência de formaldeído cancerígeno (presente nos inseticidas), suspensão de fibras de vidro e outros. O perigo é ainda maior em ambientes de pequeno porte, com número maior de pessoas compartilhando o mesmo espaço, necessitando, portanto, de trocas de ar mais frequentes para diluir essas substâncias.

Os sintomas mais comuns de SDE são: irritação de olhos, nariz e garganta, fadiga mental, dor de cabeça, infecção das vias aéreas, tosse , rouquidão, respiração ruidosa asmática, dificuldade em respirar, coceira e hipersensibilidade não especifica, dores articulares e lacrimejamento.

A exposição ao bioaerosol (poeira com fungos e bactéria) causam efeitos mais graves, como rinite, sinusite, conjuntivite, pneumonia, asma, alveolite, febre do umidificador, aspergilose broncopulmonar (doença grave em pacientes hospitalizados pela rapidez com que se generaliza, levando ao óbito, com sintomas parecidos ao da gripe) dermatites de contato, eczemas, urticária de contato e micotoxicoses. Pessoas submetidas a esses ambientes, muitas vezes pensam ser alérgicas ao trabalho, mas na verdade estão convivendo em edifícios doentes.

Mas como resolver permanentemente isso, visto a extensão desse problema? Não basta eliminar os fumódromos sob a força da lei. Precisam ser instalados filtros de alta eficiência e praticados método corretos de higienização de dutos nos sistemas de ar condicionado, com substituições periódicas programadas dos filtros. Além disso, o ponto de captação do ar exterior para renovação do ar ambiental interior deve ser posicionado corretamente – não pode ser originário de um estacionamento ou próximo do depósito de lixo do prédio, como é o caso de muitos edifícios, inclusive os de alto padrão.

A Coordenação de Vigilância em Saúde – COVISA, órgão da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, realizou, em 2012, operação de vistoria em 40 shoppings. Constatou que apenas dois deles estavam adequados em termos de qualidade do ar. A equipe conta com apenas três pessoas para fiscalizar todos os edifícios da cidade de São Paulo. Com uma equipe maior, as irregularidades autuadas provavelmente seriam ainda mais frequentes.

Ministro que morreu por causa do ar condicionado

Dutos sem manutenção | Foto: Divulgação

Além do tripé básico para manter saudáveis os edifícios – limpeza do sistema de climatização, filtragem e renovação do ar, existem outros cuidados a serem tomados, como o controle de animais, como roedores, morcegos e pombos pois eles excretam fungos muito perigosos. As fontes de água devem ser cloradas, porque favorecem a formação de colônias de bactérias e a proliferação de mosquitos, inclusive o da dengue. Vasos de plantas em ambientes úmidos e escuros são propícios para a proliferação de fungos.

Sistemas de resfriamento e umidificação do ar – os vaporizadores, também merecem atenção e normas, visto que as gotículas de água vaporizada podem vir carregadas de bactérias e vírus. Nos parques temáticos da Disney, por exemplo, se faz tratamento dos sistemas com ozônio ou luz ultravioleta antes da água ser vaporizada sobre as pessoas para resfriamento.

Em virtude da complexidade dos sistemas de climatização é obrigatório que as empresas tenham seus planos de manutenção, orientação e controle da qualidade do ar em ambientes climatizados, com anotação de responsabilidade técnica de um engenheiro mecânico e registrada junto ao CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura). Esse responsável técnico deve disponibilizar relatórios de manutenção e laudos físico, químico e microbiológico sobre a qualidade do ar disponível a qualquer momento.

Nos hospitais, o controle de riscos relacionados ao ambiente é ainda mais importante. Pacientes imunocomprometidos (com câncer, AIDS, transplantados e outras doenças de base), assim como aqueles com doenças infecto-contagiosas precisam de ambiente controlado, com pressão diferenciada, além da filtração do ar. Na troca dos sistemas filtrantes, seja na comunidade ou nos serviços de saúde são necessários cuidados especiais, pois o filtro carrega uma infinidade de poluentes e microrganismos.

Os filtros de ar oriundos de serviços de saúde devem ser descartados como resíduos infectantes, seguindo rotinas diferenciadas. Porém, há necessidade de controle e fiscalização das empresas de manutenção, se realizam corretamente o descarte desses filtros ou se há reuso deles. E falta, também, monitoramento sobre o treinamento dado aos funcionários para essa tarefa.

Em tese, fazer só o que está na lei é insuficiente, tem-se que propiciar condições saudáveis para as pessoas que convivem por períodos prolongados em ambientes confinados. Quando 20% ou mais da população de um edifício apresenta queixas ou sintomas, já é considerada como fator da doença, a Síndrome do Edifício Doente.

Até chegarmos nesse ponto de comprometimento intrínseco dos gestores e da equipe de manutenção com a qualidade do ar, serão necessárias mais normas, processos civis, penais, trabalhistas e ampla divulgação na mídia sobre as doenças relacionadas ao ambiente interno.

Para saber mais:

Legislação
http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/3523_98.htm

Tese – Qualidade do Ar em um aeroporto do Rio de Janeiro
http://teses.icict.fiocruz.br/pdf/silveiramgd.pdf

FONTE: Ambiente Legal – Legislação, Meio Ambiente e Sustentabilidade

Ministro que morreu por causa do ar condicionado

Sérgio Roberto Vieira da Motta GCC • GOMM (São Paulo, 26 de novembro de 1940 – São Paulo, 19 de abril de 1998) foi um engenheiro, empresário, jornalista e político brasileiro filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Foi ministro das Comunicações durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Sérgio Motta 12.º Ministro das Comunicações do Brasil Período 1º de janeiro de 1995
a 19 de abril de 1998 Presidente Fernando Henrique Cardoso Antecessor(a) Djalma Bastos de Morais Sucessor(a) Luiz Carlos Mendonça de Barros Dados pessoais Nascimento 26 de novembro de 1940
São Paulo, SP Morte 19 de abril de 1998 (57 anos)
São Paulo, São Paulo Prêmio(s)
  • Ordem de Cristo[1]
  • Ordem do Mérito Militar[2]
Partido PSDB (1988–1998) Profissão Engenheiro, empresário e jornalista

Nascido no bairro da Mooca em 1940, filho de um técnico de raio-X de origem portuguesa, Sérgio Motta se formou em Engenharia Industrial pela PUC Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1967. Na faculdade começou sua militância política na oposição de esquerda à ditadura militar por meio da Ação Popular. Nos anos 70, foi responsável pelo jornal Movimento, um dos principais semanários contrários ao regime, além de se tornar, em 1973, diretor-presidente da Hidrobrasileira S/A, empresa de consultoria em engenharia e elaboração de projetos. Segundo amigos, Sérgio Motta empregou nesse período perseguidos políticos e ajudou militantes que se encontravam na clandestinidade.

Em 1975, sua aproximação com o meio político se daria de maneira mais intensa a partir da amizade com Fernando Henrique Cardoso, iniciada no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), instituição na qual Fernando Henrique trabalhava no período. A partir dali, Sérgio se engajaria em todas as suas campanhas políticas, a começar pela candidatura ao Senado pelo MDB em 1978, eleições em que Fernando Henrique obteria a suplência de André Franco Montoro. Fernando Henrique se tornaria senador com a posse de Montoro no governo de São Paulo em 1983.

Ainda nos anos 70, enveredou pela produção cultural, sendo um dos financiadores da montagem de Mortos sem Sepultura, texto do existencialista francês Jean-Paul Sartre dirigido por Fernando Peixoto. Logo em seguida, montaria com Luiz Carlos Mendonça de Barros a Difusão S/C Ltda, empresa de promoção de espetáculos. A empresa fecharia as portas no início dos anos 80.

Durante a gestão de Ângelo Amaury Stábile no Ministério da Agricultura do governo João Baptista de Figueiredo, Motta envolveria-se em sua primeira controvérsia junto ao meio político, o rumoroso Caso Coalbra. Aproximando-se de Golbery do Couto e Silva no período, Sérgio Motta seria designado, em 1980, a presidir a Companhia para a Extração de Álcool da Madeira, cujos recursos, no entanto, teriam sido desviados para aplicações no mercado financeiro. Descoberto do esquema em 1984, o ministro Stábile foi demitido e o seu sucessor, o gaúcho Nestor Jost, promoveu a demissão de todos os envolvidos nos escândalos do ministério. Do empreendimento, liquidado em 1986 pelo governo Sarney, restou um rombo de 250 milhões de dólares e as ruínas, na cidade de Uberlândia. Motta, no entanto, nunca foi responsabilizado judicialmente pelo caso.[3]

Com a saída da Coalbra, Sérgio Motta assumiria a vice-presidência da Eletropaulo até o final do governo Franco Montoro, em março de 1987. Neste ano, reassume a presidência da Hidrobrasileira.

Em 1988 se inscreve, ao lado de Fernando Henrique, Montoro, Mário Covas, José Serra e outros, como um dos fundadores do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), grupo de políticos do PMDB, descontentes com o presidente Sarney e o governador de São Paulo, Orestes Quércia, que resolvem formar dissidência.

Em 1989 compra, ao lado de Fernando Henrique, uma fazenda em Buritis, interior de Minas Gerais. Ambos depois seriam acusados de subvalorizar a propriedade em seu registro imobiliário para que pagassem menos nos impostos devidos.

No início dos anos 90, a Hidrobrasileira se torna uma das vencedoras da concorrência pública para o consórcio lançado pelo então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, objetivando a despoluição do Rio Tietê. Em dezembro de 1994, tal consórcio seria contestado pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, que alegou a não-necessidade de sua criação, ponderando que a Sabesp e a Cetesb, empresas estatais paulistas, já seriam aptas ao cumprimento da tarefa.

Em 1994, é designado pelo PSDB como o principal coordenador da vitoriosa campanha de Fernando Henrique Cardoso nas eleições para a presidência da República daquele ano. Fernando Henrique, capitaneado pelo sucesso econômico do Plano Real, venceria o pleito ainda no primeiro turno.

Com efeito, Sérgio Motta é escolhido para o Ministério das Comunicações do novo governo, tomando posse em 1 de janeiro de 1995. Desde o início, Motta alardeia sua intenção de privatizar o sistema Telebrás e modernizar os serviços de telefonia do país, popularizando a aquisição de linhas fixas e estimulando a difusão de celulares.[4]

Em março de 1995, Motta foi admitido por FHC à Ordem do Mérito Militar no grau de Grande-Oficial especial.[2] Em outubro do mesmo ano, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal.[1]

Sérgio Motta passa a conduzir um dos maiores processos de privatização da história do país, que obtém sucesso em seus objetivos de desburocratização dos serviços de telefonia, melhorando sua gestão e qualidade, diminuindo os preços para as linhas fixas (o que leva ao substancial aumento de sua aquisição) e incrementando a presença do celular no mercado. Outros resultados desses esforços são a aprovação da Lei Geral das Telecomunicações, em julho de 1997, e a implementação, em novembro do mesmo ano, da Anatel. Motta igualmente tem participação importante na expansão da TV a cabo, sendo acusado, entretanto, de privilegiar o Grupo Abril e as Organizações Globo.

Como Ministro das Comunicações, Motta também estimulou as empresas estatais de comunicação a investirem em empreendimentos culturais, colaborando assim para a estabilização do Programa Nacional de Cultura, desenvolvido por FHC.

Entretanto, mais que Ministro das Comunicações, Sérgio Motta foi o principal articulador do governo Fernando Henrique Cardoso junto ao Congresso Nacional. Dono de uma postura rude e autor de várias declarações pouco lisonjeiras em relação inclusive a muitos nomes do governo (Motta chegou mesmo a acusar a primeira-dama Ruth Cardoso, coordenadora do Comunidade Solidária, o programa assistencialista do governo, de estar promovendo "masturbação sociológica" na gestão da entidade), Motta teve atitude enérgica e ativa na aprovação de vários pontos de interesse do governo, como a emenda da reeleição, em janeiro de 1997. Nessa época, Sérgio passa a ser apelidado, por entusiastas e opositores, de Serjão e Trator.

Morreu de infecção pulmonar em 1998,(agravamento da fibrose no interstício pulmonar, o tecido que fica entre os alvéolos, onde o oxigênio inspirado é trocado por gás carbônico) dois dias antes do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), deixando para seus sucessores a negociação dos segmentos de operação da telefonia celular, esboçada em sua gestão, e a concretização do leilão das companhias telefônicas. Antes de ser internado pela última vez, Motta escreveu um fax a FHC, onde agradecia todo o apoio dado pelo então presidente às privatizações.[4]

Gravações obtidas pelo jornal Folha de S.Paulo, envolveram o ministro no escândalo de compra de votos para a aprovação da Emenda Constitucional 16/97, que possibilitou a reeleição de prefeitos, governadores e presidentes da República por um único mandato subsequente, beneficiando assim o então presidente FHC do (PSDB), bem como todos os outros governadores e prefeitos do Brasil, de todos os partidos políticos.

Nas gravações, o deputado João Maia (PFL). dizia que recebeu R$ 200 mil para votar a favor da emenda que permitiu a reeleição de FHC. O deputado revela ainda que a barganha pelo voto previa receber R$ 200 mil do governo federal e outros R$ 200 mil do governo do Estado do Acre. O dinheiro usado na operação, segundo Maia, foi providenciado pelo governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), e pelo ministro Sérgio Motta.[1].

Em conversa gravada, o deputado Ronivon Santiago disse que depois da aprovação da emenda da reeleição, recebeu uma retransmissora de TV do ministro Sérgio Motta. Segundo Ronivon, a TV não pôde ficar em seu nome. Registrou-a em nome de um "amigo": Mas não está no meu nome, não. É no nome de um cara lá, de um amigo meu. O cara está tocando, disse Ronivon a uma pessoa que não quer ser identificada e a quem a Folha chamou de "Senhor X"..[2].

  1. a b «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Sérgio Roberto Vieira da Motta". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 19 de fevereiro de 2015 
  2. a b BRASIL, Decreto de 29 de março de 1995.
  3. Sebastião Nery (13 de outubro de 2007). «Lições do Tempo». Jornal Pequeno. Consultado em 20 de agosto de 2010 
  4. a b "O legado de Sérgio Motta, dez anos depois", Ethevaldo Siqueira, O Estado de S. Paulo, 13/4/2008, pág. B20

 

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Precedido por
Djalma Bastos de Morais
Ministro das Comunicações do Brasil
1995 — 1998
Sucedido por
Luiz Carlos Mendonça de Barros

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