De acordo com o texto, o livro não foi lançado por qual motivo

A resenha crítica é um texto pertencente ao campo jornalístico e que tem como principal função expor uma opinião do autor acerca da qualidade de determinada obra (artística, acadêmica etc.). É muito comum encontrarmos, em jornais, revistas ou mesmo em ambientes digitais, um espaço dedicado a filmes, séries ou livros, em que diversos resenhistas descrevem, informam e analisam tais produtos sociais que circulam em nosso meio.

Leia mais: Notícia — texto jornalístico que relata um fato socialmente relevante para amplo público

Resumo sobre resenha crítica

  • É um texto pertencente ao gênero jornalístico.

  • Tem como principal característica a descrição e informação sobre determinado produto social (livro, filme, série, show, música etc.).

  • Para um bom desenvolvimento desse gênero, é preciso pesquisar e estudar bastante sobre o objeto a ser resenhado.

  • É estruturalmente dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão.

Videoaula sobre resenha crítica

O que é resenha crítica?

A resenha crítica é um texto de caráter opinativo em que o autor descreve e analisa uma produção social (por exemplo, uma obra artística ou acadêmica), a fim de influenciar os seus leitores recomendando a obra pelas suas boas qualidades ou a rejeitando pelos seus excessos e defeitos.

Assim, a resenha crítica é uma modalidade de texto em que o autor interpreta um produto e expõe, com base em argumentos, o seu ponto de vista sobre ele. Nesse sentido, é muito comum encontrarmos na mídia, principalmente na internet, uma série de análises sobre filmes e livros, indicando-os ou mesmo rechaçando-os, no intuito de oferecer um feedback ao público.

Passo a passo de como fazer uma resenha crítica

De início, é preciso escolher a obra a ser resenhada, a qual pode ser um filme, um livro ou uma série. Assim, antes de iniciar a resenha crítica, deve-se seguir estes passos:

  • Passo 1: assistir atentamente à obra e anotar os aspectos que você julgar mais pertinentes para a análise.

  • Passo 2: pesquisar as informações técnicas sobre a obra (data de lançamento, principais autores, contexto em que a obra foi produzida etc.).

  • Passo 3: estudar bastante sobre o autor da obra e outras informações essenciais para a composição da resenha crítica.

  • Passo 4: desenvolver uma linha de raciocínio sobre a obra, isto é, qual (quais) caminho(s) você percorrerá? Será uma análise puramente técnica (por exemplo, em um filme, podem ser considerados aspectos como iluminação, fotografia etc.) ou você levará em consideração aspectos subjetivos (encontrados com maior facilidade no enredo e nos personagens)?

Após refletir sobre esses quatro itens, você terá as informações necessárias para iniciar o processo de escrita. Segue o passo a passo referente à produção da resenha crítica:

  • Apresentar um resumo inicial da obra, pois muitas pessoas leem a resenha sem terem conhecimento do produto em si. Dessa forma, apresente ao leitor, de maneira sucinta, as informações técnicas (se for um filme, aponte o diretor e os principais nomes da produção), o enredo e as personagens. É preciso situar o público.

  • No corpo do texto, você deve entrar em sua análise propriamente dita. Para ficar mais claro e didático, você pode dividir sua análise em blocos. Por exemplo, ao analisar um filme, é possível avaliá-lo com base no enredo, no relacionamento das personagens e no impacto causado no público. Essa divisão pode ajudar o leitor a compreender os caminhos trilhados por você, evitando confusões.

  • Na conclusão, é possível retomar os principais pontos interpretados sobre a obra e ainda dar uma espécie de veredito ao seu leitor, isto é, dizer ao público se aquela obra realmente vale a pena ser apreciada ou não. Em alguns veículos de mídia, a resenha crítica apresenta uma nota avaliativa ao final.

Diferença entre resumo e resenha crítica

Uma das dúvidas mais recorrentes é sobre a diferença entre o resumo e a resenha crítica. Sobre o resumo, trata-se de um texto em que prevalece a descrição das informações e dos fatos obtidos. Já na resenha, além de uma breve descrição da obra, há a exposição de uma opinião do autor sobre a ela (se ele gostou e do que gostou ou se não gostou e do que não gostou).

Assim, o resumo não reserva espaço para as interpretações e visões do autor. Por outro lado, a resenha crítica exige um posicionamento daquele que escreve. Para melhor compreendermos a diferença, vejamos os exemplos a seguir.

O parágrafo anterior é um resumo que descreve o enredo da série Round 6, da Netflix. A seguir, temos uma transformação do texto em resenha crítica.

Nesse texto, mantivemos o resumo no primeiro parágrafo, e, na sequência, em vermelho, comentamos e interpretamos as informações descritas no parágrafo anterior. Assim, podemos dizer que o primeiro parágrafo resume e que o segundo resenha criticamente a série em questão.

Leia mais: Diferenças entre resumo e esquema

Características e estrutura de uma resenha crítica

A resenha crítica é um texto de cunho jornalístico, isto é, prevalece nela o caráter informativo e opinativo. Assim, ela pode ser organizada da seguinte forma:

  1. Apresentação: o autor faz um breve resumo da obra a ser analisada tanto com informações técnicas quanto com informações sobre o conteúdo (do livro, do filme etc).

  2. Análise: é nessa parte que o autor interpretará e analisará as informações descritas. Se for uma resenha crítica de cunho acadêmico, o resenhista deve destacar as principais teses defendidas pelo autor e expor sua opinião (se ele está de acordo ou não com elas). O mesmo vale para análise de obras literárias ou filmes, ou seja, é preciso dizer ao leitor quais pontos serão destacados sobre aquela produção (sejam positivos, sejam negativos).

  3. Conclusão: aqui o autor pode dar um parecer final sobre a obra ou mesmo retomar os principais tópicos abordados sobre ela.

Exemplo de resenha crítica

Esse exemplo é um trecho de uma análise da música The writing on the wall (Iron Maiden). O autor inicia sua resenha com algumas informações sobre o lançamento do single e a reação do público. Ele traz ainda algumas referências anteriores do grupo musical.

No parágrafo seguinte, o resenhista começa a interpretar as informações oferecidas ao seu leitor. Assim, expõe as conexões que a música possui com a Bíblia e o que significa a tal escrita na parede. A história da música se encontra, com base nas leituras e pesquisas do autor, com a figura de Belsazar, do Livro de Daniel.

O autor finaliza a primeira parte de seu texto associando a arrogância e os medos do personagem ao conteúdo da canção. Ele constrói sua interpretação por meio da exposição da associação entre a música e a história bíblica.

Pelo exemplo, podemos ver que a resenha crítica está muito além de uma simples descrição da obra. É preciso interpretar, discutir e dissecar a obra para o leitor, oferecendo-lhe os elementos necessários para que ele valorize sua opinião.

O conto “O espelho”, um dos textos mais famosos de Machado de Assis, foi originalmente publicado no jornal Gazeta de Notícias em 8 de setembro de 1882. No fim do mesmo ano, também foi lançado em livro, inserido na coletânea Papéis Avulsos, que reunia doze narrativas curtas do autor. “O espelho”, subintitulado ironicamente de “Esboço de uma nova teoria da alma humana”, é um pretenso conto filosófico que discute o processo de formação da identidade de cada indivíduo e a relação entre subjetividade e vida social, demonstrando como o olhar dos outros interfere na imagem que fazemos de nós mesmos. 

O enredo gira em torno de Jacobina, um homem rico de meia idade que narra a outros quatro senhores um episódio marcante de sua juventude, o qual definiu a sua personalidade adulta, na altura em que iniciou a carreira militar. O protagonista utiliza essa experiência para exemplificar uma tese extravagante. Segundo Jacobina, as pessoas não teriam apenas uma alma, e sim duas: “uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro”. Por meio da voz “astuta e cáustica” de Jacobina, Machado de Assis adota um tom irônico e incisivo com seus leitores, sugerindo um olhar perplexo e desiludido sobre o que diz respeito à natureza humana, uma vez que, se existirem mesmo duas almas – uma interior e outra exterior –, ninguém seria autêntico. Cada pessoa acabaria por ser o resultado sempre provisório do embate entre essas duas almas. 

Como boa narrativa machadiana, o conto critica com mordacidade e desengano o fato de que a alma exterior acaba por ser mais nítida e sedutora e, por isso, teria mais chances de prevalecer sobre a alma interior, fazendo com que a “essência” de cada um acabasse por desaparecer a certa altura da vida, ficando-nos apenas a “aparência”. 

Leia também: Análise de "Os Sermões", de Padre Antônio Vieira

Aspectos gerais sobre a obra

O conto-teoria “O espelho” propõe uma maneira de olhar para o mistério da existência humana e sugere uma interpretação dos processos de formação da identidade por meio da hipótese das duas almas. 

Como a maioria dos contos de Machado de Assis, “O espelho” não pode ser lido com ingenuidade; por detrás da atmosfera solene, é possível identificar a visada irônica, muito própria do estilo machadiano, que retrata com zombaria a suposta seriedade das discussões filosóficas.

A narrativa tem duas camadas diegéticas (ficcionais), por isso é possível identificar um conto dentro do próprio conto, subdividindo em duas instâncias os elementos da narrativa. Por esse motivo, enredo, narrador, tempo, espaço e personagens acabam sendo também construídos em duas camadas: exterior e interior.

Enredo - Enredo do conto: o protagonista Jacobina está na sua meia-idade participando de uma tertúlia filosófica.  Enredo do conto dentro do conto: o protagonista Jacobina tem vinte e cinco anos e passa uma temporada no sítio afastado de uma tia, pouco depois de ser nomeado alferes da Guarda Nacional.

Narrador - Narrador do conto: o narrador que descreve a primeira camada diegética é um narrador onisciente, que pode ser confundido com a voz do próprio autor.  Narrador do conto dentro do conto: o narrador que descreve a segunda camada diegética é o narrador protagonista (ou personagem relutante) Jacobina, que narra um episódio da sua juventude e o observa, portanto, distanciado pelo tempo. Essa narração surge nos diálogos, identificados graficamente pelo travessão.

Tempo - Tempo do conto: identificado como o presente, é o tempo da tertúlia filosófica; quando Jacobina está na sua meia-idade. Tempo do conto dentro do conto: o tempo do episódio relatado é o passado, quando Jacobina tinha vinte e cinco anos e ficara hospedado no sítio da tia.

Espaço - Espaço do conto: o cenário é a sala de uma casa no morro de Santa Teresa, localizado na região central da cidade do Rio de Janeiro e muito procurado por famílias abastadas que queriam fugir do calor do verão. Cria-se um ar sóbrio para o ambiente, próprio para essas discussões “de alta transcendência”.  Espaço do conto dentro do conto: o cenário é a casa do sítio da tia Marcolina, um “sítio escuro e solitário” que ficava “a muitas léguas” da vila onde Jacobina vivia. Nessa casa, ganham relevo a sala, local em que estava o espelho – o qual dá título ao conto –, e o quarto em que Jacobina foi instalado, onde esse mesmo espelho foi colocado. A ambiência é construída segundo uma atmosfera sobrenatural, fazendo com que a obra beire o gênero fantástico.

As duas almas

O teor desencantado da narrativa é dado pelo fato de a alma exterior ter dominado a interior do jovem Jacobina. Em “O espelho”, a teoria das duas almas acaba por alegorizar, de forma irônica e amarga, o império das aparências, em uma sociedade na qual a máscara do cargo vale mais do que a pessoa que o ocupa. Machado de Assis crítica de forma satírica o fato de todos cumprirem seus papéis sociais por meio de máscaras e fantasias. As regras da atuação social definem o modo de agir em público e fazem com que os indivíduos percam a capacidade de se expressar de forma genuína. 

O espelho

O objeto tem função de personagem, uma vez que são várias as passagens em que o espelho é caracterizado e interage com o protagonista. Na psicologia lacaniana, é denominado estágio do espelho o momento em que a criança reconhece a sua própria imagem e passa a perceber a sua singularidade com relação às pessoas que compõem o seu círculo social. O narrador do conto dentro do conto caracteriza cuidadosamente o espelho que mediou um momento de virada em sua vida, personificando-o. O reflexo no espelho é utilizado para demonstrar como as pessoas são constituídas na relação social. A opinião dos outros interferiu irreversivelmente na imagem que o jovem Jacobina fazia de si mesmo; assim, ele não foi capaz de se reinventar sozinho. Assim, Jacobina representa um movimento essencialmente comum a todos nós.

A inconstância da personalidade humana, explicada por meio da fratura do conceito de alma, não constitui, contudo, uma verdade absoluta. O irônico narrador machadiano propositalmente se esconde por detrás dos personagens e não elabora um juízo de valor, como faz em muitos outros contos. Reina, portanto, o discurso autoritário do Jacobina mais velho, que faz com que todos fiquem sem palavras. Porém, por detrás da cena, o narrador do conto poderá estar rindo dos leitores que, como os quatro cavalheiros, mergulharam a sério na perspectiva casmurra daquela personagem taciturna. Como é próprio das obras de Machado de Assis, “O espelho” incita o olhar desconfiado e crítico, lembrando-nos de que o nosso aprendizado e a nossa perspectiva do mundo também têm um movimento duplo, de apreender desconfiando e de desconfiar apreendendo.