Como chama uma situacao quando e comparada a outra

Em nossa comunicação, é comum utilizarmos imagens para tornar mais clara a mensagem ou a ideia que pretendemos passar para o ouvinte. Mas, na escrita, é importante ter domínio dos recursos que estão à nossa disposição para utilizá-los de forma consciente e estratégica.

É o caso das figuras de linguagens, isto é, recursos da língua portuguesa que utilizamos para apresentar ideias a partir do sentido conotativo ou apelando para aspectos de comparação e até aspectos sonoros.

Nesse conteúdo vamos explicar o que é metáfora e o que é analogia, dois tipos de figuras de linguagem, e como diferenciá-las, caso as encontre em algum texto ou queira utilizá-las para tornar suas ideias mais sofisticadas quando estiver escrevendo.

Definição de metáfora e analogia

Vamos entender, em primeiro lugar, o que significa cada uma das figuras de linguagem apresentadas aqui, a metáfora e a analogia.

Metáfora significa “transposição de sentido” na tradução de meta (algo) e fora (sem sentido), palavras que vêm do latim. É, portanto, uma comparação entre os sentidos de duas ideias, de modo que o significado delas possa ser transposto, porém de modo não explícito.

Quando dizemos, por exemplo, que “o homem é o lobo do homem”, não estamos afirmando que o homem tem características físicas de um lobo, nem que ele se metamorfoseou em lobo, mas, sim, que há características desse animal que, em determinado contexto, passam a fazer parte das características do homem.

Note que também não utilizamos palavras que indiquem comparação, no caso “o homem é como um lobo”. A comparação independe de conectivos: ”o homem é o lobo”.

Analogia também se trata de uma figura de linguagem que nos ajuda a comparar as coisas. Porém, ao contrário da metáfora, na analogia é necessário que encontremos pontos de semelhança entre as ideias comparadas. Do grego allegoría, a palavra significa “dizer o outro”, isto é, explicar algo a partir da sua subjetividade, dar a sua interpretação sobre algo.

Um bom exemplo de analogia é a frase de Mário Glaab: “Para muitas pessoas, a felicidade é semelhante a uma bola: querem-na de todo jeito e, quando a possuem, dão-lhe um chute.”.

Veja, são apresentadas duas ideias que, a princípio, não parecem ter nada em comum, e, em seguida, se estabelece uma relação entre elas. A analogia é amplamente utilizada no direito e em textos filosóficos para se defender ideias que necessitam de comparação para serem discutidas e compreendidas.

É, também, uma comparação que, muitas vezes, necessita de conectivos para “funcionar” na frase, tais como “assim como”, “da mesma forma”, entre outros.

Para aprender mais e dominar de vez as Figuras de Linguagem, confira:
• 35 Figuras de Linguagem: o guia COMPLETO com as principais figuras
• Você sabe o que é símile? Conheça essa figura de linguagem
• Antítese, hipérbole e eufemismo: aprenda sobre as figuras de pensamento
• Aprenda a contar histórias incríveis com Figuras de Linguagem

Como diferenciar analogia e metáfora

Como foi possível perceber, as duas figuras de linguagem nos ajudam a apresentar objetos, seres ou conceitos que podem ser relacionados. Mas como saber qual dessas duas figuras de linguagem usar ou reconhecer, dependendo do contexto?

Por ter um caráter mais subjetivo, a metáfora costuma estar envolvida em textos literários, nos quais é possível trabalhar com a ideia de transposição de sentidos. Apesar disso, nada impede que a metáfora seja utilizada em outros contextos para enriquecer a sua narrativa. Nem sempre nos damos conta, mas muitos de nós utilizamos esse recurso em nossa comunicação oral constantemente, o que demonstra ótimo domínio do idioma.

Afinal, dizer, por exemplo, “aquela mulher é uma leoa” requer uma análise mais aprofundada de quem diz a frase, mas também de quem a escuta. Utilizar uma metáfora requer que o contexto da frase ajude o nosso interlocutor a entender o sentido que queremos apresentar com o uso da figura de linguagem.

A analogia também demanda atenção no uso. Ao contrário da metáfora, ela é mais objetiva e, para fazer sentido, necessita de uma explicação razoável e um bom entendimento das características que unem as duas ideias comparadas. 

Se dissermos, por exemplo, “a mãe é como uma leoa: ambas lutam com todas as forças para proteger suas crias”, devemos estar seguros de que as leoas realmente têm o comportamento indicado como equivalente ao da mãe. Do contrário, o argumento pode ser falho ou até mesmo manipulador.

Mais exemplos de metáfora (e mais explicações)

Um dos melhores exemplos de metáfora está no poema de Camões “amor é fogo que arde sem se ver”, no qual o poeta compara a ardência do amor com a ardência causada pelo fogo. Veja que ele está tentando mostrar o que sente quando está amando e apela para uma ideia visual, mas também sensorial, de fogo, o sentir-se queimar.

Outro verso da poesia brasileira no qual há metáfora é o de Mário Quintana: “As mãos que dizem adeus são pássaros que vão morrendo lentamente.”. Note que o poeta compara as mãos, quando estão se movendo com sentido de adeus, com pássaros que vão morrendo lentamente, indicando que as mãos, que antes se mexiam, estão, aos poucos, deixando de se mover, cessando o gesto de adeus.

Mais um exemplo de analogia (e mais explicações)

Analogia, por se tratar de um conceito muito utilizado no direito, na música, na filosofia e até na biologia, é sempre mais difícil de exemplificar.

Não por acaso, um dos maiores escritores brasileiros utilizava largamente o recurso da analogia em seus textos: Machado de Assis. Note que, no trecho a seguir, retirado do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, ele dá uma definição do que é ser homem:

(…) o que nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.”

Ser homem, portanto, na definição do personagem Brás Cubas, é ser uma errata pensante, isto é, um ser que erra em todas as fases de sua vida, pois cada “estação da vida” tem a função de corrigir a anterior. As novas fases trarão novos erros a serem corrigidos e assim sucessivamente, até a morte.

Deu pra perceber que o uso de figuras de linguagem enriquece muito o texto, não é mesmo? A analogia e a metáfora são dois bons exemplos disso. Porém, é preciso estar atento e estudar bastante para ter domínio do assunto e não exagerar ou errar no sentido pretendido.

Agora que você entendeu a diferença entre analogia e metáfora, não tem mais como errar! Aproveite e baixe nosso material com 63 erros para evitar na escrita e arrase nas suas produções textuais!

Como chama uma situacao quando e comparada a outra

Figuras de linguagem, retórica ou estilo são recursos do idioma que fazem com que a linguagem se torne mais expressiva. Usados na linguagem falada ou escrita, esses recursos são responsáveis por tornar uma mensagem mais criativa e significativa, seja pelo emprego inesperado de uma palavra no lugar de outra, seja por uma construção de frase diferente ou pela utilização repetida de determinados sons.

A palavra metáfora vem de um termo grego que significa transferência. Assim, quando usamos uma metáfora, transferimos o nome de uma coisa para outra.

Por exemplo: “Ele é um leão.” Ao dizermos isso, transportamos a palavra “leão” e tudo o que ela representa para outro campo de significação, promovendo uma comparação entre o “leão” e o sujeito “ele”. Algo como “Ele é forte como um leão” ou “Ele é valente como um leão”.

Mas não podemos confundir a metáfora com a comparação. Na metáfora, não há a conjunção “como” explicitando a comparação entre os dois termos. A comparação está subentendida. O processo de criação de metáforas consiste na identificação de semelhanças em coisas que são diferentes.

Exemplos:

“Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.”

(Luís Vaz de Camões)

“Que a saudade é o revés de um parto A saudade é arrumar o quarto Do filho que já morreu.”

(Chico Buarque)

“Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração.”

(Manuel Bandeira)

Saiba mais sobre a metáfora e conheça mais exemplos de metáforas.

Comparação (símile)

Tal como a metáfora, a comparação promove a aproximação entre duas coisas diferentes. Desta vez, porém, há o uso do conectivo, de modo a evidenciar aspectos semelhantes entre as palavras ou expressões comparadas.

Os conectivos usados para estabelecer a comparação são diversos: tal como, que nem, tal qual, assim como etc.

Exemplos:

“O amor é como um grande laço Um passo pra uma armadilha Um lobo correndo em círculos Pra alimentar a matilha.”

(Djavan)

“Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto..."

(Manuel Bandeira)

“Hoje é sábado, amanhã é domingo A vida vem em ondas, como o mar"

(Vinicius de Moraes)

Saiba mais sobre a comparação.

Ironia

A ironia é uma figura de pensamento que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa. A ironia, que pode ser considerada uma espécie de simulação, pode ser feita com a finalidade de zombar ou criticar. A ironia agressiva, que humilha ou rebaixa a outra pessoa, recebe o nome de sarcasmo.

Exemplos:

  • Aquele ali é honestíssimo...
  • Eu realmente não sei nada. Nunca estudei na vida. Sou ignorante. O sabichão aqui é você.
  • Muito bonito, hein?
  • Chegou cedo, hein?

Saiba mais sobre a ironia.

Antítese

Antítese é a oposição de ideias, o contraste de termos opostos. Os pares de opostos geralmente pertencem à mesma classe de palavras.

Exemplos:

“Eu falo de amor à vida Você, de medo da morte Eu falo da força do acaso E você, de azar ou sorte Eu ando num labirinto E você numa estrada em linha reta Te chamo pra festa Mas você só quer atingir sua meta”

(Paulinho Moska)

"Onde queres revólver, sou coqueiro E onde queres dinheiro, sou paixão Onde queres descanso, sou desejo E onde sou só desejo, queres não E onde não queres nada, nada falta E onde voas bem alto, eu sou o chão E onde pisas o chão, minha alma salta E ganha liberdade na amplidão."

(Caetano Veloso)

Saiba mais sobre a antítese.

Hipérbole

A hipérbole é uma palavra ou expressão usada com a intenção de enfatizar uma ideia ou sentimento através do exagero. Trata-se de um recurso usado na retórica, na literatura, mas também na linguagem do dia a dia.

Sabe aquela pessoa que diz “Demorei um milhão de anos para chegar em casa hoje”?. Essa pessoa utilizou uma hipérbole para realçar a informação de que o deslocamento até sua casa levou muito tempo.

Exemplos:

  • Chorei rios de lágrimas.
  • Estou morto de cansaço.
  • Já lhe disse mil vezes: eu não vou.

Saiba mais sobre hipérbole.

Personificação (prosopopeia)

A prosopopeia é a atribuição de qualidades, pensamentos ou atitudes humanas para objetos, seres inanimados (como plantas, rochas, astros) ou animais irracionais (como cães, gatos, peixes). Também é possível personificar sentimentos (como a paixão e a tristeza) ou valores (como a liberdade e a justiça).

Exemplos:

"A água não para de chorar"
(Manuel Bandeira)

“Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara. Sem uso, Ela nos espia do aparador.”

(Carlos Drummond de Andrade)

"A Lua, tal qual a dona de um bordel, pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel"

(João Bosco, Aldir Blanc)

Saiba mais sobre personificação ou prosopopeia.

Sinestesia

A sinestesia consiste na mistura ou união de sensações que se originam em diferentes órgãos sensoriais. Em outras palavras: trata-se do cruzamento de sensações que, na linguagem convencional, jamais poderiam ser misturadas.

É um recurso muito usado na poesia. Descrever um som como claro e um ruído como seco são exemplos de sinestesia.

Exemplos:

"A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais Ainda desvendarei seus mistérios latentes"

(Arthur Rimbaud)

"O céu se aproximou dela até que lhe comunicou o toque do azul, acariciando-a como um esposo, deixando-lhe o cheiro e a delícia da tarde"
(Gabriel Miró)

"Haverá um silêncio verde Todo feito de guitarras desfeitas"

(Gerardo Diego)

Saiba mais sobre sinestesia.

Metonímia

A metonímia é a figura semântica em que usamos uma palavra no lugar de outra. Diferentemente da metáfora, que se baseia na comparação, está na base da metonímia uma relação de contiguidade (proximidade) entre os termos empregados. Assim, para que exista a metonímia, é necessário que haja relação de sentido entre os termos.

Essa troca de um termo pelo outro pode ocorrer de várias formas. Por exemplo: o lugar pelos habitantes, o efeito pela causa, a parte pelo todo, a espécie pelo indivíduo, o escritor pela obra etc.

Exemplos:

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Nesse caso, “ouro”, “gado” e “fazendas” estão substituindo o termo “riqueza” ou “poder econômico”).

  • Ganho meu sustento com muito suor. (Neste caso, o efeito, “suor”, substitui a causa, “trabalho).
  • Li Camões antes de dormir. (Substituição da obra pelo autor).

Saiba mais sobre metonímia.

Antonomásia

A antonomásia, tal como a metonímia e a metáfora, opera uma substituição entre palavras. Mas, no caso da antonomásia, substitui-se um nome próprio por um epíteto ou caracterização facilmente reconhecível desse nome.

Exemplos:

  • O Poeta da Vila compôs alguns dos mais belos versos da nossa música. (“Poeta da Vila” está substituindo Noel Rosa).
  • O Rei do Rock jamais morrerá! ("Rei do Rock" refere-se a Elvis Presley).

Também ocorre antonomásia quando se dá o contrário: a substituição de um nome comum por um nome próprio.

Exemplos:

  • Lá vem o nosso Chico Buarque! (Substitui-se o nome de alguém pelo nome próprio de um músico consagrado).
  • Esse é um Don Juan. (Designa-se um indivíduo conquistador pelo nome do personagem que representa essa qualidade).

Perífrase

No caso da perífrase, substitui-se uma palavra por um conjunto de palavras (expressão ou locução) que a descreve, transmitindo a mesma ideia. Uma característica essencial da perífrase é o uso de uma mensagem mais longa no lugar de um termo curto.

Exemplos:

  • O maior predador terrestre é o rei dos animais. (“Rei dos animais” substitui o substantivo “leão”).
  • O ouro negro é abundante no Brasil. (“Ouro negro” substitui “petróleo”).

Saiba mais sobre perífrase.

Catacrese

Normalmente se refere à catacrese como uma metáfora de pouco valor. A catacrese, na verdade, é um recurso da linguagem do dia a dia bastante útil para nos referirmos a coisas que não têm um nome específico.

Como chamar o objeto que sustenta o tampo da mesa? Tomou-se emprestada a palavra “perna”, membro do corpo humano, para denominar uma parte da mesa. O mesmo se pode dizer em relação à “asa da xícara” ou ao “pé da cadeira”.

Exemplos:

  • Coroa do abacaxi.
  • Batata da perna.
  • Braço do sofá.

Saiba mais sobre catacrese.

Alegoria

A alegoria é uma espécie de metáfora ampliada. Lembremos que a metáfora se dá pela substituição de termos. Já a alegoria consiste num texto (ou trecho de texto) que fala de uma coisa através da representação de outra. É como se todo o texto fosse uma grande metáfora.

Um exemplo clássico é o mito da caverna, do filósofo Platão. Trata-se de um texto narrativo que relata a situação de pessoas que conhecem como única realidade as sombras que veem na parede de uma caverna.

Na alegoria, há significados ocultos por trás dos elementos representados. Assim, no mito de Platão, as sombras, a caverna e a luz, por exemplo, simbolizam conceitos filosóficos fundamentais.

Leia mais sobre o mito da caverna.

Ambiguidade

Uma frase ambígua é uma frase com duplo sentido. Trata-se de um vício de linguagem quando usada de forma não intencional. Assim, há ambiguidade nesta frase: “Venceu o Corinthians o Palmeiras”. Afinal de contas, quem venceu?

Porém, em muitos casos a ambiguidade pode ser resolvida pela análise do contexto em que a frase foi empregada. No exemplo dado acima, a leitura da notícia ajuda-nos a entender qual foi o time que venceu o jogo.

No entanto, é possível usar a ambiguidade a nosso favor. Podemos ser mais expressivos e criativos através do duplo sentido. Os publicitários fazem isso muito bem.

Exemplos:

“Você andou muito para encontrar seu verdadeiro amor. Não é hora de agradecer seus pés por isso?”
(Publicidade das Havaianas).

Nesse exemplo, o verbo “andar” tem duplo sentido: “andar” no sentido de “ir atrás”, “buscar” ou “caminhar”.

"Aurélio. Bom pra burro."
(Publicidade do dicionário Aurélio).

Note como a expressão "bom pra burro" se abre a uma dupla interpretação. O efeito é bastante interessante.

Saiba mais sobre ambiguidade.

Alusão

Alusão é uma referência a um texto, a uma pessoa ou a um acontecimento. Essa referência pode se dar de forma explícita ou implícita. É comum alusões no cinema: por exemplo, um filme que faz referência a alguma cena de um filme clássico. Na literatura, esse recurso também é bastante comum.

Exemplos:

  • A paixão entre eles era tão forte quanto a dos amantes de Verona. (Para descrever a paixão entre dois amantes, faz-se referência ao clássico Romeu e Julieta, de W. Shakespeare).
  • João vivia tão encantado com seus moinhos de vento que às vezes tínhamos a impressão de que vivia em outra realidade. (Alusão ao romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes).

Saiba mais sobre alusão.

Oxímoro (paradoxo)

Oxímoro é a aproximação de afirmações contraditórias (paradoxo). É a associação de termos que se excluem. Trata-se de uma contradição radical, resultando em algo que desafia a lógica e soa absurdo ou mesmo irreal. O poeta português Fernando Pessoa explorou esse recurso em muitos poemas.

Exemplos:

“Tenho bastante em ter nada”
(Fernando Pessoa)

“Que não vejo, mas vejo, Que não ouço, mas ouço, Que não sonho, mas sonho, Que não sou eu, mas outro…”

(Fernando Pessoa)

“Sei que a morte, que é tudo, não é nada”
(Fernando Pessoa)

Saiba mais sobre oxímoro.

Eufemismo

O eufemismo é a substituição de uma palavra ou expressão considerada desagradável ou rude por outra mais suave. Ephemismos, em grego, significa “bem dizer”.

O eufemismo é muito usado na linguagem do dia a dia. Por exemplo: quando não queremos criticar de forma muito dura o desempenho de alguém, dizemos “Foi razoável” ou “Não foi tão mal assim”. Em vez de dizer “Ele morreu”, podemos lançar mão do eufemismo “Passou desta para uma melhor”.

Exemplos:

  • Aquela criança é um pouco difícil. (Na verdade, a criança é muito levada).
  • Você não teve um desempenho muito feliz. (O desempenho, na verdade, foi ruim ou péssimo).

Saiba mais sobre eufemismo e conheça mais exemplos.

Disfemismo

É o oposto do eufemismo. Ou seja: no lugar de atenuar a mensagem, usando palavras mais brandas, usam-se termos ainda mais agressivos e rudes. O disfemismo acentua o caráter negativo da mensagem.

Na Antiguidade, os gregos usavam a palavra dysphemia para se referir a termos maus ou que sugeriam desgraça.

Exemplos:

  • Essa criança é uma peste.
  • Tire suas patas de cima de mim!

Gradação

A gradação é uma figura de linguagem que consiste na distribuição de elementos de forma crescente ou decrescente. Quando acontece de forma ascendente, a gradação dirige-se ao ápice (clímax). Quando é descendente, dirige-se ao anticlímax.

A gradação pode ser usada tanto num texto narrativo quanto num texto dissertativo. A ideia é sempre o encadeamento de ideias, ações ou informações cada vez mais intensas ou menos intensas.

Exemplos de gradação ascendente:

"Ande, corra, voe, aonde a honra o chama"
(Nicolas Boileau)

"A cólera deu em nada; a humilhação debulhou-se em lágrimas legítimas. E contudo não faltaram a esta senhora ímpetos de estrangular Sofia, calcá-la aos pés, arrancar-lhe o coração aos pedaços, dizendo-lhe na cara os nomes crus que atribuía ao marido..."
(Machado de Assis)

Exemplos de gradação descendente:

“Oh, não aguardes, que a madura idade Te converta em flor, essa beleza Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.”

(Gregório de Matos)

"Um sopro, uma sombra, um nada, tudo lhe dava febre"
(La Fontaine)

Apóstrofe

Apóstrofe é um chamamento a alguém, real ou imaginário, vivo ou morto, no meio de um discurso. Esse interlocutor chamado pode ser o próprio leitor. Em alguns casos, a entidade invocada é um deus, uma personalidade já falecida, um elemento da natureza ou a própria pátria.

Exemplos:

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!”

(Fernando Pessoa)

“Mas pois vós, Senhor, o que quereis e ordenais assim, fazei o que fordes servido.”
(Padre Antônio Vieira)

Elipse

A elipse é uma figura de sintaxe que consiste na omissão de uma ou mais palavras já subentendidas dentro de uma frase. Assim, a elipse, apesar de tornar a frase mais concisa, não altera o seu sentido.

Exemplos:

“Ao vencedor, as batatas”
(Machado de Assis)

Nessa frase clássica do romance Quincas Borba, Machado de Assis omite um verbo, que pode ser “restam” ou “ficam”. Essa omissão não atrapalha o entendimento do sentido da frase, já que o verbo já está subentendido.

"Cheguei. Chegaste."
(Olavo Bilac).

Nesse exemplo, omite-se o sujeito das duas orações.

Saiba mais sobre elipse.

Zeugma

O zeugma é bastante parecido com a elipse. Aqui também se trata de uma omissão de algum termo da frase. A diferença, no caso do zeugma, é que o termo omitido já foi mencionado anteriormente.

Exemplos:

  • Eu adoro comer frutas; ela, chocolate. (A vírgula indica a omissão das palavras “adora comer”).
  • Ela fica muito entusiasmada quando vai ao parque e o irmão também. (No caso, o que se omite é “fica muito entusiasmado”).

Saiba mais sobre zeugma.

Silepse

A silepse, também chamada de concordância ideológica, é uma figura de sintaxe que consiste na relação de um elemento com algo que está implícito na frase.

Assim, quando dizemos “Gostei desse pessoal. Todos foram muito simpáticos comigo”, o verbo “foram” e o adjetivo “simpáticos” concordam não com “pessoal”, mas com as pessoas que compõem esse "pessoal". O sujeito no plural está subentendido.

A silepse funciona através de um desvio de concordância com valor estilístico. Existem três tipos de silepse: de número, pessoa e gênero.

Exemplos:

  • Silepse de número: Bom dia, turma. Sejam todos bem-vindos. (“Turma” está no singular. “Sejam todos bem-vindos”, no plural).
  • Silepse de pessoa: Os seres humanos precisamos preservar o nosso planeta. (“Os seres humanos” está na 3ª pessoa do plural. “Precisamos”, na 1ª pessoa do plural).
  • Silepse de gênero: Vossa Excelência é injusto. (“Vossa Excelência” é feminino; “injusto”, masculino).

Saiba mais sobre silepse.

Hipérbato (inversão)

O hipérbato é a mudança drástica da ordem direta dos termos dentro de uma frase. Hyperbaton, em grego, significa “inversão”, “transposição”.

Para saber o que é o hipérbato, antes precisamos saber o que é a ordem direta ou natural de uma frase. Uma frase na ordem direta organiza-se desta forma: sujeito, predicado e complemento. O hipérbato seria justamente a desorganização dessa ordem direta.

Exemplos:

“São como cristais as palavras”
(Eugênio de Andrade)

Na ordem direta, essa frase ficaria assim: “As palavras são como cristais”. Porém, para atender a uma finalidade rítmica, o poeta português preferiu inverter a ordem direta da frase.

“Em tristes sombras morre a formosura”
(Gregório de Matos)

Anástrofe

A figura de sintaxe anástrofe é bastante similar ao hipérbato. A anástrofe também opera pela inversão da ordem natural das palavras dentro de uma oração, mas de uma forma mais forte. Um exemplo clássico de anástrofe são os primeiros versos do hino nacional.

Se o início do hino nacional tivesse sido escrito na ordem direta, ficaria assim: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico”. Porém, como Joaquim Osório Duque-Estrada usou a figura de sintaxe anástrofe, ficou assim: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico um brado retumbante”.

Aliás, esse não é a única anástrofe do hino nacional.

Exemplos:

“Do que a terra mais garrida Teus risonhos lindos campos têm mais flores”

(Joaquim Osório Duque-Estrada)

“Rumor de vaga, onde se acaba nasce… Mais do que fim a morte é nascimento… De muitas mortes uma vida faz-se… Sonho de tudo: rosto aberto ao vento!”

(José Fernades Fafe)

Polissíndeto

Essa figura de sintaxe consiste no emprego repetitivo de conjunções, como “e”, “ou” e “nem”. Síndeto significa justamente conjunção. O prefixo poli faz referência ao grande número de vezes em que essa conjunção é empregada.

A conjunção serve, entre outras coisas, para conectar orações coordenadas dentro de um mesmo período. São as chamadas orações coordenadas sindéticas.

Exemplos:

“Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!”
(Olavo Bilac)

“O quinhão que me coube é humilde, pior do que isto: nulo. Nem glória, nem amores, nem santidade, nem heroísmo”
(Otto Lara Resende)

Saiba mais sobre polissíndeto.

Assíndeto

Se o polissíndeto é o excesso de conectivos, o assíndeto é a falta deles. O prefixo “a” significa negação. Portanto, o assíndeto caracteriza-se pela existência de orações entre as quais faltam conjunções.

Exemplos:

“Vim, vi, venci.”
(frase atribuída a Júlio César)

“Soltei a pena, Moisés dobrou o jornal, Pimentel roeu as unhas.”
(Graciliano Ramos)

Saiba mais sobre assíndeto.

Anáfora

A anáfora consiste na repetição de uma mesma palavra ou conjunto de palavras no início de frases ou versos. Um exemplo clássico da ocorrência de anáfora na nossa música popular é a utilização reiterada do verbo “é” na canção “Águas de Março”, de Tom Jobim.

Exemplos:

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o Sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matinta Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira”
(Tom Jobim)

Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar”
(Raul Seixas & Paulo Coelho)

Saiba mais sobre anáfora.

O anacoluto é uma interrupção da frase. Por isso, é chamado popularmente de "frase quebrada". Na linguagem falada, muitas vezes usamos o anacoluto sem saber. Por ser uma irregularidade sintática, considera-se o anacoluto um descuido de linguagem.

Assim, quando dizemos "Ele, não sei o que lhe passa pela cabeça", cometemos um descuido. O pronome "ele", que se anuncia como sujeito no início do período, fica sem predicado. A frase é interrompida logo no início, dando lugar a uma nova oração.

Mas o anacoluto, quando usado intencionalmente, pode provocar efeitos interessantes no texto. Ele é explorado de forma expressiva na literatura, seja na poesia ou na prosa.

Exemplos:

“O dia, esse bojo de linfa, uma vertigem de hélio – arcaicamente"
(Herberto Helder)

“O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu.”
(Rubem Braga)

Saiba mais sobre anacoluto.

Quiasmo

Recurso utilizado sobretudo na poesia, quiasmo consiste no cruzamento entre termos em grupos paralelos. Em grego, quiasmo significa “disposição em cruz”.

Nestes dois versos do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, há a ocorrência de quiasmo:

“A benção como espada,
A espada como benção!”

Note como os dois versos são espelhados. O 1º termo do primeiro verso, “benção”, aparece na 2ª posição no 2º verso. Já o 2º termo do 1º verso, “espada”, aparece na primeira posição do 2º verso.

Exemplos:

  • Ela ia feliz, feliz ela ia.
  • Eu sou assim. Assim eu sou.

Pleonasmo

O pleonasmo é a utilização excessiva de palavras, gerando redundância no discurso. Ele é geralmente tratado como um vício de linguagem; ou seja: algo que deve ser evitado.

Na linguagem do dia a dia, talvez com a intenção de dar ênfase a alguma ideia, usamos pleonasmos com alguma frequência: “entrar para dentro”, “sair para fora”, “vi com os meus olhos”, “há alguns anos atrás”, “encarar de frente” etc.

Mas o pleonasmo, se bem usado, pode provocar um efeito interessante no texto. Vejamos alguns exemplos.

Exemplos:

“E rir meu riso e derramar meu pranto
(Vinicius de Moraes)

Chovia uma triste chuva de resignação”
(Manuel Bandeira)

Saiba mais sobre plenonasmo.

Epanalepse

Figura de linguagem pouco conhecida, a epanalepse consiste no uso da mesma palavra no início e no final de uma frase ou verso.

Exemplos:

  • Homem é lobo do homem.
  • Sou o que sou.

Anadiplose

A anadiplose é uma figura de linguagem que consiste na repetição da última palavra do verso ou da frase anterior no início do verso ou da frase seguinte. Trata-se de um recurso coesivo, na medida em que estabelece conexão entre as ideias.

Exemplos:

“Hoje é domingo Pé de cachimbo Cachimbo de ouro

Bate no touro


O touro é valente
Bate na gente
A gente é fraco
Cai no buraco
O buraco é fundo Acabou-se o mundo.”

(parlenda de domínio público)

“A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se ele eleva a grau supremo”
(Bocage)

Diácope

Diácope tem origem numa palavra grega que significa “corte”. Caracteriza-se pelo uso da mesma palavra duas vezes, tendo uma palavra no meio delas.

Exemplo:

  • Vida boa, vida tranquila.
  • Alegres caras, alegres corações.

Onomatopeia

A onomatopeia é a tentativa de imitação de um som do mundo real através das palavras. Um exemplo bastante claro disso é a palavra tique-taque, que imita o som produzido pelo relógio. Na linguagem das histórias em quadrinhos, o uso de onomatopeias é bastante comum: “zás!”, “pum!”, “pá!”, “zzzzzz...” etc.

Alguns verbos, como miar, zumbir, tilintar e ciciar têm origem onomatopaica.

Exemplos:

  • Às quatro da manhã, o galo emitiu o seu tradicional co-co-ro-có.
  • Quando eu entrei no banho, soou o ding-dong vindo da porta.

Saiba mais sobre onomatopeia.

Aliteração

Aliteração é a repetição expressiva de um som consonantal (ou seja, um som produzido por consoantes). Aliterações são responsáveis pela musicalidade de muitos textos poéticos. Há sons bilabiais (p-b), fricativos (f-v), sibilantes (s-z) etc.

Quando falamos de aliteração, é importante que não se confunda o som com a letra. Por exemplo, as palavras “assado” e “caçapa” têm sons sibilantes e poderiam ser combinadas para se produzir a aliteração, mesmo que esses sons sejam produzidos por letras diferentes (ss e ç).

Exemplos:

“Eu temo muito o mar, o mar enorme”
(Cesário Verde)

Pedro pedreiro penseiro
Esperando o trem.
Manhã, parece, carece
De esperar também.”
(Chico Buarque)

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
(Cruz e Sousa)

Saiba mais sobre aliteração.

Assonância

Assonância é a repetição expressiva de um som vocálico. Quando o som vocálico aparece na sílaba tônica das palavras, o resultado é mais expressivo.

Há sons vocálicos abertos (como “claro”, “fantástico”, “mágico”) e sons vocálicos fechados (“escuro”, “soturno”, “lúgubre”). Sua combinação pode gerar efeitos sonoros bem interessantes no texto.

Há poemas em que a assonância aparece ao lado da aliteração. Um exemplo disso é a canção “Qualquer Coisa”, de Caetano Veloso.

Exemplos:

“Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro”
(Caetano Veloso)

A água do mar estava clara, plácida, mágica!...

Paronomásia

Consiste no emprego, numa mesma frase, de palavras que são iguais (ou quase iguais) no som, mas diferentes no significado. Origina-se da palavra grega paranomasía, formada pelo prefixo para (“próximo de”) e onomasía (“denominação”).

Vejamos a seguinte frase: Em vão os sonhos se vão. Note que nessa frase a palavra “vão” é usada com dois significados diferentes: no primeiro caso, compõe uma locução que significa “inutilmente”; no segundo caso, trata-se do verbo “vão”.

Exemplos:

“Sua Eminência está na iminência de partir para o estrangeiro.”
(Massaud Moisés)

"Aquela cativa
que me tem cativo
porque nela vivo
já não quer que viva"
(Camões)

“A Galvão acha fácil o imóvel que você acha difícil”
(peça publicitária para uma imobiliária criada pelo poeta Paulo Leminski)

Cacofonia

Cacofonia vem da palavra grega kakophonía, que significa “som feio” ou “som desagradável”. Quando escrevemos ou falamos, sons de diferentes palavras se combinam, formando novos sons. Por exemplo, na frase “Tocou a boca dela”, as palavras “boca” e “dela”, juntas, formam uma nova palavra: “cadela”. Dependendo da situação, isso pode soar mal.

Embora seja considerado vício de linguagem, proveniente do descuido com a língua, é possível se valer da cacofonia para produzir novos sentidos dentro do texto. Quando usada de forma proposital, a cacofonia, ou cacófato, pode ser encarada como figura de linguagem.

Saiba mais sobre cacofonia.

Veja também estes significados: