Apresente argumentos que defendem a importância da participação do pedagogo em espaços não-escolares

Autores e infomación del artículo

Kathleen Tavares Motta*

Kézia Barbosa Martins**

Jadson Justi***

Universidade Federal do Amazonas, Brasil

Email:

RESUMO

Esta pesquisa objetiva investigar a atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares, buscando verificar quantos e quais pedagogos atuam nesses espaços, discutir aspectos da formação inicial deles e a efetivação do trabalho pedagógico nos referidos ambientes, analisando a relevância das ações pedagógicas e os desafios enfrentados. O estudo foi desenvolvido sob uma abordagem qualitativa, com investigação em campo nas instituições educativas não escolares de Parintins, Amazonas, Brasil, que possuem em seu corpo profissional, o pedagogo. Foram realizadas entrevistas com duas pedagogas que contribuíram para a produção dos dados. Realizaram-se discussões sobre a formação inicial do pedagogo e as ações pedagógicas desenvolvidas nos espaços educativos não escolares. Conclui-se que a atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares demonstra um novo campo de trabalho desse profissional, que sai dos muros da escola formal para atuar em outros espaços educativos que possibilitam minimizar as necessidades e problemáticas sociais da população.

Palavras-chave: Pedagogia – Educação – Espaços educativos não escolares – Atuação do pedagogo – Sociedade.

ACTUACIÓN DEL PEDAGOGO EN ESPACIOS EDUCATIVOS NO ESCOLARES

RESUMEM

Esta investigación objetiva investigar la actuación del pedagogo en lugares más allá de la escuela, con el objetivo de verificar cuántos y cuáles pedagogos actúan en esos espacios, discutir aspectos de la formación y la efectiva actuación del trabajo pedagógico en los referidos ambientes, analizando la importancia de las acciones pedagógicas y los desafíos enfrentados. El estudio presenta un abordaje cualitativo, con investigación en campo en las instituciones educativas no escolares de Parintins, Amazonas, Brasil, que poseen en su cuerpo profesional, el pedagogo. Se realizaron entrevistas con dos pedagogas que contribuyeron al desarrollo de la investigación. Se realizaron discusiones sobre la formación inicial del pedagogo y las acciones pedagógicas desarrolladas en los espacios educativos no escolares. Se concluye que la actuación del pedagogo en los referidos espacios en la realidad local demuestra un nuevo campo de trabajo de ese profesional, que sale de las dependencias de la escuela formal para actuar en otros espacios educativos que posibilitan minimizar las necesidades y problemáticas sociales de la población.

Palabras clave: Pedagogía – Educación - Espacios educativos no escolares - Actuación del pedagogo - La sociedad.

PEDAGOGUE ACTIVITY IN NON-SCHOOL EDUCATIONAL SPACES

ABSTRACT

This research aims to investigate the role of the pedagogue in non - school spaces, in order to verify how many and which pedagogues work in these spaces, to discuss aspects of the formation and the effective performance of the pedagogical work in these environments. The study presents a qualitative approach, with interviews conducted with two pedagogues in non-school institutions in Parintins, Amazonas, Brazil. Discussions were carried out on the initial formation of the pedagogue and the pedagogical actions developed in non-school educational spaces. It is concluded that the pedagogue's performance in these spaces in the local reality demonstrates a new field of activity of this professional, which leaves the formal school premises to work in other educational spaces that make it possible to minimize the needs and social problems of the population.

Keywords: Pedagogy – Education – Non-school educational spaces – Performance of the pedagogue – Society.


Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: Kathleen Tavares Motta, Kézia Barbosa Martins y Jadson Justi (2019): “Atuação do pedagogo em espaços educativos não escolares”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (julio 2019). En línea: https://www.eumed.net/rev/atlante/2019/07/atuacao-pedagogo-escolares.html

//hdl.handle.net/20.500.11763/atlante1907atuacao-pedagogo-escolares

1 INTRODUÇÃO

As pesquisas em torno da formação e atuação dos pedagogos em educação não escolar, as quais apontam os processos pedagógicos como objetos de intervenção em Pedagogia, configuram-se no cenário brasileiro como investigações recentes (Severo, 2015). Embora com a realização de estudos significativos sobre o tema, o contexto “não escolar”, como campo de atuação do pedagogo, ocupa-se de poucas pesquisas que abordam o trabalho pedagógico desenvolvido nesses espaços, especialmente no município de Parintins, AM, Brasil, onde o lócus principal de atuação do pedagogo é a escola. As diversas ações de cunho educativo relevantes para a sociedade em geral estão sendo desenvolvidas pelo pedagogo e merecem ser conhecidas e analisadas. Os sindicatos contratam pedagogos para ministrar cursos, elaborar projetos e planejamentos sobre as ações da organização. Nos órgãos judiciários, o pedagogo atua nas varas da infância e adolescência integrando equipes psicossociais. Nas emissoras de televisão e rádio, é responsável pela área de difusão cultural, elaboração de mensagens educativas sobre variados temas. Portanto, o pedagogo é chamado a compor vários segmentos sociais (Silva, 2007).

Sobre o tema em estudo no contexto local, foi realizada uma busca por meio do Google Acadêmico e somente um artigo publicado foi encontrado, intitulado: Atuação do Pedagogo em Espaços Não Formais de Educação: o Olhar dos Acadêmicos do Curso de Pedagogia do CESP/UEA (Silva et al., 2015). O trabalho retrata a visão dos graduandos em relação à atuação do pedagogo nos espaços não formais, evidenciando a necessidade de formação voltada para esses espaços. Outros cinco trabalhos publicados entre 2006 e 2015, identificados por meio do acesso ao Portal de Teses e Dissertações da Coordenação Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, referem-se sobre a atuação do pedagogo em espaços educativos não escolares em contextos de outras regiões do país, como Sul e Centro-Oeste, a citar: Atuação dos Pedagogos em Universos Não Escolares, de Bogorny (2015); Pedagogo e a Educação Extraclasse: o Mediador do Conhecimento Sócio-Educativo na Empresa, de Dias (2010); Auto-Regulação da Aprendizagem: Atuação do Pedagogo em Espaços Não-Escolares, de Frison e Barreto (2006); Educação Não Formal: a Atuação do Pedagogo no Contexto do Centro de Referência de Assistência Social de Sinop-MT, Lourenço (2015); A Atuação do Pedagogo na Educação Não-Formal: Quais Possibilidades de Intervenção Profissional?, de Santos e Santos (2011).

Esses dados permitem observar a pouca visibilidade sobre a atuação do pedagogo em espaços educativos não escolares. As demandas sociais locais, a necessidade e possibilidade de atuação do pedagogo nesses espaços em Parintins, AM, suscitaram a pesquisa sobre essa temática, gerando assim a questão problematizadora deste estudo: “Em quais espaços educativos não escolares do município de Parintins existe a atuação do pedagogo, como realizam suas atividades e quais desafios enfrentam?” O objetivo da pesquisa foi investigar a atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares no município de Parintins, AM, com o intuito de verificar quantos e quais pedagogos atuam nesses espaços, bem como discutir aspectos sobre a formação inicial desses pedagogos e a efetivação do trabalho pedagógico nos referidos ambientes, analisando a relevância das ações pedagógicas e os desafios enfrentados. Para dar conta dos objetivos do estudo, os aportes teóricos que fundamentaram as discussões foram Cunha et al. (2013), Franco (2008), Libâneo (2008), Libâneo e Pimenta (2011), Severo (2015), Silva (2006), os quais discutem o campo de atuação do pedagogo e a realização do trabalho pedagógico. Assim como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, doravante identificada como Diretrizes para o Curso de Pedagogia, que contribuíram significativamente para as questões referentes à formação do pedagogo e suas atribuições (Brasil, 2006). O discurso da Pedagogia está em alta nos meios políticos, empresariais, profissionais, comunicacionais e em movimentos sociais. Observa-se expressiva movimentação na sociedade, mostrando uma ampliação do campo educativo com a consequente repercussão na busca de novas formas de ação pedagógica (Franco; Libâneo; Pimenta, 2007). Libâneo (2008) destaca que o curso de Pedagogia possibilita ao pedagogo efetivar práticas pedagógicas em escolas, movimentos sociais, diversas mídias, empresas, sindicatos e outros que se fizerem necessários, tendo em vista os objetivos de formação humana. Segundo o autor, as ações educativas não se resumem à docência, e todo trabalho docente é trabalho pedagógico, porém, nem todo trabalho pedagógico é docente. As organizações não escolares precisam de práticas pedagógicas, e o pedagogo não necessariamente atua como professor, mas como articulador do processo educativo nesses espaços que podem ser: empresas, organizações não governamentais, hospitais, editoras, serviços sociais, enfim, em todas as áreas que necessitam de um trabalho pedagógico. As Diretrizes para o Curso de Pedagogia propõem a atuação do pedagogo onde necessite do trabalho pedagógico, porém, a base da formação é a docência (Brasil, 2006). Nesse sentido, Libâneo (2008) faz menção à base comum da formação do pedagogo, observando a necessidade de ela estar ligada ao campo de conhecimentos da Pedagogia e não à docência, e os conteúdos da educação remetem aos conhecimentos pedagógicos e só depois ao ensino. A Pedagogia é o campo do conhecimento que visa ao estudo sistemático da educação. A formação do pedagogo deve abranger como base o campo pedagógico que, consequentemente, se atrela à docência de um modo ampliado e dinâmico. O pedagogo é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, seja escolar ou não escolar, desenvolvendo seu trabalho pedagógico. Corroborando, Libâneo (2008) e Franco (2008) destacam que as áreas de atuação do pedagogo ultrapassam os limites da escola para a promoção de ações pedagógicas. Essa prática pedagógica deve ser constituída cientificamente no exercício da prática educativa. Os autores ainda definem o pedagogo como profissional investigador da educação como prática social e reitera que uma das preocupações do curso de Pedagogia é a formação de um pedagogo como profissional comprometido com a formação do sujeito que frequenta o espaço escolar e o contexto não escolar.

A partir dessas reflexões e leituras assume-se também a expressão “espaços educativos não escolares” baseada nas concepções de educação não formal, que, de acordo com Severo (2015), é um processo dinâmico que tem seu ponto de partida e de chegada nas necessidades concretas mais imediatas dos grupos humanos, que podem ser compreendidas e trabalhadas a partir de uma perspectiva educativa. O autor permite entender que a educação não formal está ligada aos espaços educativos não escolares os quais estão cada vez mais solicitando a presença do pedagogo como articulador pedagógico capaz de atender as necessidades dos diferentes grupos sociais. Com isso, destacamos que os espaços educativos não escolares, citados neste estudo, são espaços que vivenciam a educação não formal com a relevante atuação do pedagogo.

1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL

Ao longo da história, o curso de Pedagogia passou por numerosos questionamentos sobre políticas de formação, formulações de documentos legais, como regulamentações, decretos e pareceres, que destacavam a identidade, formação e atuação do pedagogo. As principais questões são destacadas com o objetivo de elucidar alguns aspectos relacionados ao curso de Pedagogia no Brasil. Na criação do curso de Pedagogia em 1939, institucionalizado pelo Decreto-Lei n. 1.190, de 4 de abril de 1939, na Faculdade Nacional de Filosofia, já se destacavam as dúvidas em relação a sua identidade que, ao decorrer da história, se atrelam à atuação e formação do pedagogo gerando inúmeros questionamentos (Brasil, 1939). O primeiro período do curso de Pedagogia, caracterizado como identidade questionada, compõe-se de três regulamentações, que foram: o Decreto-Lei nº 1.190/1939, que destinava a formação do bacharel em Pedagogia e do curso de Didática como licenciatura; o Parecer nº 251/1962, do Conselho Federal de Educação, onde o curso de Pedagogia assumia formação tanto do técnico em educação quanto do professor licenciado; além do Parecer nº 252/1969, em que é mantida a função de formação de professores no curso de Pedagogia, mas passa a ter também a formação para especialistas em atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção escolar (Silva, 2006). A partir de 1939, o curso de Pedagogia começou a se organizar por meio de fundamentos legais que buscavam alcançar uma definição para a função do pedagogo que ora era especialista, depois, somados à função de professor, e com o passar dos anos mais funções foram atribuídas, abrindo linhas para os questionamentos a respeito das funções do pedagogo e a necessidade de caracterizar o curso de Pedagogia em bacharelado ou licenciatura. Outro momento histórico do curso de Pedagogia, que vai de 1978 a 1999, esse período compreende a documentação gerada no processo de revisão da formação do educador, com o interesse e iniciativa de professores e estudantes universitários, instituições universitárias e órgãos governamentais, que colaboraram para debates coletivos realizados ao longo do período, funcionando como fundamentos paralegais, que, a partir de então, se fizeram mais presentes, tornando-os verdadeiros orientadores das reformulações do curso de Pedagogia e demais licenciaturas (Silva, 2006). Nesse período, com a finalidade de alavancar discussões sobre a formação de educadores, houve o acontecimento do 1º Seminário de Educação Brasileira, onde surgem também os Comitês Pró-Reformulação dos Cursos de Pedagogia e a Comissão Nacional dos Cursos de Formação do Educador. Assim, nesses encontros efetivados intensificam-se os debates sobre a especificidade do curso de Pedagogia e das licenciaturas, contribuindo para a produção de documentos que influenciaram na concepção da formação do professor e reformulação dos currículos de algumas faculdades na época (Libâneo; Pimenta, 2011). O atual período da história do curso de Pedagogia, que se inicia em 1999, pelos decretos, como marco da identidade outorgada, enfatiza a intervenção do Presidente da República com o apoio do Ministro da Educação com os seguintes decretos: o Decreto Presidencial nº 3.276, 6 de dezembro de 1999, e o Decreto Presidencial nº 3.554, 7 de agosto de 2000. Esse Decreto Presidencial nº 3.554/2000, fez-se para facilitar o curso de Pedagogia como licenciatura, mas pouco qualificado. Com isso, houve nesse período o apoio de educadores e estudantes no Projeto de Lei nº 385 da Câmara dos Deputados, que tinha como objetivo interromper tal decreto (Silva, 2006). Durante a década de 1990, “[...] o debate sobre competências docentes, processos de profissionalização, novas demandas do espaço escolar e prática pedagógica ganhou diversas direções permeadas por inúmeros discursos e influências ideológicas e teóricas [...]” (Severo, 2015: 106). Desse modo, ocorreu uma significativa mudança no curso de Pedagogia por meio da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e pelo movimento da construção das Diretrizes para o Curso de Pedagogia, homologadas em 2006, encabeçado pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Brasil, 1996, 2006). Percebe-se que ao longo da história do curso de Pedagogia, houve muitas discussões sobre a formação que o curso deveria oferecer gerando fragmentação em sua composição curricular, principalmente em relação às funções do pedagogo com a dicotomia entre a formação do “generalista” ou do “especialista”. Nesse sentido, “[...] historicamente, o questionamento a respeito das funções do pedagogo encontrou sua correspondência na dificuldade em se indicar a categorização do curso enquanto bacharelado ou licenciatura, bem como em se estabelecer a relação entre eles [...]” (Silva, 2006: 142). A autora questiona a dificuldade de se distinguir a categorização do curso de pedagogia, em que esse fato se configurou como principal consequência para haver debates em relação às funções do pedagogo. O Conselho Nacional de Educação apresentou, na proposta das Diretrizes para o Curso de Pedagogia, a destinação em formar o pedagogo para várias áreas de atuação, tendo a docência como base obrigatória de sua formação. Entretanto, “A identidade profissional do pedagogo se reconhece, portanto, na identidade do campo de investigação e na sua atuação dentro da variedade de atividades voltadas para o educacional e para o educativo [...]” (Libâneo, 2008: 34). Com isso, a identidade do pedagogo está associada ao trabalho pedagógico desenvolvido tanto em espaços educativos formais quanto nos espaços educativos não formais.

Os questionamentos sobre a atuação e formação do pedagogo durante a história do curso de Pedagogia esclarecem que cada documento oficial idealizado para as modificações do curso contribuiu para inacabáveis estudos referentes as suas funções, atreladas às constantes transformações sociais, que estão cada vez mais percebendo a necessidade de atuação desse profissional nos diversos espaços educativos.

1.2 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O CURSO DE PEDAGOGIA: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NÃO ESCOLAR

As Diretrizes para o Curso de Pedagogia estabelecem os princípios, procedimentos e planejamentos da formação do pedagogo para atuar nas áreas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Gestão Educacional e nos espaços não escolares, mas de um modo menos prioritário (Brasil, 2006). Autores como Franco (2008), Libâneo (2008), Libâneo e Pimenta (2011) e Severo (2015), em seus estudos, criticam as implicações sobre a formação e atuação do pedagogo, pontuando que todo profissional que lida com a formação de pessoas, seja na escola ou em outros espaços, é um pedagogo. No entanto, esses autores ainda evidenciam que o documento direciona como base do curso de Pedagogia, a docência, sendo que esta faz parte de uma modalidade da Pedagogia, não o inverso, e a atuação do pedagogo vai muito além de ser professor. Mediante a regulamentação das Diretrizes para o Curso de Pedagogia na Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006, do Conselho Nacional de Educação/Curso de Pedagogia, abrem-se amplas possibilidades de atuação do pedagogo, no entanto, a base da formação intensifica-se na docência (Brasil, 2006). Em seu artigo 2º, faz um destaque nas funções do formado em pedagogia, descrevendo que:

Art. 2º - As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos Cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (Brasil, 2006).

As Diretrizes exprimem a possibilidade da atuação do pedagogo em espaços de educação não escolar, mas com uma contradição explícita que pode ser vista delineada na formação do curso de Pedagogia onde são concentrados os saberes e práticas específicas para a educação escolar (Severo, 2015). O artigo 2º menciona “outras áreas” como sendo os espaços não escolares, sem dizer como serão os meios formativos para tais espaços, assim destina a formação do pedagogo para atuar primordialmente na docência, dando total visibilidade formativa para a atuação em contexto escolar. Essa formação do pedagogo voltada para a atuação escolar, por mais que seus saberes constituídos sejam necessários e fundamentais, reduz os conhecimentos de Pedagogia, que ela abarca uma dimensão educativa muito além da escola.
O artigo 5º destaca que o pedagogo, ao concluir o curso de Pedagogia, estará apto de acordo com os incisos IV e XIII:

IV – trabalhar, em espaços escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo; [...]

XIII – participar da gestão das instituições planejamento, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares. (Brasil, 2006, grifo nosso).

Pode-se ilustrar que o pedagogo quando formado poderá atuar nos ambientes escolares e não escolares desenvolvendo práticas educativas que promovam a aprendizagem humana, trabalhando nas diferentes fases do processo educativo atrelado à gestão e ao planejamento, desenvolvendo projetos educacionais que contribuam para o enriquecimento do conhecimento. As Diretrizes para o Curso de Pedagogia não dizem quais são esses ambientes não escolares que o pedagogo estará apto para atuar, já que há uma variedade de práticas educativas na sociedade. Com isso, Libâneo (2008: 67) salienta que “[...] se há uma diversidade de práticas educativas, há também uma diversidade de pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação, a pedagogia dos movimentos sociais etc., e também, a pedagogia escolar.” O autor deixa claro que onde houver práticas educativas com intencionalidades, a atuação de um pedagogo é indispensável como articulador do trabalho pedagógico, exemplificando quais são esses espaços educativos fora do âmbito escolar, onde a pedagogia se insere. Os espaços educativos necessitam de um profissional que seja dominador dos conhecimentos pedagógicos, bem como investigador da educação. Por isso “[...] precisamos urgentemente convocar pedagogos para trabalhar nas diversas instancias sociais, fora da esfera escolar, mas que possua forte potencial educativo.” (Franco, 2011: 107). O pedagogo, com formação em Pedagogia, deve ter competência e habilidade educativa para exercer sua prática profissional em todo ambiente em que sejam necessárias intervenções pedagógicas. Nessa perspectiva, a formação do pedagogo, de acordo com o artigo 6º das Diretrizes para o Curso de Pedagogia, deve constituir um amplo conhecimento sobre diversidade nacional. Sabe-se que o Brasil possui diferentes expressões culturais que merecem um estudo minucioso, onde devem ser destacadas a especificidade e realidade educacional de cada contexto do país (Brasil, 2006). O inciso I desse mesmo artigo destaca que o curso de pedagogia se constituirá de “I - um núcleo de estudos básicos, sem perder de vista a diversidade e multiculturalidade da sociedade brasileira, por meio do estudo acurado da literatura pertinente e de realidades educacionais, assim como por meio de reflexão e ações críticas [...]” (Brasil, 2006). Muitos temas como gestão democrática, planejamento, diversidade cultural e outros devem ser estudados no curso de Pedagogia em caráter de saberes que se constituem na prática tanto para âmbitos escolares, quanto não escolares. A formação de profissionais da educação para trabalhar em âmbitos não escolares está cada vez mais percebida pela sociedade, pois a relevância desses profissionais está conectada a processos pedagógicos não formais e informais de caráter coletivo e comunitário. Assim, reivindicam-se profissionais que tenham formação pedagógica para a atuação nos movimentos sociais, nos meios de comunicação de massa, nas empresas, nos hospitais, nos presídios, nos projetos culturais e nos programas comunitários de melhoria de qualidade de vida (Libâneo, 2008).

O artigo 6º, inciso II, das Diretrizes, destaca sobre o aprofundamento e diversificação de estudos voltados para as áreas de atuação profissional do pedagogo para o atendimento das diferentes demandas sociais, assim destacados nas alíneas a seguir:

a) investigações sobre processos educativos e gestoriais, em diferentes situações institucionais: escolares, comunitárias, assistenciais, empresariais e outras; b) avaliação, criação e uso de textos, materiais didáticos, procedimentos e processos de aprendizagem que contemplem a diversidade social e cultural da sociedade brasileira;

c) estudo, análise e avaliação de teorias da educação, a fim de elaborar propostas educacionais consistentes e inovadoras; (Brasil, 2006).

A formação do pedagogo deve perpassar por esses aspectos mencionados, buscando um direcionamento aberto que contemplem os diferentes espaços institucionais. Uma formação que utilize a teoria e prática como mão dupla, onde uma depende da outra para a atuação em ambientes escolares e não escolares como enriquecimento profissional indispensável. Por isso, os estágios supervisionados são muito relevantes, como forma de dialogar ainda na formação inicial, a teoria e a prática. Félix (2015) salienta que no estágio supervisionado os objetivos devem visar ao aperfeiçoamento pessoal e profissional do acadêmico para que, dentro dos critérios científicos, possa refletir, ética e criticamente sobre as informações, experiências recebidas e vivenciadas durante o processo de formação inicial. Os estágios do curso de Pedagogia devem abranger todos os contextos citados nas Diretrizes para o Curso de Pedagogia, para poder haver uma experiência ampla na formação dos graduandos. Severo (2015: 155), em seu estudo, faz uma análise aos projetos pedagógicos curriculares dos Cursos de Pedagogia das universidades federais do Brasil, destacando que “[...] os currículos dos cursos de Pedagogia apresentam uma limitação quanto ao cumprimento do disposto das [Diretrizes Curriculares Nacionais] DCNs, pois redundam a atividade de estágio à prática de ensino ou observação e participação em processos de gestão escolar.” Os estágios mais priorizados são na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Gestão Escolar, os demais contextos como os espaços não escolares que podem se incluir nas atividades de gestão de processos educativos, não há uma atenção voltada para esses âmbitos fora da escola. A experiência dos estágios do curso de Pedagogia acaba se restringindo apenas ao ambiente escolar, deixando pouca contribuição na formação do pedagogo para atuação em outros espaços educativos. Libâneo e Pimenta (2011) destacam que o pedagógico e o docente são termos inter-relacionados, mas conceitualmente distintos. Portanto, reduzir a ação pedagógica à docência é produzir um reducionismo conceitual, um estreitamento do conceito da Pedagogia. Esta não pode ser reduzida à docência, sua dimensão pedagógica vai para além das práticas educativas escolares.

É necessário repensar, rediscutir e reformular esses processos que compõem a formação inicial do pedagogo paralela às demandas educativas apresentadas na realidade contemporânea, as quais transcendem dos espaços educativos escolares para não escolares. “A pedagogia é a ciência que deverá organizar a concretização dos meios e processos educativos de uma sociedade [...], saberes que se organizam historicamente, fundamentando as bases dos saberes, das diretrizes e orientações à práxis educativa.” (Franco, 2008: 115). Assim, a base curricular do curso de Pedagogia deve ser o campo pedagógico dinamizado nos diversos espaços da sociedade, que anseiam por pedagogos que estejam aptos a orientar e transformar as práxis educativas de acordo com as necessidades e intencionalidades de cada espaço educativo, seja escolar ou não escolar.

1.3 EDUCAÇÃO NÃO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ALGUMAS DISCUSSÕES

A educação apresenta-se como caráter de relevância para o desenvolvimento da sociedade que abarca uma diversidade cultural de conhecimentos e valores que desencadeiam os pilares para a formação humana. As práticas educativas podem ocorrer em diferentes ambientes e espaços, porém, tradicionalmente, a escola é vista como a detentora do poder educativo; outros espaços fora da sala de aula formal não são levados tão a sério quanto na escola. No entanto, a educação está em todos os lugares possíveis, seja na escola, na igreja, em casa ou até mesmo conversando na rua com os amigos. Emerge “[...] O novo cenário da educação que se configura no século XXI trazendo novas possibilidades de espaços de trabalho pedagógico. A educação em espaços não escolares vem confirmar a realidade que vivenciamos [...]” (Cunha et al., 2013: 36). Libâneo (2008) define as modalidades de educação em três dimensões: a) educação formal, b) educação não formal e c) informal. A educação formal caracteriza-se por possuir cunho educativo estruturado, organizado, planejado com intencionalidade definida e sistemática; a educação escolar convencional é tipicamente formal. Já a educação não formal se liga nas atividades intencionais, mas com baixo nível de estruturação e sistematização com relações pedagógicas sem formalidades. Tem-se também a educação informal que apresenta caráter não intencional que resulta das relações socioculturais e políticas da vida individual e grupal. A relação dessas categorias de educação constitui-se pelas práticas educativas que podem ser dinamizadas com práticas pedagógicas, principalmente nos espaços formais e não formais, o pedagogo desempenha a função de articulador do processo educativo. Cunha et al. (2013: 82) salientam que “[...] A pedagogia se ocupa da educação intencional, seja num espaço formal, seja num espaço não formal, propondo-se a investigar fatores que contribuem para a construção e a reconstrução do conhecimento humano produzido dentro de um contexto social.” Desta forma, o pedagogo promove a educação de um modo intencional para a construção dos conhecimentos dos sujeitos, seja no contexto formal ou não formal. Mediante essas concepções de educação formal, não formal e informal, educação escolar e não escolar, percebe-se que vários autores utilizam formas para denominar cada espaço. No entanto, assume-se neste trabalho, caracterizando os espaços formais e não formais, como espaços educativos escolares e espaços educativos não escolares. Pois tanto o escolar quanto o não escolar são espaços que abrangem processos educativos que geram formação e conhecimentos; o diferencial desses espaços está direcionado a questões de certificação acadêmica e processos curriculares padronizados.

As leituras ratificam que o caráter formal se configura na educação escolar, e o aspecto não formal e informal na educação não escolar. Ressalta-se que a educação não escolar nos últimos anos vem ganhando seu espaço por causa da transformação da sociedade que cada vez mais necessita de práticas pedagógicas que dinamizem com a contemporaneidade. Severo (2015: 18) destaca “A Educação Não Escolar (ENE) como uma categoria contextual que reúne uma variedade de práticas formativas emergentes na sociedade contemporânea. [...], expressam demandas de formação humana que transcendem os limites da escola como instituição social [...]”. Desse modo, diversas instituições não escolares estão buscando interesses voltados para as práticas pedagógicas que sirvam de instrução formadora para enaltecer as ações desenvolvidas nesses espaços, como:

Empresas, organismos públicos, departamento estatais, movimentos sociais, organizações não governamentais, instituições de saúde, centros comunitários, agências de comunicação, entre outros espaços, passaram a reconhecer e intensificar a dimensão educativa de serviços ofertados à população e em seus processos de gestão [...] (Severo, 2015: 83).

A iniciação valorativa da educação não escolar deu-se pelo fato de que nesses espaços começaram a compreender a necessidade de práticas pedagógicas que melhorem os serviços oferecidos. Franco (2008) menciona que a comunidade vem ao longo dos tempos aproximando as funções do conhecimento formal e informal e é nesse sentido que se corrobora a necessidade de ampliação do trabalho pedagógico a fim de potencializar a formação e a aprendizagem. A ampliação da prática pedagógica desenvolvida na educação não escolar abre novas possibilidades de atuação para o pedagogo que pode potencializar saberes e modos de ação formativa e pedagógica de acordo com a necessidade vista. Libâneo (2008: 28) deixa claro que “[...] o pedagógico perpassa toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal, abrangendo esferas mais amplas da educação informal e não-formal [...]”. Franco (2011) destaca que a perspectiva educativa só é fruto da práxis social pelo viés da consciência, compreensão e explicitação dos objetivos oriundos de sua essência. Tal consideração leva ao pensamento crível que a atuação do pedagogo nos espaços não escolares torna-se relevante e necessária na consolidação de práticas educativas por meio do trabalho pedagógico.

Portanto, para que haja essa consolidação, Severo (2015) esclarece que as práticas educativas podem se tornar pedagógicas quando são objetos de ação e reflexão no âmbito da pedagogia, que remete às relações de mediação entre sujeitos, os saberes e os contextos dessas práticas. Compreender a prática educativa em espaços não escolares em sintonia com as práticas pedagógicas requer assim para o pedagogo o reconhecimento das intencionalidades explícitas e implícitas que direcionarão os objetivos a serem alcançados nesses espaços educativos.

2 METODOLOGIA

Os procedimentos metodológicos da investigação foram desenvolvidos a partir da abordagem qualitativa com enfoque crítico-dialético, o qual se configura nos “[...] estudos sobre experiências, práticas pedagógicas, processos históricos, discussões filosóficas ou análises contextualizadas a partir de um prévio referencial teórico.” (Gamboa, 2000: 96). Assim, foi possível verificar os campos de atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares no município de Parintins, AM, bem como discutir sobre a formação e atuação pedagógica do pedagogo em espaços educativos não escolares na realidade do município em questão e contribuir significativamente com dados e análises sobre o objeto de investigação. A opção pela abordagem qualitativa justifica-se pelo fato de que esse tipo de pesquisa permite uma interação dinâmica e contextual com o objeto de estudo, na qual o pesquisador participa, compreende e interpreta os fatos sociais da realidade. “O ambiente da vida real é a fonte direta para obtenção de dados, e a capacidade do pesquisador de interpretar essa realidade, com inserção e lógica, baseando-se em teoria existente, é fundamental para dar significado às respostas [...]” (Michel, 2009: 37). Com a abordagem e o enfoque destacados foi realizada a pesquisa de campo, primeiramente com o levantamento de numérico de quantos pedagogos formados em pedagogia atuam em espaços educativos não escolares no município de Parintins, permitindo ter uma visão ampla desses profissionais que estão atuando no local em questão. Depois desse levantamento de dados, foram elegidos dois participantes da pesquisa: uma pedagoga que trabalha no Centro de Atenção Psicossocial Adolfo Laurindo (CAPS) e uma do Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) com o objetivo de compreender e identificar o trabalho pedagógico desenvolvido nesses espaços. O motivo da escolha dessas profissionais deu-se pela frequência maior da presença de pedagogos atuando nas instituições que oferecem serviços sociais à população de Parintins, os quais lidam efetivamente com essas demandas. Desse modo, as pedagogas que trabalham nas instituições mencionadas foram convidadas para fazerem parte da pesquisa, buscando assim identificar as práticas educativas desenvolvidas. O instrumento para produção dos dados foi a entrevista semiestruturada com as duas pedagogas citadas. Segundo Lüdke e André (1986: 34), “[...] a entrevista semiestruturada, que se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações.” O foco principal da entrevista direcionou-se em saber como o pedagogo não escolar desenvolve a prática pedagógica em seu ambiente de trabalho, observando os desafios e dificuldades no processo de formação e atuação profissional.

Desse modo, a pesquisa foi realizada nas seguintes etapas: a) a primeira deu-se pela busca teórica para conhecer e compreender melhor as discussões clássicas e contemporâneas sobre o tema; b) a segunda fase consolidou-se com a realização da pesquisa de campo, onde foi preciso se dirigir a diferentes espaços educativos não escolares em que o pedagogo poderia estar atuando. Foram encontradas sete instituições onde havia pedagogos atuando, foram informados os objetivos da pesquisa, para poder selecionar os sujeitos que realizariam voluntariamente as entrevistas, os quais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participarem do estudo; c) e a terceira e última etapa constituiu analisar e discutir (à luz da crítica-dialética na abordagem qualitativa) os dados encontrados e produzidos em campo, articulando as ideias teóricas dos autores que fundamentaram os questionamentos da realidade investigada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO ESCOLARES

O município de Parintins, AM, possui um panorama educativo centrado nas escolas formais; são raros os espaços não escolares com a presença de pedagogos como articuladores do processo educativo. Após uma busca em campo, nas possíveis instituições que caberiam funções educativo-pedagógicas, identificaram-se quantos e quais pedagogos com formação em Pedagogia trabalhavam nos diferentes espaços não escolares. O Quadro 1 demonstra a presença de pedagogos nas referidas instituições.

Severo (2015) destaca que a educação não formal está atrelada ao serviço da formação das pessoas para a aquisição de saberes, práticas sociais e profissionais que se contextualizam nos espaços socioeducativos por possuir um modo flexível e permeável, mas com intencionalidade. Portanto, esses espaços são relevantes para a formação das pessoas que são recebidas e atendidas nas suas diferentes realidades e necessidades. Os sete pedagogos atuantes nesses espaços pesquisados são graduados em Pedagogia e executam atividades pedagógicas, afirmando a pertinência do papel do pedagogo nos espaços educativos não escolares em Parintins. Cunha et al. (2013) enfatizam que o pedagogo em cada ambiente social deve buscar um espaço de aprendizagem e de compreensão dos fenômenos sociais que nele se verificam, e para isso precisa estar preparado para olhar de outras formas a realidade que o cerca, compreendendo assim como esse processo social se desenvolve. De acordo com a pesquisa no Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, verificou-se que esse espaço educativo oferece para a comunidade parintinense cursos livres, regulares e capacitações, além de espaços culturais para visitação. A pedagoga que atua nesse local realiza seu trabalho pedagógico executando práticas que integram a população à cultura local, valorizando os saberes culturais. Assim como a pedagoga da Escola de Artes São Miguel de Pascalle, que planeja as ações pedagógicas voltadas para a arte e o trabalho social das crianças, desenvolvendo oficinas educativas por meio da dança, música, instrumental, artístico artesanal, entre outros. Quanto ao Curso Pré-Vestibular – Aprova Parintins, um espaço que visa a oferecer um reforço escolar para os estudantes de Parintins que almejem adentrar no ensino superior ou concurso público. O local possui uma pedagoga formada em pedagogia que atua na parte pedagógica da instituição não formal, organizando os horários das turmas e supervisionando o planejamento dos conteúdos das aulas dos professores, visando a atender os objetivos dos estudantes. O Centro Educacional Paulinho Farias, vinculado à Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, configura-se como um espaço educativo não escolar onde oferecem oficinas de artes, dança e música. No período da pesquisa de campo, a instituição estava sem funcionamento, porém fomos informados que não havia pedagogo atuando na associação, somente uma psicóloga que era coordenadora da instituição. No decorrer da pesquisa percebeu-se que muitos espaços educativos não escolares poderiam ter a atuação do pedagogo, por exemplo, os dois hospitais da cidade e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social. O Hospital Padre Colombo possui um bom espaço com brinquedoteca, mas infelizmente não há um profissional formado em Pedagogia para fazer os trabalhos pedagógicos. Franco e Selau (2011: 178) salientam que “A tarefa pedagógica no hospital pode, inclusive, ajudar na recuperação da criança paciente. Com o acompanhamento profissional do pedagogo, a criança poderá ter uma atitude mais ativa diante da situação de enfermidade e hospitalização em que se encontra [...]”. Deste modo, pedagogo pode desenvolver no hospital práticas educativas que ajudem na recuperação dos pacientes, inserindo metodologias adequadas para que se sintam acolhidos e tenham qualidade de vida. Nos espaços educativos hospitalares do município não se desenvolve um trabalho pedagógico eficaz. Para tanto, percebe-se que a maioria dessas instituições são espaços públicos que oferecem serviços formativos sociais para a sociedade parintinense e os pedagogos que atuam em alguns desses espaços são articuladores do trabalho pedagógico. Para Libâneo (2008), a abrangência da pedagogia é maior do que a da docência. A principal atribuição desses pedagogos é realizar o trabalho pedagógico por meio do processo educativo estabelecido, alcançando os objetivos definidos de acordo com as necessidades de cada instituição que acolhe uma diversidade de pessoas e contextos.

Assim, para conhecer melhor sobre o trabalho pedagógico nos espaços educativos não escolares de Parintins foram escolhidas para participarem da entrevista duas pedagogas que trabalham em diferentes instituições, uma do CAPS e outra do CRAS – Bairro Santa Rita. Seria interessante destinar a entrevista para todos os sete atuantes nos espaços não escolares, mas os pesquisadores consideraram delimitar uma análise mais direcionada dos pedagogos que atuam em espaços educativos não escolares no contexto de assistência social. Foram encontrados quatro pedagogos atuantes em Centros de Atendimento Socioeducativos, dois pedagogos do CAPS e dois pedagogos no CRAS. Logo, convidou-se um pedagogo de cada centro para participar da entrevista, possibilitando uma análise significativa da atuação pedagógica nesse campo de atuação.

3.2 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO ESCOLARES

Neste tópico faz-se a discussão dos resultados da entrevista realizada com duas pedagogas que atuam em espaços educativos não escolares no município de Parintins, as quais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aceitando participar espontaneamente da pesquisa, colaborando para a produção de dados com suas experiências profissionais vivenciadas na instituição em que trabalham.
No processo de discussão dos resultados deste estudo identificaram-se as participantes como a Pedagoga A, do CAPS, e a Pedagoga B, do CRAS – Bairro Santa Rita, para o resguardo do anonimato.

A realidade descrita e discutida, a partir das falas das pedagogas, insere-se nas referidas instituições, e, embora abranjam aspectos distintos, se interligam no atrelamento ao trabalho social desenvolvido. Primeiramente, referenciou-se o CAPS, que é um espaço “[...] de cuidar e apoiar pessoas com experiências do sofrimento ou transtorno mental e, ao mesmo tempo, espaço social no sentido de produção de projetos de vida e de exercício de direitos, e de ampliação do poder de contratualidade social.” (Brasil, 2015a: 23). No município de Parintins, o CAPS é voltado para os serviços de saúde mental com perspectiva social e comunitária, onde o pedagogo trabalha exercendo sua prática pedagógica em meio a uma equipe multiprofissional que atende as necessidades dos pacientes. O CRAS é a porta de entrada da Assistência Social, localizado prioritariamente em áreas de maior vulnerabilidade social, onde são oferecidos os serviços de Assistência Social, com o objetivo de fortalecer a convivência com a família e com a comunidade (Brasil, 2015b). Em Parintins há duas unidades do CRAS localizadas em bairros diferentes, na qual o CRAS – Bairro Santa Rita atende a população nas proximidades do Bairro de Nazaré e redondezas, e o CRAS – Itaúna II, as proximidades do Bairro do Itaúna II e redondezas. A Pedagoga A tem seis anos de experiência na área pedagógica na qual sua atuação se dá somente como pedagoga no CAPS, não obteve ainda experiências em espaços formais, como a escola. A Pedagoga B atua há quatro anos na área pedagógica, desenvolveu experiências em Manaus como auxiliar de educação especial e professora de educação infantil. Atua há sete meses como pedagoga do CRAS no município de Parintins. Com isso, evidenciou-se o quanto é relevante o pedagogo social inserido nesses espaços educativos não escolares, contribuindo para que se compreendam os fenômenos sociais e intervir da melhor forma possível. De acordo com Caliman (2010: 352), a pedagogia social “[...] orienta a prática sociopedagógica voltada para indivíduos ou grupos, que precisam de apoio e ajuda em suas necessidades, ajudando-os a administrarem seus riscos através da produção de tecnologias e metodologias socioeducativas e do suporte de estruturas institucionais [...]”. A pedagogia social permite desenvolver ações educativas que atendam as pessoas em situações e necessidades sociais adversas, contribuindo para a educabilidade social. Percebe-se nas falas e nas instituições onde as pedagogas trabalham, o caráter intenso da pedagogia social envolvida nas práticas pedagógicas de cada espaço.

No processo de diálogo estabelecido nas entrevistas, as pedagogas reafirmam as necessidades de atuação do pedagogo nesses espaços sociais. Questionou-se o posicionamento das participantes em relação à relevância do papel do pedagogo atuar nos espaços educativos não escolares, as quais comentaram:

Acho que seja de extrema importância em todos os espaços sejam eles escolares ou não, é necessário o profissional que possa ajudar essas pessoas fora da sala de aula. Por exemplo, aqui no CAPS nós trabalhamos dentro das oficinas psicoterapêuticas, é necessário o pedagogo porque é ele que vai direcionar, selecionar, planejar as atividades que serão desenvolvidas com os pacientes. (Pedagoga A).

Principalmente na área social é muito importante, como temos aqui no CRAS a orientação psicossocial, do assistente social e do psicólogo, o papel do pedagogo é também muito importante. Na escola é trabalhado o ensinar, tirar do papel para que a criança possa aprender. No social é a prevenção, trabalhamos com as famílias que estão em vulnerabilidade, desestruturadas, assim o CRAS é uma porta de entrada para elas [...].(Pedagoga B).

Os relatos das participantes esclarecem a relevância do pedagogo nos espaços não escolares, principalmente onde trabalham. A Pedagoga A destaca que é necessário esse profissional para direcionar, selecionar e planejar as atividades voltadas para oficinas psicoterapêuticas realizadas no CAPS. Libâneo (2008: 34) evidencia que “[...] o processo educativo se viabiliza, portanto, como prática social precisamente por ser dirigido pedagogicamente.” Nos espaços educativos não escolares, a ação pedagógica direciona as práticas educativas que objetivam realizar. A referida participante exerce um papel relevante para que os objetivos realizados no CAPS sejam alcançados de modo consciente com práticas educativas que atendam às necessidades dos pacientes. A Pedagoga B realça a importância do pedagogo na área social que desenvolve um trabalho diferenciado do pedagogo da escola, na qual o seu trabalho é desenvolvido com uma equipe com pedagogos, psicólogos e assistentes sociais, voltada para a prevenção das famílias desestruturadas, dando o apoio necessário para auxiliá-las no que precisarem. Cunha et al. (2013: 84) salientam que “O pedagogo se tornou um dos sujeitos que compõem as equipes multidisciplinares que pensam e implementam os projetos destinados a incentivar os indivíduos das comunidades [...]”. Assim, a atuação do pedagogo nesses espaços não escolares é cada vez mais necessário, sendo percussor no resgate e promoção da educação como forma de incluir na sociedade as pessoas que frequentam o CAPS, o CRAS e os outros espaços educativos.

A formação em Pedagogia das participantes deste estudo permite a atuação nos espaços educativos não escolares, como planejadoras e articuladoras de ações pedagógicas. Segundo Libâneo (2008: 135):

O que define algo - um conceito, uma ação, uma prática como pedagógico é, portanto, a direção de sentido, o rumo que se dá às práticas educativas. É, pois, o caráter pedagógico que faz distinguir os processos educativos que se manifestam em situações sociais concretas, uma vez que é a análise pedagógica que explica a orientação do sentido (direção) da atividade educativa. Por isso se diz que a toda educação corresponde uma pedagogia.

Em sequência, perguntou-se se o curso de Pedagogia, no processo de formação inicial, possibilitou a aquisição de conhecimentos e saberes pertinentes, contribuindo para atuação nos espaços não escolares. As duas pedagogas mencionaram que sim, destacando os saberes de Didática, Sociologia, Psicologia, Metodologia, entre outros, construídos na formação inicial e que deram suporte para a atuação pedagógica delas. Todavia, em uma das falas, identificou-se a necessidade de disciplinas e vivências relacionadas a esses espaços educativos não escolares:

Com certeza, nós na faculdade temos a visão de trabalhar apenas na escola, mas devemos estar preparados para a área social, ou comercial, porque o pedagogo tem que ir em busca do conhecimento e estar preparado. Na área que eu atuo, por exemplo, a didática é muito importante, e o curso de pedagogia oferece a didática, o planejamento, avaliação e as questões pedagógicas que utilizo na minha atuação de pedagoga social. As metodologias também ajudam para o desenvolvimento do meu trabalho, porque trabalho com diferentes usuários, então devo ter a linguagem voltada para cada faixa etária. No curso de pedagogia não tive nenhuma disciplina específica voltada para a área da educação social não escolar, mas sem o curso de pedagogia não estaria atuando nessa área, pois foi a minha formação que resultou na possibilidade de atuação. (Pedagoga B, grifo nosso).

Pode-se destacar que na formação inicial da pedagoga, ela não teve uma disciplina específica voltada para a área pedagógica social não escolar, os cursos de Pedagogia priorizam os meios formativos para o pedagogo escolar, que atua somente na escola. Libâneo (2011: 79) afirma que para o “[...] trabalho pedagógico exige-se preparação profissional prévia, sistemática e qualificada.” No entanto, o pedagogo necessita estar preparado para atuar nos diversos espaços educativos da sociedade; a formação inicial do pedagogo precisa focar no campo pedagógico para que se possa saber direcionar a prática educativa não somente na escola, mas em outros espaços educativos. A não valorização e não reconhecimento da necessidade de atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares é algo a ser enfrentado. A formação e atuação do pedagogo ainda estão fundamentalmente direcionadas ao trabalho escolar, ou seja, às práticas educativas voltadas para a educação escolar formal. A sociedade precisa reconhecer que em todo lugar onde houver caráter educativo, há uma pedagogia, logo, o pedagogo pode atuar realizando práticas pedagógicas que promovam a transformação educativa e social dos diferentes espaços. Menciona-se, ainda, que os cursos de Pedagogia precisam repensar esse processo formativo, olhando também para as necessidades e diversidades da atuação pedagógica. A prática educativa ocorre prioritariamente na escola, mas não exclusivamente, pois pode acontecer na família, no trabalho, nos serviços sociais, entre outros, onde houver intencionalidade. A prática pedagógica pode ser desempenhada onde a práxis educativa acontecer (Franco, 2008). Desse modo, conhecer como o pedagogo desenvolve sua atuação laborativa demonstra a necessidade cada vez maior de ter o profissional em questão nos espaços não escolares.

A atuação pedagógica da participante do CAPS viabiliza atender as necessidades psicossociais dos pacientes por meio de práticas educativas de interesse social, como destacado a seguir:

Aqui no CAPS é um trabalho pedagógico diferenciado, diferente do trabalho realizado na escola. Juntamente com a equipe conversamos que tipo de atividade vai ser terapêutico, vai ser importante para os pacientes, o que eles realmente gostam de fazer para que tenham interesse, então nós buscamos atividades voltadas principalmente para geração de renda, algo que eles possam fazer, uma ocupação que possa gerar um retorno para eles e que também possam se sentirem úteis e importantes. Passeios são planejados também para saírem desse ambiente para que a sociedade possa saber que eles são pessoas que podem e devem conviver com todos. Há também o trabalho de aproximar a família do CAPS, do tratamento do paciente, se a família não acompanhar e se aproximar do seu doente o nosso trabalho não vai surtir efeito. (Pedagoga A).

O trabalho pedagógico realizado pela pedagoga do CAPS remete um trabalho diferenciado na qual necessita promoção de atividades que sejam terapêuticas de acordo com as necessidades de cada paciente. Nota-se que há a preocupação de levar em conta no que os pacientes gostam de fazer para que sejam geradas atividades que os motivem e possam se sentir úteis. A pedagoga contribui, por meio dos processos pedagógicos, para o tratamento psicológico de cada paciente, e para isso precisa conhecer e compreender a realidade individual do paciente para poder realizar seus afazeres. Cunha et al. (2013) destacam que é necessário compreender a realidade para buscar respostas e alternativas de superar as adversidades.
Em relação à realização do trabalho pedagógico no CRAS, ele é desenvolvido, assim como no CAPS, por meio de projetos, cujos objetivos estão focados nas necessidades das pessoas que procuram esses espaços para que sejam acolhidas da melhor forma possível. A Pedagoga B afirma:

Trabalhamos muito por meio de projetos e parcerias, temos projetos voltados para a dança, música com instrumentos, artesanatos através do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família. A família vem, toda quinta-feira, fazemos palestras com as mães sobre prevenção a saúde, todo mês vem um palestrante de fora. Muitas vezes não consigo encontrar facilmente, mas sempre buscamos alternativas, como trazendo enfermeiros para palestrar. Então isso é muito bom porque as mães estão sabendo de coisas que não sabiam sobre direitos e deveres. Trabalhamos muito assim com os nossos usuários, as crianças de 5 a 12 anos, adolescentes, jovens, adultos e idosos.

Pode-se perceber a preocupação da pedagoga em orientar as famílias, desenvolvendo palestras informativas que promovam a prevenção da saúde e o conhecimento dos direitos e deveres que elas precisam saber para que possam compreender as implicações que as cercam e exercerem a cidadania. A Pedagoga B busca parcerias com pessoas que estejam aptas para palestrarem, e essa atitude mostra o seu empenho em levar para o CRAS algo que esteja condizente com as necessidades que as pessoas enfrentam.

3.3 DESAFIOS ENFRENTADOS POR PEDAGOGOS NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO ESCOLARES

Desenvolver práticas pedagógicas nos espaços educativos não escolares implica colocar em questão os saberes teóricos e práticos para desempenhar papéis educativos, os quais suscitam desafios e dificuldades no percurso do exercício profissional do pedagogo. O trabalho em espaços escolares e não escolares pode possuir as suas realidades problemáticas comuns ligadas aos desafios da socialização e formação humana na contemporaneidade (Severo, 2015). Com isso,

Todos os pedagogos educadores seriamente interessados nas ciências da educação, entre elas a Pedagogia, precisam concentrar esforços em propostas de intervenção pedagógica nas várias esferas do educativo para enfrentamento dos desafios colocados pelas novas realidades [...] (Libâneo, 2006: 132).

A atuação do pedagogo nos espaços educativos perpassa por desafios e dificuldades a serem enfrentados, na qual se anseia por profissionais que estejam engajados com a educação e que não encurtem esforços para a superação dos obstáculos vivenciados.
As participantes entrevistadas salientam suas dificuldades e seus desafios enfrentados nos espaços não escolares e que cada uma trabalha mediante ao trabalho pedagógico que objetivam desenvolver.

Gostaria que nós tivéssemos mais participação em cursos de formação, mas é muito difícil. Quando tem algum curso, as vezes não ficamos sabendo, nem sempre temos acesso à internet, por exemplo, ultimamente a gente ficou sabendo que teve um seminário em Manaus na área da saúde mental muito importante, e nós perdemos porque não sabíamos de nenhuma informação e orientação. Acredito que a participação nossa em cursos de formação iria ajudar muito na nossa prática de trabalho com os pacientes. (Pedagoga A).

A pedagoga do CAPS destaca a falta de participação em eventos e cursos de formação voltados para a área de saúde mental, que contribuiriam profissionalmente para melhorar sua prática pedagógica desenvolvida com os pacientes. O pedagogo nesses espaços, principalmente no CAPS, que atende pessoas com transtornos mentais, precisa adquirir conhecimentos referentes ao campo da psicologia da saúde para poder realizar sua prática de forma eficaz. Por mais que a graduação em pedagogia tenha a disciplina de psicologia da educação, não dá o suporte necessário para os conhecimentos mais aprofundados sobre as problemáticas psicológicas e os transtornos psiquiátricos. Por isso, para o pedagogo que lida com a área da saúde mental, é necessária uma formação continuada, especializações voltadas para a área, que contribuirão para um planejamento de ações e atuação pedagógica significativas na vida das pessoas que necessitam de atenção psicossocial.
No entanto, os desafios e dificuldades do pedagogo não escolar implicam questões relacionadas à formação continuada voltada para a área, porém se identifica por meio das falas da pedagoga do CRAS, também sobre a falta de materiais didáticos que contribua e melhore o trabalho desempenhado na instituição, conforme manifesta em seu relato:

As dificuldades são muitas, como por exemplo, sobre materiais didáticos que não temos muito, temos dificuldade na palestra em passar um vídeo e não ter o datashow. Outros profissionais não têm comprometimento nas suas funções e acabam prejudicando o meu trabalho e a vida dos usuários também, porque são eles que devemos tratar bem. Pelas dificuldades que passam, estão vindo calejados com as coisas que acontecem em suas vidas e temos que abraçá-los do jeito que for. E essa é a grande dificuldade que nós pedagogos queremos fazer acontecer e não há um respaldo, recurso. Mas, a nossa equipe é bem unida, nós fazemos acontecer dentro das nossas possibilidades. (Pedagoga B).

Reconhece-se que os pedagogos que atuam nos espaços educativos não escolares vivenciam desafios cotidianamente, cada realidade exprime suas dificuldades, sejam em relação à necessidade de formação específica ou à falta de recursos didáticos no desenvolvimento da prática pedagógica. Hoje, com as mudanças recorrentes da sociedade, o pedagogo tem que estar preparado para lidar com essas demandas sociais que anseiam por práticas educativas em consonância com a diversidade social e as inúmeras problemáticas. A Pedagoga B destaca a falta de comprometimento de outros profissionais, que implica não somente no seu trabalho, mas na vida dos usuários que passam por momentos conflituosos em suas vidas. No entanto, no final de sua fala menciona que a equipe é unida, perpassando o entendimento que, apesar da ausência de comprometimento de alguns profissionais, a equipe faz com que os trabalhos aconteçam e que as dificuldades sejam superadas. O trabalho realizado, principalmente no CRAS que atende e dá suporte para as famílias, e no CAPS que acolhe pessoas que muitas vezes estão excluídas da sociedade, necessita de uma equipe unida e comprometida no desenvolvimento do trabalho. Nesse sentindo, Cunha et al. (2013) destacam que o pedagogo deve estar direcionado às transformações sociais e usufruir como ferramenta metodológica para o trabalho em grupo, valorizando os conhecimentos que ecoam nas relações com os outros e a capacidade de gerar mudanças.

Assim, percebe-se – perante os desafios apontados sobre a atuação do pedagogo em espaços educativos não escolares no contexto local – a confirmação da relevância de processos formativos voltados para a área pedagógica que remete saberes específicos que contribuem para atender as necessidades sociais e psicossociais das pessoas. Destaca-se também a necessidade de recursos metodológicos que sustentem e possibilitem a prática socioeducativa, garantido ações pedagógicas dinâmicas e significativas nos espaços educativos não escolares.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se este estudo com várias reflexões sobre a relevante atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares. Na realidade de Parintins são necessárias mais oportunidades de profissionais pedagogos nesses espaços. As duas universidades públicas instaladas no município formam continuamente pedagogos que podem atuar não somente na escola, mas também nos espaços educativos não escolares. Desse modo, as transformações sociais vigentes na atualidade necessitam da formação de pedagogos e atuação pedagógica com caráter dinâmico, diversificado e significativo, cujos profissionais que executem processos educativos observem os diferentes espaços e contextos necessário para uma boa atuação. As pedagogas entrevistadas reafirmam suas práticas pedagógicas nos espaços em questão de forma a contribuírem com mudanças significativas, sejam no auxílio aos usuários ou mesmo promovendo atividades educativas terapêuticas que os motivem e os valorizem. As participantes também levam em consideração o acolhimento de famílias desestruturadas que precisam de amparo integral considerando seus direitos e deveres como cidadãs. Outro aspecto relevante decorrente da pesquisa refere-se aos desafios enfrentados na realização da prática pedagógica pelas pedagogas nesses espaços educativos, dificuldades em relação a saberes formativos específicos da prática na área atuante, além da falta de recursos em relação aos materiais didáticos que possibilitem benefícios à prática. Apesar das dificuldades, as pedagogas que trabalham nesses espaços estão engajadas e comprometidas, procurando pesquisar seus próprios meios formativos para que possam superar as necessidades e colocar em ação seus saberes pedagógicos. É necessário que as instituições universitárias locais revejam seus projetos pedagógicos curriculares de acordo com o cenário da educação da contemporaneidade, priorizando não somente o espaço escolar, mas também os espaços não escolares, para que os estudantes em formação possam adquirir saberes e experiências relacionadas também a esses espaços. A atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares na realidade parintinense demonstra um novo campo de trabalho desse profissional, que sai dos muros da escola formal para atuar em outros espaços educativos que possibilitam minimizar as necessidades e problemáticas sociais da população, visando a promover a inclusão social, a valorização pessoal e, principalmente, os conhecimentos que perpassam pelas práticas pedagógicas educativas desenvolvidas pelo profissional pedagogo.

Por fim, os objetivos delineados na pesquisa foram alcançados de forma eficaz, pois permitiram a obtenção de uma visão geral dos espaços educativos não escolares existentes em Parintins e analisar a ação pedagógica de duas pedagogas que exercem seus trabalhos voltados para as demandas sociais encontradas em cada instituição. Percebe-se que as pessoas buscam melhorar suas vidas com as práticas socioeducativas que ampliem seus conhecimentos da melhor forma possível. Assim, reafirma-se a necessidade de pedagogos que estejam engajados com a educação para a transformação significativa social nesses espaços educativos não escolares no município em questão.

REFERÊNCIAS

Bogorny, Q. L. S. (2015): Atuação dos pedagogos em universos não escolares. Eventos Pedagógicos, v. 6, n. 2, pp. 200-208. Disponível em: http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/eventos/article/download/1879/1435. Consultado em 06/05/2019.
Brasil. Presidente da República (1939, 6 abr.): Decreto-Lei n. 1.190, na Faculdade Nacional de Filosofia. Dá organização à Faculdade Nacional de Filosofia. Coleção de Leis do Brasil, p. 50. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del1190.htm. Consultado em 06/05/2019.
Brasil. Presidente da República (1996, 23 dez.): Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, p. 27.833. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Consultado em 06/05/2019.
Brasil. Conselho Nacional de Educação. (2006, 16 maio): Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Diário Oficial da União, p. 11. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf. Consultado em 06/05/2019.
Brasil. Ministério da Saúde (2015a): Centros de Atenção Psicossocial e Unidades de Acolhimento como lugares da atenção psicossocial nos territórios: orientações para elaboração de projetos de construção, reforma e ampliação de CAPS e de UA. Ed. Ministério da Saúde, Brasília, DF. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/centros_atencao_psicossocial_unidades_acolhimento.pdf. Consultado em 06/05/2019.
Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social (2015b): Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, Brasília, DF. Disponível em: http://mds.gov.br/assuntos/assistencia-social/unidades-de-atendimento/cras. Consultado em 06/05/2019.
Caliman, G. (2010): Pedagogia social: seu potencial crítico e transformador. Revista de Ciências da Educação, n. 23, pp. 341-368. Disponível em: https://sites.unicentro.br/wp/cursodepedagogia/files/2011/08/caliman-pedagogia-social-transformadora.pdf. Consultado em 06/05/2019.
Cunha, A. L. et al. (2013): Pedagogia em ambientes não escolares. InterSaberes, Curitiba.
Dias, G. D. (2010): Pedagogo e a educação extraclasse: o mediador do conhecimento sócio-educativo na empresa. Eventos Pedagógicos, v. 1, n. 1, pp. 104-105. Disponível em: http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/eventos/article/view/101. Consultado em 06/05/2019.
Félix, N. M. R. (2015): Guia de estudo – estágio supervisionado – educação infantil. GEaD-UNIS/MG, Varginha. Não paginado. Disponível em: http://estagio.unis.edu.br/wp-content/uploads/sites/69/2015/09/Estágio-Supervisionado-–-Educação-Infantil.pdf. Consultado em 06/05/2019.
Franco, M. A. R. S. (2008): Pedagogia como ciência da educação. 2ª ed. Cortez, São Paulo.
Franco, M. A. S. (2011): Para um currículo de formação de pedagogos: indicativos. Em: Pimenta, S. G. (Org.): Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. 3ª ed. Cortez, São Paulo, pp. p. 101-130.
Franco, M. A. S.; Libâneo, J. C.; Pimenta, S. G. (2007): Elementos para a formulação de Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia. Caderno de Pesquisa, v. 37, n. 130, pp. 63-97. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v37n130/05.pdf. Consultado em 06/05/2019.
Franco, P. F. P.; Selau, B. (2011): A atuação do pedagogo no ambiente hospitalar: algumas reflexões. Liberato, v. 12, n. 18, pp. 107-206. Disponível em: http://www.liberato.com.br/sites/default/files/arquivos/Revista_SIER/v.%2012%2C%20n.%2018%20%282011%29/7.a%20atua%E7%E3o%20do%20pedagogo%20no%20ambiente%20hospitalar.pdf. Consultado em 06/05/2019.

Frison, L. M. B. A.; Barreto, M. H. M. (2006): Auto-regulação da aprendizagem: atuação do pedagogo em espaços não-escolares. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/2739/1/000385720-Texto%2bCompleto-0.pdf. Consultado em 06/05/2019.


Gamboa, S. A. (2000): A dialética na pesquisa em educação: elementos de contexto. Em: Fazenda, I. (Org.): Metodologia da pesquisa educacional. 6ª ed. Cortez, São Paulo, pp. 92-115.
Libâneo, J. C. (2006): Que destino os educadores darão à Pedagogia? Em: Pimenta, S. G. (Coord.). Pedagogia, ciência da educação? 5ª ed. Cortez, São Paulo. p. 107-134.
Libâneo, J. C. (2008): Pedagogia e pedagogos, para quê? 10ª ed. Cortez, São Paulo.
Libâneo, J. C. (2011). Ainda as perguntas: o que é pedagogia, quem é o pedagogo, o que deve ser o curso de Pedagogia. Em: Pimenta, S. G. (Org.): Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. 3. ed. Cortez, São Paulo, pp. 59-97.
Libâneo, J. C.; Pimenta, S. G. (2011): Formação de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de mudança. Em: Pimenta, S. G. (Org.): Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. 3ª ed. Cortez, São Paulo, pp. 15-61.
Lourenço, V. T. (2015): Educação não formal: a atuação do pedagogo no contexto do Centro de Referência de Assistência Social de Sinop – MT. Eventos Pedagógicos, v. 6, n. 4, pp. 305-316. Disponível em: https://craspsicologia.files.wordpress.com/2017/09/educac3a7c3a3o-nc3a3o-formal.pdf. Consultado em 06/05/2019.
Lüdke, M.; André, M. E. D. A. (1986): Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. EPU, São Paulo.
Michel, M. H. (2009): Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais. 2ª ed. Atlas, São Paulo.
Santos, V. S.; Santos, V. L. F. (2011): A atuação do pedagogo na educação não-formal: quais possibilidades de intervenção profissional? Interfaces da Educação, v. 6, n. 4, pp. 99-109. Disponível em: https://periodicosonline.uems.br/index.php/interfaces/article/download/603/567. Consultado em 06/05/2019.

Severo, J. L. R. L. (2015): Pedagogia e educação não escolar no Brasil: crítica epistemológica, formativa e profissional. Tese de doutorado. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/8217/2/arquivo%20total.pdf. Consultado em 06/05/2019.


Silva, C. S. B. (2006). Curso de Pedagogia no Brasil: história e identidade. 3ª ed. Autores Associados, Campinas.
Silva, L. A. S. P. (2007): O pedagogo em espaços não escolares. In: Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, 11º; Encontro Latino Americano de Pós-Graduação, 7º, São José dos Campos. Anais... Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, pp. 3.017-3.021. Disponível em: http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2007/trabalhos/humanas/inic/INICG00751_01C.pdf. Consultado em 06/05/2019.

Silva, D. C. et al. (2015): A atuação do pedagogo em espaços não formais de educação: o olhar dos acadêmicos do curso de Pedagogia do CESP/UEA. Em: Seminário de Ensino de Ciências na Amazônia, 5º, Manaus. Anais... Universidade do Estado do Amazonas, Manaus. Disponível em: http://secam.com.br/wp-content/uploads/2018/11/A-atuação-do-pedagogo-em-espaços-não-formais-de-educação.pdf. Consultado em 06/05/2019.

*Pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas. ** Professora da Universidade Federal do *** Professor da Universidade Federal do
Recibido: 14/05/2019 Aceptado: 24/07/2019 Publicado: Julio de 2019
Nota Importante a Leer: Los comentarios al artículo son responsabilidad exclusiva del remitente. Si necesita algún tipo de información referente al articulo póngase en contacto con el email suministrado por el autor del articulo al principio del mismo. Un comentario no es mas que un simple medio para comunicar su opinion a futuros lectores. El autor del articulo no esta obligado a responder o leer comentarios referentes al articulo. Al escribir un comentario, debe tener en cuenta que recibirá notificaciones cada vez que alguien escriba un nuevo comentario en este articulo. Eumed.net se reserva el derecho de eliminar aquellos comentarios que tengan lenguaje inadecuado o agresivo.

Si usted considera que algún comentario de esta página es inadecuado o agresivo, por favor, escriba a .

URL: https://www.eumed.net/rev/atlante/index.htmll Sitio editado y mantenido por Servicios Académicos Intercontinentales S.L. B-93417426. Dirección de contacto