A população universitária representa qual porcentagem dos brasileiros

O percentual de negros no nível superior deu um salto e quase dobrou entre 2005 e 2015.  Em 2005, um ano após a implementação de ações afirmativas, como as cotas, apenas 5,5% dos jovens pretos ou pardos na classificação do IBGE e em idade universitária frequentavam uma faculdade. Em 2015, 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior, segundo pesquisa divulgada hoje (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A população universitária representa qual porcentagem dos brasileiros

Aumenta o número de negros que conseguem chegar à universidade, mas percentual ainda é inferior ao de brancosArquivo/Agência Brasil

Comparado com os brancos, no entanto, o número equivale a menos da metade dos jovens brancos com a mesma oportunidade, que eram 26,5% em 2015 e 17,8% em 2005. Os dados foram constatados pela Síntese de Indicadores Sociais - Uma análise das condições de vida da população brasileira. A pesquisa também mostra que os anos de ensino influenciam no salário: quanto maior a escolaridade, maior o rendimento do trabalhador.

De acordo com o IBGE, a dificuldade de acesso dos estudantes negros ao diploma universitário reflete o atraso escolar, maior neste grupo do que no de alunos brancos. Na idade que deveriam estar na faculdade, 53,2% dos negros estão cursando nível fundamental ou médio, ante 29,1% dos brancos.

Na última década, o Brasil conseguiu aumentar o número de estudantes entre 15 e 17 anos no Ensino Médio de 81,6% para 85%. No entanto, o IBGE avalia que o crescimento foi tímido e destaca o impacto da "pedagogia da repetência" na evasão escolar entre os mais pobres.

Estudos citados pelo IBGE apontam que a alta repetência ainda no ensino fundamental "vem prejudicando uma geração", uma vez que jovens ficam desestimulados de estudar. "Os dados internacionais mostram que, em 2009, o Brasil era o país que tinha a maior taxa de repetência no [ensino] fundamental, comparado aos demais da América Latina e Caribe", disse a especialista do IBGE responsável pelo tema, Betina Fresneda. 

Pobres têm mais acesso a universidades

Por outro lado, na década, apesar das dificuldades de acesso, as ações afirmativas ou políticas públicas como o Programa Universidade para Todos (ProUni) - de bolsas em universidades privadas - sinalizam uma "tendência de democratização" do ensino superior, segundo o relatório. O percentual de alunos pobres nas universidades públicas passou de 6,2% para 8,3%, enquanto nas pagas subiu de 0,8% para 4%.

"Essas políticas vão desde o aumento de reservas de vagas nas instituições públicas direcionadas aos alunos de diferentes perfis (pessoas com deficiência, procedentes de escola pública, com baixa renda familiar, etnias específicas etc) até o aumento do financiamento estudantil reembolsável ou não reembolsável disponível aos alunos", destaca o documento do IBGE.

Além de políticas públicas para incentivar jovens a frequentar universidades, o IBGE destaca como incentivadores deste aumento os programas de aceleração escolar, que corrigem a defasagem idade-ano de alunos repetentes, e a condição econômica das famílias, que permitiram aos jovens estudar, em vez de se dedicarem só ao trabalho.

No período, a escolaridade média do brasileiro com 25 anos ou mais também subiu para 7,9 anos, o que ainda não corresponde ao ensino fundamental completo. A defasagem em relação a outros países, como o Chile, onde a população alcançou 7,3 anos de escolaridade em 1985, mostra, segundo o IBGE, que "o déficit educacional brasileiro é histórico e que sua alteração é necessariamente lenta".

Já a taxa de analfabetismo entre as pessoas com 15 anos ou mais caiu de 11,1% para 8%. Entre os brasileiros com mais de 65 anos, um em cada quatro não sabem ler nem escrever - mas este indicador também apresentou diminuição.

Educação infantil

Com a obrigatoriedade de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos frequentarem a escola, a partir de 2013, os indicadores sobre educação infantil também melhoraram. O número de crianças entre 4 a 5 anos na escola subiu 30%, de 62,8% para 84,3%.

Brasília

O volume de brasileiros com pós-graduação no Brasil é bastante inferior ao registrado em países ricos, de acordo com relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O diagnóstico é divulgado no momento em que o país debate decisões do governo Jair Bolsonaro (PSL) sobre a área. A gestão do presidente já cortou neste ano 12% das bolsas de pesquisa e reduziu pela metade o orçamento de 2020 da Capes, agência de fomento ligada ao Ministério da Educação.

A OCDE, que reúne países desenvolvidos, divulgou nesta terça-feira (10) a edição 2019 do Education at a Glance. O relatório traz comparações internacionais sobre estrutura, finanças e desempenho de sistemas educacionais de 46 países membros da organização e também de nações parceiras, como o Brasil.

A população universitária representa qual porcentagem dos brasileiros

Pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná) fazem protesto em Curitiba contra cortes no MEC e nas bolsas de pesquisa. Divulgação/

A população universitária representa qual porcentagem dos brasileiros

Pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná) fazem protesto em Curitiba contra cortes no MEC e nas bolsas de pesquisa. Divulgação/

A população universitária representa qual porcentagem dos brasileiros

Pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná) fazem protesto em Curitiba contra cortes no MEC e nas bolsas de pesquisa. Divulgação/

A população universitária representa qual porcentagem dos brasileiros

Pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná) fazem protesto em Curitiba contra cortes no MEC e nas bolsas de pesquisa. Divulgação/

Ele mostra que apenas 0,8% das pessoas de 25 a 64 anos no Brasil concluíram o mestrado. A média dos países membros da OCDE é 16 vezes maior: 13% das pessoas nessa faixa etária têm mestrado.

A própria OCDE faz uma ressalva sobre a comparação com a média de países ricos, uma vez que os bacharelados no Brasil tendem a ser mais longos do que seus equivalentes na Europa ou na América do Norte. 

Na Europa, por exemplo, é possível em muitas universidades concluir um mestrado integrado à graduação em um período de cinco anos.

No entanto, o índice brasileiro só é maior do que o da China (que não tem dados sobre doutorado) e da Arábia Saudita. Indonésia tem o mesmo percentual do Brasil, que é superado por países como México, Chile e Costa Rica.

No doutorado, a diferença é de 5,5 vezes. Apenas 0,2% dos adultos alcançaram o doutorado. A média da OCDE de 1,1%.

Nessa etapa, o Brasil supera Costa Rica, México e Indonésia, mas fica atrás de países como a Polônia e Grécia.

Os gastos com instituições públicas de ensino superior, que concentram 80% dos estudantes de mestrado e doutorado, aumentaram 19% entre 2010 e 2016, segundo o relatório. Mesmo com o salto, o gasto calculado por aluno ainda é inferior ao da média da OCDE.

No Brasil, o gasto por aluno é de US$ 14.200 (R$ 58 mil), contra uma média de US$ 16.100 (R$ 66 mil). Os valores em dólar refletem o conceito de paridade de poder de compra, que leva em conta o que é possível adquirir com a moeda no país.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem reafirmado que as universidades federais representam gastos exagerados para os cofres públicos, principalmente, segundo ele, com a comparação com o que se investe na educação básica.

As universidades federais sofrem neste ano um bloqueio de orçamento de R$ 2,2 bilhões, referente a 30% dos recursos discricionários (que excluem salários, por exemplo). O congelamento do MEC é de cerca de R$ 6 bilhões e atinge ações que vão da creche à pós-graduação.

Weintraub já afirmou que o ensino superior privado é a prioridade do governo na busca pela expansão de vagas. O setor concentra 75% das matrículas da etapa, o que não ocorre nos países ricos.

Segundo o relatório da OCDE, menos de um terço dos estudantes estão em instituições particulares na maioria dos países da OCDE.

O predomínio de instituições privadas pagas e o número limitado de vagas em instituições públicas gratuitas criam, segundo o relatório, "um ambiente complexo para os formuladores de políticas que buscam garantir que o acesso ao ensino superior não seja prejudicado pelo status socioeconômico dos estudantes".

O documento também indica maior precariedade da oferta em instituições particulares de ensino superior brasileiras. Em 2017, as instituições privadas do país registravam uma média de 42 alunos por professor.

É a maior proporção entre todos os países avaliados e mais de 2,5 vezes a média dos países ricos (16 alunos por professor).

Já a proporção de alunos por docente nas universidades públicas do país é de 11, um dos menores índices entre todos os países analisados. Também é inferior ao da média da OCDE, de 15 (quando se analisa apenas instituições públicas).

O relatório ressalta que essa diferença pode ser explicada, pelo menos parcialmente, pelo fato de as universidades públicas do Brasil realizarem a maior parte da pesquisa no país, "exigindo, portanto, mais pessoal acadêmico", afirma o texto.

O país tem a 5ª pior taxa de pessoas com ensino superior completo. Apenas 21% dos brasileiros de 25 a 34 anos têm diploma universitário, índice inferior a países como México (23%), Costa Rica (28%) e Colômbia (29%). A média da OCDE é de 44%.

Com relação à educação básica, o estudo da OCDE conclui que o Brasil tem um gasto por aluno menor que a metade do de países ricos.

A população universitária representa qual porcentagem dos brasileiros

As universidades brasileiras, como a UFMG, tem sofrido com os congelamentos de verba da educação. Na foto, a estudante de mestrado da UFMG Viviani de Almenida, 25, aluna da professora Angélica Thomaz Vieira, mostra camundongos comprados com recursos da professora para o Laboratório de Microbiota e Imunomodulação (LMI) da UFMG; por conta de cortes de verbas, Vieira aplicou no laboratório os R$ 50 mil que recebeu no prêmio Para Mulheres na Ciência. Folhapress/Alexandre Rezende

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A saída encontrada para a professora Angélica Vieira foi usar dinheiro do próprio bolso para bancar as pesquisas, mas várias linhas de pesquisa já se encontram paradas ou no caminho de serem encerradas pela falta de material, equipamentos e bolsas (que funciona como salário) para pesquisadores; os estudantes da UFMG Mariana Silva, 22 e Viviani de Almenida, 25, mestrandas, e Suellen Oliveira, 19, e Victor Melo, 23, alunos de graduação, têm suas pesquisas ameaçadas pela falta de verba. Folhapress/Alexandre Rezende

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Na UFSC, em Florianópolis, alunos e professores que comem no restaurante universitário sentiram os efeitos da falta de dinheiro até no cardápio. Mesmo mantida a refeição a R$ 1,50, a crise já aparece no prato do restaurante universitário .O estoque de alimentos diminuiu. O bife foi trocado por picadinho de carne; o frango, antes filé, agora vem desfiado. Ervilha e lentilha sumiram. Antes com frutas variadas, agora a sobremesa tem banana e laranja.. Folhapress/Giuliane Gava

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Desde agosto a crise afeta o cardápio do restaurante da UFSC, aberto em 1965. Situação similar acontece nos demais campi: Araranguá, Curitibanos, Joinville e Blumenau. Os espaços correm o risco de fechar até o final do ano. Folhapress/Giuliane Gava

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Em 13 de agoto, estudantes protestaram em contra o governo. Além dos contigenciamentos na área, o alvo dos protestos era o programa Future-se, proposto recentemente pelo ministro Abraham Weintraub. Folhapress/Eduardo Anizelli

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O Future-se, programa ao qual as universidades federais teriam a opção de aderir, permitiria a criação fundos imobiliários com imóveis para vender imóveis ociosos, constituição de fundos patrimoniais (para receber verba privada), além de cessão direito de nome (naming rights) e distribuição de prêmios por performance. Para críticos, o programa abre as portas para o governo subfinanciar as instituições e colocá-las a serviço dos interesses do mercado. Folhapress/Eduardo Anizelli

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Além da UFMG e da UFSC (foto), outras universidades também já sentiram o baque financeiro. A Universidade Federal do Sul da Bahia, com bloqueio de 36% dos 14,6 milhões, desligou o ar condicionado, cortou viagens acadêmicas e a compra de materiais de laboratório. Também estão sem ar condicionado as salas de Recife, Vitória do Santo Antão e Caruaru, da UFPE. Na UFMT, em 16 de julho, houve corte de energia em cinco campi, Cuiabá, Várzea Grande, Araguaia, Rondonópolis e Sinop, e na Base de Pesquisa do Pantanal. Folhapress/Giuliane Gava

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Os cortes do governo federal também atingiram o CNPq, agência federal de fomento à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico. Neste ano, o déficit é de R$ 330 milhões. Não haverá novas bolsas e projetos neste ano.. CNPq/

Comparações recorrentes que relacionam o percentual do PIB (Produto Interno Bruto) investido com educação não levam em conta os valores per capita —o próprio ministro Weintraub tem usado esse argumento para afirmar que o Brasil tem orçamento suficiente para a educação.

Em 2016, o país gastou cerca de US$ 3.800 (R$ 15 mil) por aluno do ensino fundamental, contra uma média da OCDE de US$ 8.600 (R$ 35 mil). No ensino médio, o gasto brasileiro por aluno é de US$ 3.700 (R$ 15 mil), quase três vezes inferior à média de países ricos, que registram US$ 10.200 (R$ 42 mil).

A baixa remuneração dos professores brasileiros, que geralmente representam a maior parcela dos investimentos em educação, é o que tem maior ligação com os reduzidos investimentos por aluno, de acordo com o relatório. Os ganhos de um professor de ensino médio no Brasil são 48% inferiores aos da média da OCDE.

O Education at a Glance mostra outros desafios de inclusão que também exigem investimentos no setor.

Apenas 8% dos jovens que se formaram no ensino médio haviam tido acesso à educação profissional no Brasil, o segundo pior índice entre os países avaliados. A média da OCDE é de 40%.

Os indicadores de educação infantil também são inferiores à média dos países ricos, embora tenha havido avanço nos últimos anos. A proporção de crianças de até três anos matriculadas em creche passou de 10%, em 2012, para 23% em 2017, segundo os dados apurados pela OCDE. Na média dos países ricos, esse percentual é de 36%.

Já as matrículas na pré-escola (de três a cinco anos) evoluíram nos últimos e chegaram perto do nível da OCDE. As taxas de escolaridade nesta idade passaram de de 60%, em 2012, para 84% em 2017 —a média da OCDE é de 87%.