A bahiana e onde se concentra a.maior população negra

A bahiana e onde se concentra a.maior população negra

Foto: Jota Freitas / Setur

O bairro da Liberdade, tradicionalmente considerado o maior reduto negro de Salvador, foi desbancado do posto após a divulgação do último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na capital baiana. Os dados apontam que a Ilha de Maré é a região da cidade com maior concentração de população negra – 92,99% dos moradores da ilha declararam ter pele “preta” ou “parda”. “Descobrimos, na verdade, é que em termos de proporção, a Ilha de Maré é quem está na ponta, é a zona que melhor se caracteriza como negra”, explicou o coordenador de disseminação de informações do IBGE, Joilson Rodrigues, em entrevista ao programa Acorda pra Vida, da Rede Tudo FM 102.5, nesta quinta-feira (29), dia em que Salvador completa 463 anos. Ocupam o segundo e terceiro lugar do ranking, respectivamente, os bairros de Fazenda Coutos e Rio Sena, no Subúrbio Ferroviário. Quando o parâmetro é o contingente populacional, no entanto, o título fica com Pernambués, onde 53.580 moradores se declararam “pretos”. Ainda na lista de “bairros com um contingente populacional negro muito expressivo”, segundo Rodrigues, estão Itapuã (52.206) e Brotas (49.804). No total de 2,675 milhões de habitantes da capital, 2,125 milhões são negros. “Salvador é, de fato, uma cidade negra. 79,45% de toda a população declara ter pele 'preta' ou 'parda'. A soma desses dois nos dá a ideia da negritude baiana ou soteropolitana”, diz. Os dados são fruto do último censo realizado pelo instituto, no ano de 2010.

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Bahia é único estado onde o número de pessoas que se declaram pretas é maior que brancas

Em 2018, uma em cada 5 pessoas que moravam na Bahia afirmava ter cor preta. Ou seja, 3.389.881 baianos se autodeclaravam pretos, representando 22,9% da população do estado. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta quarta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE).

Em todo o estado, o bairro do Calabar, em 2018, era o que concentrava a maior quantidade de negros.

Conforme o órgão, a Bahia tem a segunda maior população de pretos do país em números absolutos, logo abaixo de São Paulo (3.453.975), estado brasileiro mais populoso. A Bahia era ainda o único estado do país em que as pessoas pretas eram mais representativas na população em geral do que as autodeclaradas brancas (18,1% da população baiana).

Somando-se pretos e pardos (negros), chegava-se, em 2018, a 81,1% da população da Bahia (11,994 milhões de pessoas), segundo maior percentual entre os estados, abaixo e bem próximo do Amapá, onde 81,3% da população se declaravam pardos ou pretos, com forte predominância dos pardos (74,3%).

A bahiana e onde se concentra a.maior população negra
1 de 2 Para o IBGE, políticas afirmativas de cor ou raça contribuem para o aumento da população que se declara preta no país — Foto: Afrojob Para o IBGE, políticas afirmativas de cor ou raça contribuem para o aumento da população que se declara preta no país — Foto: Afrojob

No país como um todo, os pretos e pardos juntos representavam, em 2018, 55,8% da população (115,965 milhões de pessoas).

Além de ter a maior participação de pretos na população total (22,9%), a pesquisa aponta ainda que a Bahia foi também o estado em que essa representatividade mais cresceu no Brasil, tanto em relação a 2012 quanto entre 2017 e 2018.

Em 2012, os que se autodeclaravam pretos somavam 2.501.673 pessoas no estado (17,3% da população). Era, portanto, uma participação menor que a dos brancos (19,9% ou 2.873.069), em um estado em que os pardos eram maioria (62,1% ou 8.958.245).

De 2017 para 2018, o percentual de pretos na população baiana subiu de 20,9% para 22,9%, o que representou mais 308 mil pessoas que se autodeclaravam pretas no estado, de um ano para o outro. Em contrapartida, os brancos passaram de 19,2% para 18,1% da população baiana (menos 155 mil, em números absolutos), e os pardos caíram de 59,3% para 58,1% (menos 124 mil pessoas).

Entre 2012 e 2018, a Bahia foi o único estado em que população que se declara preta cresceu (+35,5%) ao mesmo tempo em que os números de pardos (-3,9%) e brancos diminuíram (-6,9%). No país como um todo e na maior parte dos estados, (em 17 das 27 unidades da Federação), as pessoas que se declaravam pretas e as pardas cresceram numericamente, enquanto o total das que se declaravam brancas diminuiu.

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2 de 2 Pesquisa foi divulgada pelo IGBE — Foto: Divulgação Pesquisa foi divulgada pelo IGBE — Foto: Divulgação

População de 14,8 milhões

Também no levantamento, o IBGE aponta que, em 2018, a população da Bahia foi estimada em 14.793.319 pessoas. Em relação a 2017, quando estimava-se que havia 14.730.620 moradores no estado, o número cresceu apenas 0,4% (mais 63 mil pessoas em um ano). Comparando-se com a população estimada em 2012 (ano inicial da PNAD Contínua), de 14.422.526, o crescimento foi de 2,6% (mais 321 mil pessoas).

Em ambas as comparações, a Bahia teve a segunda menor taxa de crescimento populacional dentre os estados, acima apenas das verificadas no Piauí (0,3% e 1,6%, respectivamente).

O ritmo de aumento da população baiana também foi praticamente a metade do verificado no país como um todo. Em 2018, a população brasileira foi estimada em 207.853.293 pessoas, 0,8% maior que a de 2017 e 5,1% acima da de 2012.

Roraima, Amapá e Amazonas, todos no Norte do país, foram os estados que mais cresceram, tanto entre 2017 e 2018 quanto frente a 2102.

Número de idosos cresce

Enquanto o total de moradores do estado cresceu apenas 0,4% de 2017 para 2018, a população de idosos, de 60 anos ou mais, aumentou quase 10% (+9,7%), passando de cerca de 1,9 para 2,1 milhões, o que representou mais 188 mil pessoas de 60 anos ou mais de idade em um ano.

Assim, em 2018, os idosos já representavam 14,4% da população baiana, uma participação razoavelmente superior à de 2012, quando as 1,7 milhão de pessoas de 60 anos ou mais representavam 11,9% dos moradores do estado.

Ainda assim, a percentagem de idosos na Bahia é menor que a média nacional (15,4%) e apenas a 14ª mais elevada. Em 2018, Rio de Janeiro (19,3% de idosos) e Rio Grande do Sul (19,0%) eram os estados mais envelhecidos do país, enquanto as pessoas de 60 anos ou mais de idade não chegavam a 10% da população de Roraima (8,3%) e do Amapá (9,0%).

17% dos domicílios têm só 1 morador

O envelhecimento da população baiana também está ligado a um outro fenômeno: o aumento dos domicílios unipessoais, ou seja, onde só mora uma pessoa, segundo o IBGE.

Em 2018, a Bahia tinha o 4º maior percentual de residências onde só vivia uma pessoa: 17% dos pouco mais de 5 milhões de domicílios do estado eram unipessoais. Nesse indicador, a Bahia só ficava abaixo de Rio de Janeiro (19,7% dos domicílios eram unipessoais), Rio Grande do Sul (18,2%) e Alagoas (17,2%).

Em números absolutos, 855 mil baianos moravam sozinhos em 2018, o que representava quase 6% da população do estado (5,8%). Era o 3º maior percentual de pessoas morando sozinhas, dentre os 27 estados brasileiros, abaixo apenas dos verificados no Rio de Janeiro (7,3%) e no Rio Grande do Sul (6,8%), os dois estados que têm as populações mais envelhecidas do país.

No Brasil como um todo, em 2018, 15,5% dos domicílios, ou cerca de 11 milhões de residências, eram unipessoais, o que equivalia a 5,3% da população morando sozinha.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira (28) dados sobre a população de Salvador. Entre os dados estão o bairro com maior população negra, com mais idosos e o mais populoso de Salvador.

A cidade tem mais de 2,6 milhões de habitantes. Para muita gente, o bairro de Cajazeiras, que tem oito etapas, é o mais populoso da capital, com cerca de 60 mil habitantes, segundo o IBGE. De acordo com a pesquisa, o bairro de Brotas é o mais habitado de Salvador, com 70.158 moradores.

Também contrariando o pensamento popular, a Liberdade não é o bairro com o maior número de negros da cidade. Em números absolutos esse título é do bairro de Pernambués, onde, de acordo com o IBGE, moram 53.580 pessoas negras. Ainda segundo a pesquisa, a Liberdade não está nem entre os cinco bairros com maior número de negros em Salvador.

Em parceria com um estudo coordenado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) , a pesquisa do Instituto desfez outro mito de Salvador, o de que a população da capital seria bastante jovem. No dia a dia, não é possível perceber muito, mas os dados do IBGE revelam que Salvador tem 30 idosos para cada 100 jovens com até 14 anos.

Muitos idosos que moram na capital baiana escolheram e podem morar em bairros como o Canela, no centro da cidade. Segundo a pesquisa do IBGE, o Canela concentra o maior número de pessoas idosas. São 184 idosos para cada 100 crianças de até 14 anos. No bairro da Vitória, que fica bastante próximo ao Canela, são 128 idosos para cada 100 crianças de até 14 anos. Na Graça, que também está localizada na mesma região, a proporção é de 115 pessoas idosas para cada 100 crianças de até 14 anos.

Esses são números exatos sobre a capital baiana. Segundo Joilson Rodrigues, coordenador de informações do IBGE, esses dados devem ser respeitados, nem que para isso seja preciso criar uma lei. “Nesse momento a nossa ideia é flertar uma referência válida para todos, ainda que preliminar, uma vez que ainda não exista uma lei competente para tanto, de modo que nós possamos agora ter insumos mais adequados para reivindicar e transformar a realidade”, afirmou.

O aposentado Nivaldo Cunha, 70 anos, pode até se considerar personagem desse estudo. Ele é morador do bairro mais populoso da cidade, Brotas. “Eu cheguei aqui em Brotas, até hoje estou e vivo bem, prosperei aqui dentro”, diz.